Nostalgias Sorridentes

- Olha, conheço este gajo! Falei-te nele, lembras-te? Foi meu colega de escola… é escritor… que giro! Já passaram tantos anos…

Orgulhei por contágio, aquelas páginas do Expresso do último Sábado. Afinal eu até conheço pessoas interessantes! Sorri da nostalgia dos tempos idos e do prazer pela constatação… ainda por cima escritor!

Confesso a minha ignorância literária e coloco a cabeça no cepo da cultura, com a promessa de leitura seguinte. E passo palavra. Palavra que passo! Fica aqui o último livro…



Prometo ainda opinar da sensação e exprimir conclusões espremidas em Bilhetes futuros. Começo hoje, a ler não a exprimir, e acabo depressa porque longa já vai a conversa.

Os passos do passado sempre nos visitam quando menos esperamos, para nos fazerem rir dos caminhos idos. Saudosos são os momentos de partilha e descoberta. Este até foi oferta, do acaso!

Já agora, ele também escreveu este… e este…






Fica a homenagem do "reencontro", o link aqui e ali ao lado e a certeza da partilha. O resto virá depois!


M18 – Contos Lúbricos II (ainda light)

Quando os olhares se cruzaram o arrepio nervoso de frio, aqueceu de vontade as rubicundas faces. O desejo cego por aquele corpo ainda vestido, transpirava humidade ardente pelo prazer do desconhecido.

O calor incontrolável de um pensamento sedento, obrigou a um abrir de pernas dentro de uma saia que se tornava cada vez mais apertada. A falta de cuecas, há muito retiradas em plena reunião, permitiu sentir uma brisa fresca naquele imenso calor interno. Num papel passado discretamente por baixo da mesa, anunciava-se esse mesmo facto. A sobrancelha levantada e o ligeiro sorriso malicioso, demonstravam com subtileza “quase” profissional um aceitar de vontades.

Afastados os opositores ao acto, numa finalmente terminada reunião, sofreram-se alguns passos ansiosos num corredor cheio de olhares inquisidores, atingindo o oásis no deserto da vontade sob a forma de uma pequenina sala onde só havia uma máquina de fotocópias.




O encontro de corpos desejantes, foi brutal, violento e ardente. As mãos procuravam tudo, num incontrolável rasgar de botões e tecidos. As partes semi-desnudadas começavam a confundir-se com as semi-vestidas. Abocanhavam-se desejos, lambiam-se vontades, mordiam-se actos, gritavam-se palavras surdas de paixão carnal numa lânguida partilha de ritmos.

Dois corpos com apenas duas pernas no chão, encontravam-se numa louca penetração assente numa máquina de fotocópias. A cada movimento voluptuoso de entrada via-se uma luz vinda do assento escaldante. As bocas cruzavam-se fervorosamente a acompanhar o ritmo libidinoso daquela dança de partilhas. As línguas fundiam-se numa só, enquanto os olhos abriam e fechavam ao sabor da curiosidade.

Cada passo ouvido no corredor, acelerava a vontade explosiva e fazia subir de tom a excitação do perigo. A eminência de uma entrada surpreendente, deleitava a procura rápida do atingir. O ritmo continuava, a luz também. O ritmo continuava… a luz também…

A conjugação de vontades excitadas, chegava ao fim num grito em uníssono abafado com as mãos, numa mistura de certeza e perplexidade. A loucura atingida a dois, era uma partilha apenas possível pela novidade e pelo perigo. Um vestir apressado e incompreensivelmente envergonhado, levou às únicas palavras trocadas:

- Chamo-me Pedro.
- Sou a Ana.

No chão jaziam dezenas de cópias de uma junção carnal a vários ritmos e intensidades. Divididas as folhas igualmente, viraram caminhos diferentes satisfeitos pela certeza de nunca mais se encontrarem.

Os Coristas

E no final um sorriso de satisfação pela hora e meia que passou. Que ternura, que vontade de chorar de alegria, que música!

Cheguei atrasado ao seu encontro, mas em boa hora o encontrei (obrigado pela sugestão!). Que maravilha de história. A música adormeceu na minha cabeça e ainda lá estava quando acordei.



Um filme para nos fazer acreditar e lembrar que a vida também tem momentos muito bons. Uma pincelada de ar fresco na cinzentude diária. É uma pena que filmes destes não tenham a máquina promocional hollywoodesca para fazer a divulgação bem mais merecida que em muitas outras situações.

Fica o meu modesto contributo divulgacional. Escever mais seria estragar. A ver sem falta!

