Viagem Oposta

Na 3ª curva à esquerda, Ofélia sorria na cinzentude de Mário. O seu olhar vivo e brilhante ofuscava os olhos cegos de apatia de um Mário condutor. Estava bem disposta e notava-se que ria sozinha. Cantava alegremente sobre o silêncio sepulcral da condução de Mário.

Sempre se tinham conhecido assim, em pontas opostas. O que para si era branco de manhã, seria sempre preto na noite de Mário. Mas amavam-se. Aprenderam a viver separados pela diferença. Desde logo os gostos musicais: a amplitude do rock ao pimba de Ofélia, soava a estridente no gosto estritamente clássico de Mário. Nunca liam os mesmos livros e raramente viam os mesmos filmes.

Até os bancos do carro pareciam ter cores diferentes: o azul-bebé de felicidade de Ofélia, crescia ao lado do estofo preto adulto de Mário. Aquele carro de antíteses, seguia por uma estrada de dois lados: uma montanha cinzenta e fria, surgia na janela fechada de Mário, enquanto do outro lado a cabeça de fora de Ofélia, indicava o agradável cheiro a flores de esperança.

Toda a vida viveram naquele equilíbrio de forças. O yin e yang que pautava o seu amor, fortalecia a certeza que tinham que nunca seriam o que viam no outro. No entanto, era esse mesmo contraste que lhes dava tranquilidade e alicerçava a relação.

Em 20 anos zangaram-se uma única vez. Foi numa manhã fria de Inverno em que escolheram camisolas da mesma cor. Saíram à rua os dois de azul-escuro, e não voltaram a encontrar o fiel da balança, a não ser à noite quando despiram as roupas da concórdia e se entregaram como nunca antes!

Agora que faziam juntos a última viagem, sabiam que esta aparente alegria contrastante era inversa ao passado. Mário sempre fora o mais colorido nos monocromas emocionais de Ofélia. No entanto, os acontecimentos dos últimos meses tinham pintado a cinzento a sua palete de cores. Não conseguia disfarçar a dor que sentia, e ainda se tornava mais difícil entender toda aquela alegria de Ofélia. Sabia que devia juntar todas as forças em volta do desejo dela e tentar fazer daquela última viagem um sonho, mas simplesmente não conseguia… tudo era pesadelo!

O nó que apertava na sua garganta, não deixava respirar o seu pensamento e toldava-lhe o espírito da justiça. Estava a ser egoísta e tinha que fazer qualquer coisa! Parou o carro, saiu e olhando de soslaio para a montanha cinzenta do seu lado, deu a volta ao carro deixando-o de porta aberta no meio da estrada. Do outro lado Ofélia sorria de cabeça de fora, extasiada com a floral paisagem.

- Não me deixes! - Disse ajoelhando-se ao seu lado.
- Meu querido, não penses nisso. Leva-me a este destino sem pensar nos porquês. Vamos viver cada respiração desta viagem como se não houvesse mais ar!
- Não consigo suportar a ideia de ficar sem ti! Não é justo! Porque é que não posso ser eu a morrer?!
- Porque assim ficava eu a sofrer! Já viste bem o que estás a fazer por mim?! Vais ficar cá a comandar o barco sozinho e a sofrer na tua navegação. Queres maior prova de amor que essa?! Anda meu amor, leva-me que o tempo urge!

De volta ao inconformado destino do caminho, Mário chamou a si todas as cores de volta à palete da esperança e pintou de determinação a sua postura para o resto da viagem. Concretizar aquela viagem, seria a sua despedida de Ofélia numa prova de vida dada em vida!




Exercício de Escrita Criativa sobre contrastes. Condicionantes (por esta ordem): 1 – duas pessoas num carro; 2 – Paisagem/montanha; 3 – Passado/Destino. Tempo: 15 minutos pontos 1 e 2, mais 15 minutos ponto 3.

M18 – Contos Lúbricos V (porque está mesmo frio… e é sexta-feira!)

