Marvel

Foram uns dias bem Marvelianos. Do imaginário juvenil de leitura, concretizei filmes de memória numa viagem de saudosismo e revivalismo super-heróico. A elevação da batalha entre o bem e o mal a um estandarte de vitória certa, permite sorrir da simplicidade de argumentos que não se querem bons, nem se quer se liga se estão lá. Não é assim que funciona o mundo dos comics transposto para o grande ecrã.

Se não tiverem sido acompanhados de um crescimento em quadradinhos, ansioso pelo virar de cada página, rendido ao movimento quase tocável do desenho, o mais certo é não gostarem de ver estes filmes. Mas, se da luz da vida tiverem sido iluminados, crescendo a lutar com eles, então o maravilhoso imaginário dos mutantes sorrirá de lembrança no vosso coração cinéfilo.

Ficam as imagens da última leva. Dois no cinema e um revisitado em casa. É bom partilhar trajectos de vida…




P.S. - E para provar que nem tudo é imaginário, partilho a ciência que está por trás dos super-heróis. Super Heroes – Science Exhibition

De Chocado

Devia de fazer confusão a todos
A gritante e chocante linguagem
Que de qualquer nobre faz pajem
Que enfia des a toda a hora
Como deve de ser, já agora
E arrepia o melhor da imagem

Li de uma jornalista e pasmei
Um deve de ser escarrapachado
Ouvi de um doutorado e pensei
Devia de fazer um apanhado?
Assim fiz da irritante razão
A luta de uma simples questão

Se de alguns se percebe motivo
De outros se choca o porquê
Da preposição que não se lê
Que de nada deve ao dever
Mas que insistem em escrever
Seja do morto, seja do vivo

Larguem os des meus senhores
Porque não há relação entre as partes
Deixem o dever sem de nas artes
Não inventem da língua horrores
Nem façam da escrita mutilada
A vergonha da fala arrasada!




O regresso do balde verde

Passadas que foram as inaugurações e as dificuldades, surge na neblina da semana o raio de sol tão esperado. O incompleto do ser, sentido na dureza da dificuldade está terminado e esquecido. Faço do acontecimento o momento e pressinto que no bairro das nossas vidas, a vizinha que se avizinha tagarelou e ficou.




Feliz do constatar difícil, proclamo ainda que a razão que acompanha faz-me sorrir das pequenas coisas que tive saudade. Os pequenos “ses” e “mas” do nosso quotidiano, fazem falta ao meu caminhar diário e ao meu levantar rotineiro. Ajudado pela escrita de esquecimento, fui fazendo da criativa palavra o refúgio do tempo.

Se senti falta do ribombar dos nossos canhões de planos diários, que dizer do concretizar das balas de ideias por eles deitados?! Senti da falta a esperança do regresso, e rejúbilo da alegria o fim da etapa!

Estou de volta!

Ao meio que me viu nascer, ao meio onde cresci e aprendi a respeitar o que nos rodeia. Ao meio que nos transporta para a levitação do sonho e para o pairar da certeza calma. Ao meio que nos envolve num abraço apertado. Ao meio onde o som é a beleza do silêncio. Ao meio onde todos somos um só no seu interior. Ao meio… e à ponta e ao centro e em todo o lado!

Ao meio onde me sinto, literalmente, como peixe na água!




Foi assim ontem à noite em Sesimbra. Foi assim que salvei uma semana terrível. Foi assim que me lembrei onde pertenço. Foi assim que voltei ao local de onde nunca devia ter saído. Foi assim que comemorei as voltas que a vida dá e que percebi que anda tudo ao contrário. Excepto esta posição que é a correcta…




Obrigado aos que me mostraram que o melhor do mundo é dentro de água. Obrigado aos que me acompanham e partilham esta paixão. Obrigado a todos os que sentem o mesmo que eu, pela sensibilidade que revelam. Obrigado aos que me ensinaram e me deixam partilhar.

E se da imagem faço palavra, da sensação faço felicidade. Porque acredito que o pleno da satisfação e do prazer pode ser, e é, atingido aqui. Continuarei na senda do sonho e jamais me afastarei tanto tempo, sejam quais forem as condicionantes. Se o bom filho a casa retorna, o bom peixe de casa não sai!







P.S.1 - E obrigado ao Carlão pelas fotos!

P.S.2 - E sempre uma estrela do mar por perto...



Saudador

Se a distância matasse, morria
Se a saudade doesse, doía
Se a vontade alcançasse, alcançava
Se a boa nova chegasse, chegava

Mas como a distância não mata, não morro
Mas como a saudade afasta, não corro
E como a vontade alcança, alcanço
E como esse dia vai avançar, avanço

Já baralho do cansaço a razão
Que tira do juízo a lucidez
Que apaga tudo de uma vez
Reconheço que é estupidez
E que o tempo acelera da ilusão
Aquele regresso que parece não






P.S. - Saudador - não é o que saúda, é o que tem uma saudade que começa a doer

1001 Profissões

Sou o antónimo do cavador. Cubro de salvação, a porcaria deixada. Sou um tapa buracos. Dos que eu abro, dos que os outro abrem, dos que nunca se fecham. Trabalho na sombra do silêncio e apareço na altura precisa em que o buraco é tal, que tem que ser tapado!