Les Choristes

If brother, if… *

Se olho, paro. Se penso, avanço. Se ando, descanso. Se escrevo, penso. Se leio, olho. Se olho…

Se somos o produto da soma das partes numa adição desigual, se na matemática da vida ainda conseguimos multiplicar problemas e dividir questões numa subtracção constante… de tempo! E se ainda, e se tudo, e se também… então…




Se o se (partícula apassivante, locução conjuncional subordinativa condicional) se desenrola por acção nossa, somos intervenientes no acontecimento, somos escritores da nossa história, somos actores da nossa peça, somos pincelada da nossa pintura, somos nota da nossa música, somos barro do nosso moldar e somos letra na nossa palavra. Mas se o se ocorre pela conjugação do destino com o acaso, pelo soletrar da realidade com o que não controlamos, pelo verbalizar do que somos pelo que nos rodeia, então somos o resultado de um se calhar!

No palco dos nossos sonhos, o actor principal somos nós, SE quisermos!



* Steve McQueen no filme, Os 7 Magníficos.

O meu Zé Piqueno

27 anos passaram, desde o dia em que te vi pela primeira vez. Podia agora fazer uma daquelas descrições clássicas de como eras cabeludo e careca, magro e gordo, muito grande e nem por isso, cabelo preto e louro, como choravas muito e pouco, de como tudo e nada. Mas, a realidade é que não me lembro. Não faço a mínima ideia do como eras no dia em que nasceste!

Hoje, lembro-me que apesar da distância eu gostava de te pegar ao colo. Eras um bebé maciço (característica que te acompanha até aos dias de hoje) e eu tinha uma maneira desajeitada e nervosa de te pegar. Acho que tu gostavas.




Depois, tenho memórias soltas e nem sempre sequenciais do teu caminhar. Mais uma vez, fomos separados da convivência num abraço de destino aceite. Ao nosso crescimento foram roubadas horas e horas de presença e parceria. Não foi culpa de ninguém, mas foi culpa de todos os que não fizemos nada para que fosse de outra maneira. Não foi grave, mas foi entrave.

Mas a verdade, é que desse tempo distante sorrio na praia do riso cavernoso, caminho nas bochechas de buço infantil e acerto as mangas da camisa que vestimos a ouro. E só faltava mesmo sua celênxia o touro!... para rega!

Atravessado o deserto da nossa vivência, sentimos da proximidade o oásis da idade. O que também é natural, pois 7 aos 7 não é igual a 7 aos 27. Saíste miúdo na aurora da nossa partilha e voltaste adulto no crepúsculo do nosso crescer. Transformaste o nascimento de mais um, num marco de vida diferente. Fizeste de ti um homem bom e transparente (como poucos) e gosto de ti por isso. A sensibilidade quase infantil do teu adultíssimo ser, ainda comove as minhas manhãs de espectador atento e sedento. É por isso que anoiteço a rir da nossa cumplicidade!


Um abraço de Parabéns irmão!
Um abraço irmão de Parabéns!
Um abraço irmão, irmão! Parabéns!
Parabéns! Um abraço do irmão!
Irmão, um abraço de Parabéns!

Um abraço pelo irmão! Parabéns!
Parabéns pelo irmão! Um abraço!
(estas duas são para pendurar na galeria da modéstia à parte)






Água!! Por favor…

Preciso de água e só vejo terra. Seco da esperança a possibilidade pois nesta fase é só trabalho. Anseio da envolvência refrescante, a saudade da levitação e a certeza do local. Planeio a vontade do regresso, sem sucesso, e faço contas à impossibilidade. De verdade!




Deixei passar a janela de oportunidade e agora mais uma semana que começa. Que seca. E eu em seco! Ainda não apanhei do chão a energia diária que deixei cair nas férias. Refaço planos e desenganos, e espero que este mês passe…

Pior que tudo, escasseia o tempo para emitir Bilhetes. Mas Outubro virá e a escrita também. Até lá, navego ao sabor da maré… seca!

Just Words

(…)
Aviltar
Encanecido
Efabulador
Apócrifa
Setentrião
Anacronismo
Féretro
Rubicundo
Tisnado
Coetânea
Plúmbea
Incunábulos
Bulhões
Intonsos
Apóstata
Lansquenete
Aplacar
Mísula
Corpórea
Urde
Anábase
Esbirro
Prolixo
Epónimo
Palíndromo
(…)



The power of words

Palavras cantadas, escritas e suadas
Contos lidos, sofridos e vividos
Histórias amadas, contadas e pautadas
Livros de bolso, de mesa e de certeza

Orações, rezas e proposições
Orientam o sentido da palavra
Fazem da vida a mulher amada
Acalentam da esperança decisões





A força das palavras não tem igual no viver dos tempos. A palavra sempre foi e será a arma das vontades. Mudam-se uns e outros mas a palavra continua e enternece o significado da existência.