A sua inocência de vida, tingia-lhe a face de uma rubicunda vergonha. Será que se notava o desejo no seu olhar?! Tinha medo que a maneira lasciva com que os seus olhos tentavam atravessar aquela roupa, fosse denunciante logo no primeiro cruzamento fitado.

Correspondendo às suas súplicas fantasiosas, todos se levantaram e abandonaram a sala. Ficaram só os dois. Pela primeira vez na vida do seu desejo, aquela mulher endeusada na sua paixão, levantava os olhos na sua direcção. Aos olhos juntou o resto do corpo e caminhava para ele. A sua temperatura interna disparou em alarme geral e à excitação voluptuosa que já se via, juntou-se um nervoso incontrolável a cada passo aproximado.

A fantasia parecia estar a tornar-se realidade e já conseguia cheirar o perfume inebriante daquele ser escultural que já estava à distância de uma carícia. A ninfa dos seus sonhos de muitas noites, aproximou-se e sem uma palavra ajoelhou-se à frente da cadeira onde se encontrava nervosamente sentado, e arrancou-lhe de uma só fúria carnal as calças que tapavam todo o seu desejo. Com a mestria própria de uma vida de muitas experiências, engoliu languidamente todo o seu desejo erecto. Poucas investidas de boca depois, e já ele tinha o seu primeiro orgasmo numa explosão de espanto há muito contido.

Deglutidos desejos depois, e aquela mulher de sonho erguia-se à sua frente tirando toda a roupa de uma só vez, revelando um corpo maduro e carregado de desejo. Sentou-se sobre ele e esfregou-lhe os enormes seios (como ele nunca vira) na cara, ordenando que os lambesse avidamente. Ao mesmo tempo, a mão dela descia na busca do desejo dele, fazendo com que desaparecesse no seu interior. Os dois deram graças, pela juventude daqueles 17 anos novamente erectos.

Um ritmo imposto à força do desejo, rangia numa dança assente naquela cadeira enquanto se gritavam desejos surdos de paixão. Ela suplicava por mais velocidade e ele obedecia de vontade, numa entrega subserviente de quem não sabe. Pouco tempo depois, explodiam em conjunto num abraço suado de certeza.

Vestiram-se na velocidade de um silêncio, enquanto sorriam da vitória consumada numa partilha de vontade com muita diferença de idade. Ele sorria, enquanto pensava que jamais esqueceria aquela mulher e a sua primeira vez, quando a campainha tocou num estridente acordar de realidade:

- Então Ricardo, o teste?! Não fizeste quase nada!
- Desculpe Professora, nem dei pelo tempo a passar…


Café da Partilha - 3

Os maus ventos no canal financeiro afastam-me decididamente do meu café preferido. No entanto, uma ajuda de Natal lá permitiu mais uma magnífica incursão neste mundo partilhado.

Com os episódios que perdi pelo meio, não dei pela mudança de actores. Constatei, por isso, que as voluptuosidades salientes da Lena de Leste desapareceram (e a Lena também), o que origina nesta sequela a que a Rosa se faça acompanhar agora por um Roso Latino (que não sei o nome, mas como a Rosa também é Sandra não faz mal ao relato).

Discutiam estas duas almas da sapiência conjugal, questões sobre o amor numa partilha, como de costume, bem audível. Algumas pérolas apanhadas neste mar de preciosidades, seriam tão boas como: é preciso é que haja amor! Amor ao carro, à casa… (dizia ele). O problema é quando elas ganham mais e depois se fazem à vida e cagam (sic) neles! (rematava ela).

A meio desta erudição, entram dois indivíduos, tipo gajos, com umas vestimentas muito fluorescentes, tipo colete do carro mas de corpo inteiro, e aproximam-se do balcão pedindo num esfregar de mãos aquecedor, típico do frio das 9h da manhã que eram:

- Vai uma cervejinha?
- Tás maluco, a esta hora?! Quero um café com cheirinho…

Dirigi o meu olhar de espectador para o meu galão de menino (as coisas que eu bebo pela manhã!) e pensei em arrotar para dar um ar de macho mais ambientado, mas não consegui e continuei a mastigar a minha sandes de queijo (de boca fechada, o que também destoava!), também de menino, porque entretanto, já um deles pedira uma sandes de torresmo, mas como não havia, comeu um pastelinho de bacalhau!