Pensando bem, sou bombeiro. Apago fogos de má vontade a toda a hora. Circunscrevo os meus incêndios, os dos outros e os que nunca se apagam. Trabalho no calor do fogo e apareço com a água necessária para o apagar. Refresco da convicção, o cheiro a brasa molhada.

Na verdade, sou canalizador. Vedo fugas de incompetência, ao longo do meu pingar. Fecho as minhas torneiras, as dos outros e as que nem têm rosca. Trabalho no canalizar molhado, do teflon que impede a fuga. Aperto porcas de raiva, no torneirar* da incompreensão.

Ou então sou um palhaço. Rio da superioridade de um truão, imposta no meio de tanta piada. Dou gargalhadas das minhas palhaçadas, das palhaçadas dos outros e dos palhaços inveterados. Trabalho no gargalhar da estupidez próxima, que alegra o colorir dos dias inacreditáveis. Que palhaçada!

Faço tanta coisa, que nem sei mas é o que é que ando aqui a fazer. Faço tudo o que ninguém faz e ninguém quer, não se sabendo que assim o é. Aparece feito e já está, não interessa como nem porquê. Procura-se o responsável, apenas se correr mal. É o problema de trabalhar nas zonas cinzentas, na dúvida sobra sempre para os mesmos!

Ainda um dia há-de ser valorizado…




* ( eu torneiro, tu torneiras, ele torneira…)

Um poema por dia




Um poema por dia
Faz-me rir na apatia
Faz-me ir onde não ia

Dá-me asas para voar no sonho
Muda-me o cinzento para azul risonho


Um poema por dia
Dá-me fome onde não comia
Dá-me luz para o que eu não via

Aquece-me do calor o coração
Faz-me do vazio o cheio do não


Um poema por dia
Solta da palavra o que não escrevia
Enche da alma o que já não queria

Faz da ida o saudoso voltar
Faz do regresso o sonho a alcançar


Um poema por dia
Aproxima do longe o que fugia
Afasta do medo a valentia

Dá-me da esperança o novo alento
Faz do escrever o melhor momento

Um poema por dia
Faz-me rir na apatia
Faz-me ir onde não ia

Distâncias


Sentidas
Sofridas
Vividas

Fazem da voz a emoção
Trazem do fundo imensidão
E do mínimo dão saudade
Se neste vazio nosso ecoa
Um suspiro que se apregoa
Parece ser teu de verdade



Criadas
Mareadas
Detestadas

Se do lugar faço lamento
E se respiro cada momento
Não faço da dor intenção
Porque da luva calço certeza
E da bandeira se portuguesa
Orgulho da ida emoção



Certas
Concretas
Discretas

Sinto no descanso da ansiedade
O deitar desta minha vontade
O silêncio de uma noite sozinha
Não faz da procura paixão
Nem alvitra confortos de razão
Mas é toda tua e toda minha



AUSÊNCIAS – 3 (Uns ficam, outros vão)

Arde-me o peito do vazio que sinto. A passagem fulminante que teve nas nossas vidas, deixou a marca do desalento e da esperança perdida. Tento levitar e olhar para baixo com a distância de quem está de fora para pensar que não é nenhum drama. E não é. Mas custa muito, lá isso custa! Foram 3 dias de ansiedade e luta por uma vida presa por um fio que acabou por se partir. Trouxe-me à memória um Tio, outrora ido, que da comparação não serve, mas foi mais um olho que se apagou…






Mas se uns vão outros ficam, e se a Blimunda Sete-Luas passou e marcou, o Baltasar Sete-Sóis está cá e respira saúde. Fizemos da companhia uma ideia e tentámos da boa acção fazer uma razão. Não quis o destino que assim fosse. Mas tentaremos de novo, na certeza de que o que fazemos, fazemos bem feito, e a preceito!





Curiosa a sintonia que faz desta sinfonia a procura de uma companhia. A dádiva de receber pode ser uma certeza, porque por vezes a comunicação não verbal ajuda a um entendimento noutras plataformas. Também o Caju e o Banjo, que fazem da irmandade vivência, passeiam alegremente pelas nossas realidades. Preenchem vazios em vez de substituições e ocupam o seu lugar próprio nesta história. A estes 5 amigos, deixo a certeza de que não me esqueço deles. Aos que ficam e aos que já foram!




AUSÊNCIAS - 2 (Hipopótamo André)

Na contenda do já referido afastamento, ficou por lavrar a homenagem das homenagens. A mais merecida de todas, a que merece o maior dos Bilhetes de Ida, a mais justa das mais sentidas, a ode de uma vida dedicada, a verdadeira aplicação do dar sem receber e um agradecimento profundo e gritado num silencio por tudo e mais tudo e mais tudo…
Obrigado por mereceres tudo o que sinto!