Podemos rir pelas palavras, chorar pelas palavras, matar pelas palavras, amar pelas palavras, sonhar pelas palavras, cantar pelas palavras, suplicar pelas palavras, regozijar pelas palavras, temer pelas palavras, sofrer pelas palavras, viver pelas palavras, querer pelas palavras, partir pelas palavras, decidir pelas palavras, carpir pelas palavras, ouvir pelas palavras, fugir pelas palavras, sentir pelas palavras, apenas pelas palavras, tudo pelas palavras, pelas palavras…

Apenas temos que dizê-las, lê-las, ouvi-las ou pensá-las! É esta a magia da simplicidade e a força do reconhecimento! Que momento!


The sound of words - I

- Cum catano, já viste?! Foram à tromba ó Cid!
- Ena pá, e ele?!
- Parece que pôs pomada!






M18* - Contos Lúbricos em versão light

Ultrapassada a barreira da necessária vontade, ficou espalhado no chão o outrora pudor. Os corpos livres de amarras e ávidos pelo arrepio do desconhecido, tocaram-se pela primeira vez numa amálgama de prazer e pânico. Afluíram aos poros ondas de prazer.

O cheiro a novidade tornava a respiração cada vez mais anelante. As palavras não tinham lugar naquela escuridão de descoberta, nem eram necessárias na imensidão da expectativa. Cada centímetro de conquista aumentava o bater do coração, já de si acelerado.




Enquanto as mãos dele percorriam com ternura a descoberta da sua pele, ela arqueava o corpo num emaranhado de arrepios cada vez mais pronta para o receber. Um perfume de mistério envolvia cada beijo quente e uma língua nervosa saltava barreiras de confiança. Quando tocou no seu mamilo a resposta foi pronta e imediata. A vontade latente era cada vez mais difícil de disfarçar e a receptividade cheirava a desejo.

Quando penetrou a humidade quente do seu interior, sentiu da carne o vigor da conquista e da envolvência a chama do toque. O rodopiar emocionante da partilha tornava cada investida embriagante. Cada movimento dançado oscilava entre o prazer, a descoberta e a conquista. A loucura da envolvência, aumentava de velocidade na escalada emocionante de suor partilhado e lágrimas ofegantes. A fundição de vontades no mesmo momento, uniu as explosões numa só.

Sorridentes do cansaço, adormeceram na tranquilidade da chegada num abraço descoberto à partida.




*M18 – Maiores de 18, não Mais de 18 que isso para mim já é muita confusão!



P.S. – Se deu para sentir um calorzinho sorridente, funcionou!


Miscelâneas

As palavras certas não ferem questões adversas, mas adversam palavras certamente questionáveis. Pensamos do gomo a casca sem saber do sumo a razão, pois então. Trincamos da vida memória na esperança de um final de vitória, que nos conte do sonho a história.

Plantei no jardim da razão a dignidade, sem sequer saber se era verdade, mas esperançado que do crescer se fizesse sentido. Depois de tudo cumprido, reguei intenções e esperanças.

Nasci da vontade do vento, sobre memórias sopradas na madrugada da esperança. Da vida fiz criança. Não outra vez, mas ainda. Senti na vontade comprida, a chegada curta, alguém me escuta?!

Fiz da escrita o herói da partilha, que maravilha. Sem saber ler nem escrever, leio e escrevo tudo o que passa. E se passa não engana. No entanto, senti do aperto membrana e da sombra pisquei pestana num abraço de azul alargado. Que achado!




Socorro, Polícia!

Cidadão: se pretende ser assaltado, se pretende ser sovado ou se pretende mesmo ser baleado, vá já à esquadra da PSP mais próxima e sinta todas estas emoções ao vivo, ou ao morto se não conseguir aguentar!

Por cada dois assaltos ou três sovas, ganhe a possibilidade de um baleamento totalmente grátis! Concurso aprovado pelo Governo Civil de Lisboa. Não acumulável com outras ofertas existentes.




Além disso, pode ainda vibrar com a emoção de permitir que o nosso Ministro da Administração Interna se lembre do assassinato de Lee Oswald (o homem acusado de ter morto John F. Kennedy) quando estava a ser transferido para uma prisão e se encontrava rodeado de dezenas de agentes do FBI.

Conclusão ministerial: se até nos EUA se matam pessoas nas esquadras, que dizer deste nosso cantinho à beira mar plantado?!

Obrigado Sr. Ministro, estou muito mais descansado assim!



P.S. – Os primeiros três baleados de hoje ganham ainda um magnifico leitor de DVD e o filme JFK do realizador Oliver Stone.