São estes episódios que se perdem, por não comer fora mais vezes. Efeitos da crise…


The Sound of Words - V

(2 horas de atraso depois)

- O Chefe desculpe, mas houve um acidente e…
- Oh homem, não há problema! É preciso é que compense, hã?!



Porque será?!

Portugueses são dos europeus menos satisfeitos com a vida

As coisas que eles inventam… valha-me Nossa Senhora! Qual é a necessidade que têm de estar a desestabilizar as pessoas?! Estamos nós aqui tão bem no nosso cantinho. Não nos falta nada, não temos dívidas, não contamos os tostões antes sequer de pensar, não sentimos a inflação a aumentar, nem as taxas de juro, nem sentimos os salários na mesma anos a fio…

“Bem-estar subjectivo”, mas afinal o que é isto?! Ele há coisa mais objectiva que o bem-estar? Ou estamos bem ou não estamos! Que mania de manipularem a cabeça das pessoas. Um estudo… qual estudo?! Mas isto é que é estudar?! Se fossem mas é trabalhar, como às pessoas!

E o pior de tudo… é que escolhem sempre as estatísticas em que estamos em último. Porque é que não mostram as da sinistralidade nas estradas? Ou das taxas de alcoolemia? Ou das famílias endividadas? Ou da literacia e do analfabetismo? * Se há coisas em que somos bons, porque é que não as valorizamos? Francamente! Sempre a mandar abaixo, a mandar abaixo… por isso é que andamos infelizes!

Não nos valorizam!





* - Nunca percebi o que é isso do fabetismo anal… mas com estudos destes até tenho medo de perguntar! Deve ser mais uma das modernices da Europa para nos mandar abaixo!

Rouxinoooooool!!!!!!!!

De seu nome Natália de Andrade, esta graciosidade do canto nacional consegue de um só sopro vocal abanar os alicerces cançonetistas de uma nação inteira. Dona de vários êxitos consagradíssimos, destaco esta ode à passarada. Sobretudo à passarada em sofrimento! Ainda pensei no Amor Verde, mas eu também tenho um e não fui capaz de o defraudar. Eis o que acontece quando o rouxinol adoece…




Roubei a ideia ao meu amigo Eduardo, mas não posso deixar de divulgar esta pérola. Este tesouro tem que ser desenterrado do mais fundo dos anonimatos. Tem que se trazer à luz do conhecimento a sua existência e o seu esplendor lírico cançonetista.

Saga do Saco #3

TEXTO C (Relatório Policial)

Operação Saco Azul

Às 22h da madrugada de ontem, foi levada a cabo uma operação conjunta entre as forças da Polícia Juju (PJ), Polícias Santos Polícias (PSP) e Guardiãs Nuas dos Recantos – Brigada do Transformismo (GNR-BT).

A Operação Saco Azul foi o culminar de vários meses de investigação da força de intervenção especial das militares da GNR – BT com vista à cassação das actividades de transformismo ilícito do grupo de marginais conhecidos por Gang dos Bebés-Velhos. Esta brigada composta só por agentes femininas (espero eu!), incidiu a sua investigação nos mais suspeitos parques do país, após os misteriosos aparecimentos de sacos azuis transformistas. Esta investigação que começou em Felgueiras, culminou, como já foi referido, na acção interventiva de ontem, que ocorreu desta feita no Parque do Calhau em Monsanto.

Desenrolar da Operação:

21h 30m: Os primeiros agentes a chegarem ao local, foram o Agente Saraiva da PJ e o Agente Simões da PSP. Devidamente dissimuladas as suas presenças no local da operação esperou-se a chegada do prevaricador suspeito que se sabia, por escutas em infantários, ocorrer por volta das 22h.