Quis o destino, que os nossos se cruzassem num turbilhão de emoções. Quem não sente… E se nós sentimos! Como seres de explosões cutâneas, explodimos da diferença a indiferença da igualdade partilhada e sofrida. Fizemos das calendas, o aqui e agora.
Obrigado por continuares a ser um porto seguro!

As certezas não faladas, são as que nos fazem dormir a sorrir. As minhas noites de sobressalto, já não foram porque estavas lá, uma vez e outra e depois mais outra. E ainda outra! Alicerçaste o meu caminho com a simplicidade de quem ama.
Obrigado por me teres apoiado!

Que estas linhas marquem do eterno, o alcance dos sentimentos nem sempre demonstrados. Se das datas não fiz fundamento, nunca é tarde para dizer que lamento. Parabéns! Por existires, por seres quem és, por tornares bonitas as vidas dos outros e por tudo o mais que nem consigo escrever…
Obrigado por me deixares agradecer!




P.S. - Não são as linhas que eu mais queria, embora muito sentidas, mas as obrigações familiares a isso me obrigam! Desvantagens da globalização…

AUSÊNCIAS - 1 (Bilhetes Pendentes)

E, afinal de contas, uma pessoa escreve para se divertir, para viver mais, para gostar de si mesma ou para que os outros gostem. *

Os afastamentos prolixos, motivados pelas férias, não permitiram a proximidade de um aparelho, com ou sem fio, que me permitisse a emissão de um Bilhete. Palpitei das veias a distância e mantive a muito custo, o pulsar fervoroso da vontade de escrita. Desperdicei muitas “inspirações” para emitir, mas guardei outras tantas que passo agora em bilhetes dados, à guisa de resumo temporal.

O Euro 2008 e a gasolina competem de mãos dadas na corpórea urde que nos faz correr ora para a bomba, ora para a televisão. Saltitamos emocionalmente de nenúfar em nenúfar, à velocidade de um golo de Ronaldo & os outros, enquanto somos carregados por trás - cartão vermelho directo! – pela Galp & as outras. Agora que até já somos campeões europeus, pelo menos da esperança, continuamos com Portugal cada vez mais no seu melhor!




Se da culpa se subentende responsabilidade, todos temos a cota parte da razão e dela mesma. No dia-a-dia do crescimento, sentimos a incompreensão da vontade e a dúvida da culpa. Mas afinal o que é isso da culpa?! Eu também não sei, na maioria dos casos, a não ser quando em determinadas situações “culpáveis” se consegue sem sombra de dúvida culpar o culpado. É que não é qualquer candidato a culpado que consegue tamanha estupidez! A não ser que o culpado seja eu…




P.S. - E Angola que fica tão longe...



* Arturo Pérez-Reverte, in O Clube Dumas

Nem sempre cor-de-rosa


Um verdadeiro murro de realidade. Trágico. Duro. Dá que pensar. Como é que cada um de nós reagiria na mesma situação? Eu acho que sei, mas na verdade só saberia se soubesse como é passar por isso.

Reservation Road – Traídos pelo Destino.


Um dia dizer que não


Parto na vingança silenciosa
A vontade de fugir, já idosa
Procurando no sonho da razão
A descoberta do lado de lá
A fuga de ficar por cá
E um dia dizer que não

Faço as malas da vontade
Procuro no fundo a verdade
Silencio revoltas de antemão
Abafo sonhos de partida
E mantenho promessa cumprida
De um dia dizer que não

Recolho vergonhosos sentimentos
De engolir desejos e momentos
Colho plantas no jardim do irmão
Apoio tristezas se me quiserem dar
Encaneço a viagem de um adiar
Sonho um dia dizer que não

Mas salto barreiras de vontade
E sorrio do sonho a verdade
De saber e querer razão
Para no acordar de um voltar
Sentir da força o pulsar
E um dia dizer que não!



Regresso à realidade


Pestes já passadas, fica sempre na chegada o intonso trinómio entre a viagem que termina, o prazer de regressar a casa e o desejo de nova partida. Tomadas as diligências de matar saudades e abafados os sentimentos de sofrimento distanciado, impõem-se o bulhão da labuta diária, aplacado pela certeza e a obrigação de que tem mesmo que ser.




A realidade cinzenta das obrigações, contrasta com o colorido do internacionalismo, da internacionalidade, e da alegria internacional da experiência vivida. Passadas as águas do sonho, está tudo na mesma apatia plúmbea e circular. Escondem-se os verdadeiros Eus na sombra tisnada da obediência não concordante e pelo aquiescer redutivo de quem não tem outra hipótese.

Envergonho a vontade que tenho em mim e não executo! Mandar tudo ao ar e partir atrás do sonho. Porque não? Medo do desconhecido ou facilidade da razão?! Sonho um dia dizer que não…