Cansaço

Extremo, sufocante, desgastante, irritante. Não mata mas mói, não dói mas cansa.

Nem tenho força para fazer o que mais gosto. Escrever. Mas já escrevi! Só que não dá mais.


Foi só mesmo para picar Bilhete…

Especialistas

Contratam-se porque o são pagos para o ser.
Exigem-se porque o sabem ser pagos para isso.
Querem-se para formar opiniões para contradizer.
Pedem-se emprestados para viabilizar soluções não usadas.
Consultam-se imperativamente para legitimar conhecimentos gastos.
Pagam-se as acreditações das especialidades unicamente para mostrar a consulta.

E depois?!




Depois, deixa-se que alguém que manda decida ao contrário daquilo que os especialistas disseram.

Afinal, para que é que queremos os especialistas se não os queremos?

Setembro de mudança

Nostálgico Setembro escrevente
Que do tempo já faz cinzento
Que da muda ainda faz saudade

Excitante Setembro quente
Que do mar ainda faz momento
Que do fim já faz verdade


Guardam-se campos e praias
Preparam-se metas volantes
Deixam-se calções e saias
Objectivam-se outrora pedantes




Setembro de ambiguidades
Que de Outono faz miragem
Que do Verão fez passagem

Setembro das saudades
Que do saber fez visagem
Que do futuro faz imagem


Expectam-se novos percursos
Trocam-se repousos e esteiras
Estudam-se ideias e cursos
Preparam-se saltos e barreiras

Instantâneos

Às vezes o trabalho dá para isto. São momentos diferentes e marcantes. Outros olhares para o mesmo espaço de todos os dias, e também de algumas noites. A perspectiva muda o sentimento e transforma o igual no diferente. Fico contente!







Manifesto do desejo

Amiga de todos os tempos, permite a liberdade da escolha e o prazer da descoberta. O poder que nos incute dá para pensar e reflectir, como se duas coisas se tratassem mas sendo apenas uma só.

Companheira de muitas viagens, transforma os sonhos em acções e as ideias em algodão. A cada sequência nova, surgem os acontecimentos em catadupa emocional. As palavras brotam do sentimento como pipocas estaladiças e preenchem de cor a cinzentude da existência.

Molda-nos o espírito e prepara-nos a mente para o jogo da vida. Aguça o raciocínio, fomenta a imaginação e a acuidade criativa. Mantém em alerta todos os sentidos e estimula o cérebro.

É bom, dá prazer e orgulha os autores pela criação como se de um filho se tratasse. Marca a nossa passagem rápida pelo mundo dos vivos, como testemunha do nosso pensar. Através dela, todos nos conhecerão melhor.

Senhoras e senhores: a Escrita!




A escrita é a ferramenta mais poderosa da arte de viver! Por isso, usem e abusem da sua utilidade. Usem-na em toda a parte, a toda a hora, sempre e em grande quantidade. Soltem as amarras do desejo e deixem voar a imaginação do que sentem. Escrevam até que o mundo se esgote e o tempo se acabe. E quando acabar escrevam mais um bocadinho!

Se

Movimentos partidos, conseguidos
Memórias tardias, fugidias
Momentos sentados, pensados
Monumentos estranhos, tamanhos

Se da alma se sente, não tente
Se do fundo se parte, olhar-te
Se da tona se vê, não crê
Se do corpo eu espreite, então dei-te




Sentimentos partidos, conseguidos
Sabores tardios, fugidios
Suores sentados, pensados
Saudades estranhas, tamanhas

Se da voz se sente, não tente
Se da vida se parte, olhar-te
Se da fuga se vê, não crê
Se do amor eu espreite, então dei-te



P.S. - Acompanha com a música 10 ali do Bilhete Sonoro

Reflexo (ões)




Rasgasse-me o peito perante a injustiça da incompreensão. As sequências de palavras ordenadas de certa forma magoam-me e deixam-me apreensivo na escuridão da dúvida. Penso no que pensava já ter pensado, sem querer pensar muito… prefiro sentir. Mas custa!

Certo, é apenas que tudo é incerto. É melhor não esperar, para não magoar e não pedir para não sentir. Mas é carpir! E se na espera se desespera, na esperança sempre se alcança. Mas cansa! No entanto, vale sempre a pena pela descoberta da coberta e pelo destapar do aconchegar. O melhor é não pensar!

Não faz sentido, mas alivia. Quem diria. Não afecta, nem altera. Faz parte. Os Bilhetes de descarga vão continuar a ser emitidos, não omitidos. Não são para chamar a atenção, são para aliviar a tensão. De resto… tudo como dantes!

E depois, há sempre alguém que morre. Fico triste…