21h 55m: A operação sofreu um revés inicial e esteve quase a ser abortada, quando o Agente Saraiva da PJ, disfarçado de banco de jardim, sentiu na pele, isso é no lombo, o pesar ofegante dos 150Kg do corredor nocturno, de ora em diante designado por Testemunha nº1. Perante a imobilização do referido Agente, debaixo de tamanha carga, pareciam goradas as possibilidades de uma rápida intervenção. No entanto, e graças mais uma vez à valentia destes agentes no terreno, foi possível levar a cabo os intentos da operação como se explica no parágrafo seguinte.

22h: O Agente Simões da PSP, disfarçado de arbusto, manteve a sua posição no terreno e aquando da chegada do prevaricador suspeito, que se sabia chegar em formato bebé, tentou atrair a posição deste último para junto de si. Embora soubesse da imobilização do seu colega agente, conseguiu que o saco (por acaso azul) ficasse preso em si, isto é no arbusto, atraindo assim o suspeito ao seu interior.

22h 30m: Como já era sabido por estas forças da ordem, o transformismo ilegal viria a ocorrer por volta das 22h35m quando o prevaricador suspeito, antes bebé, saía de dentro de um balão azul, antes saco, agora como velho (o suspeito, não o saco).

22h 35m 33s: É nesta fase da operação que se dá a rápida intervenção das agentes da GNR-BT (Agente Liliana, Agente Rute, Agente Ofélia, Agente Rosa Choque, Agente Matos e Agente Inha), devidamente fardadas, isto é nuas, que imobilizaram o velho, antes bebé, após o seu transformismo ilegal.

Notas finais: É de louvar mais uma vez, o bom desempenho de todas as forças policiais envolvidas, que só assim possibilitaram que mais um membro do referido gang fosse capturado após conclusiva prevaricação. Foi possível, ainda, recolher o depoimento da Testemunha nº1, que finalmente saíra de cima do Agente Saraiva, que teve que ser encaminhado ao hospital com lesões profundas nas costas, mais precisamente entre as vértebras L4 e L5. A este Agente se recomenda a atribuição da medalha (curiosamente) azul da Grande Ordem do Disfarce (GOD).

Ao Agente Simões se recomenda a medalha de Mérito Florestal por aguentar “arbustamente” o seu disfarce e à brigada da GNR-BT um louvor colectivo por mais um magnífico desempenho. Este louvor será procedido de um jantar de comemoração* em casa do Comandante da referida brigada, para atribuição de brindes e algemas de ouro.**


Lisboa, 25 de Novembro de 2008.

Comandante Gomes,
3ª Brigada da GNR-BT
(orgulhosamente único homem!)


* Excepção feita à Agente Matos que fica de serviço à esquadra, por não ter feito a depilação devidamente, como consta do código de conduta das militares da GNR-BT, artigo 2º Aprumos e Fardamentos, alínea 4c: Ostentações e Outras Pilosidades.

** É preciso esclarecer o mistério que envolve o transporte de equipamento policial por parte destas agentes, pois se nem um cinto usam…? No entanto, é de louvar o facto de surgir tudo no decorrer das operações quando é preciso, algemas, cassetete e arma pessoal.



Saga do Saco #2

TEXTO B (1ª pessoa)

Tenho que lá chegar… tenho que lá chegar! Nunca mais acerto com isto. Tanta mudança de corpo e nenhum me serve. Mas porque é que eu não ouvi as instruções com atenção?!

Se bem me lembro, diziam que tinha que ser de noite, num parque da cidade e para ter atenção à cor do saco que tem que ser de plástico (está visto que não têm consciência ambiental!). Já sei que não pode ser amarelo porque fiquei dentro de um corpo de mulher, verde também não porque saí bebé, vamos ver se naquele azul acerto. Afinal, tenho 20 anos e estou a gatinhar vestido com um babygrow, num parque nojento, atrás de um saco de plástico azul. Se ao menos o vento parasse.

Estou quase, maldito saco! Ainda bem que a esta hora não se vê ninguém… raios! Aquele gordo sentado com ar de morto vivo está a olhar para mim com cara de parvo. Queres ver que ainda se lembra de me pegar ao colo? O que vale é que parece ter um andar mais lento que o meu gatinhar.

Boa! O saco ficou preso num arbusto. Já tenho os joelhos em sangue, é agora!

Deixa cá ver se é desta: já estou cá dentro, dou 3 voltas enrolado no saco, declamo um poema, ponho os dedos no nariz, faço força e espero… espero… já me sinto a crescer… e a ficar mais velho… está a funcionar… finalmente, estou a crescer! Tenho cabelo, e barba!

(demasiado crescimento depois)

Espera, espera lá… estou a crescer de mais, a envelhecer demais… não!!! Saco errado outra vez! Será que tem de ser um do Continente? Os do Pingo-Doce são pagos… serão melhores?!




Saga do Saco #1

Mais um exercício de escrita criativa, desta vez em 10 perspectivas diferentes. Como condicionantes obrigatórias, o facto de ter que ser num parque, ter que existir um saco e ter que acontecer algo marcante. O resto é meia bola e força! Duração,15 minutos (+/-) cada texto. Deste escriba saiu assim:




TEXTO A (3ª pessoa)

Decidi parar porque já não conseguia mais. Sentia os pés na cabeça e os joelhos batiam um no outro a cada passada. Já era muita corrida para a minha barriga. Era a minha primeira noite de jogging no parque e eu estava sentado ofegante, 10 minutos depois de ter começado.

Enquanto lamentava a minha má forma, olhei para o lado e vi um bebé a gatinhar. Que horror, pensei, um bebé sozinho num parque às dez da noite?! Alheio ao meu pânico de adulto, o bebé continuava a gatinhar em direcção a um saco de plástico. Parecia decidido na sua tarefa de lá chegar.

Ordenei ao meu corpo que se mexesse, mas ele não fez nada, estava entorpecido da corrida e não houve reacção. Nisto, o bebé atingiu o saco e enfiou-se lá dentro. À medida que eu finalmente me conseguia levantar e me aproximava do saco, reparei que este estava a esticar, a esticar. Já não parecia um saco, parecia um balão.

Quando eu estava já ao alcance de um sopro, o balão rebentou e saiu de lá um velho!





CLUBE DE LEITURA – Próxima Escolha

Agora que atingimos o porto final nesta viagem literária, é chegado o momento de escolher a nossa próxima rota. Não tem havido muitas sugestões e por isso avançam as que já estão lançadas, com uma pequena alteração.

Em jeito de balanço, pode dizer-se que a participação dos membros é bastante activa, mas percebe-se que não se podem prolongar os comentários por várias semanas porque se vai perdendo o fôlego. Por isso, reduzo os futuros tempos de leitura a 2 semanas e no fim fazem-se os comentários ao livro todo.


1- A Trilogia de Nova Iorque – Paul Auster



2 – Ensaio Sobre a Cegueira – José Saramago



3 – o remorso de baltazar serapião – valter hugo mãe



Outras sugestões de leitura e/ou funcionamento são sempre bem vindas. Fica em votação, ali no lado direito, até dia 7 de Dezembro. Até lá, vamos comentando o Hotel Memória do João Tordo e vamos votando. Boas leituras!

Ducentésimo

Dois centos já sentam no assento do Bilhete! Foi de uma assentada e assinto que nem dei pela passagem. Assentei arraiais e criei um novo verbo no meu dia-a-dia: o Bilhetar! Bilheto para cima e para baixo, a torto e a direito, parvamente ou pior ainda, com imaginação ou talvez não, mas confesso que me sinto bilhetantemente bem nesta paragem.

Este vício de escrita compulsiva que me corre nas veias da criação, não me deixa afastar muito as emissões. Quando emiti o primeiro bilhete, pensei que seria apenas uma experiência nova que não teria muita continuação… afinal, criei um “monstro” que me come as bolachas da imaginação e me empurra nesta Ida todos os dias. Colo assim, na parede da criatividade o ducentésimo bilhete!




Aprendi escrita, aprofundei leitura, criei Clube e outras secções, deixei palavras aos milhões. Ouvi na rádio, li comentários, lancei poemas e outros abecedários. Contei visitas, dei música e sugestões, liguei para muitos e conheci ligações.

Por isto tudo, aos 200 ergo a minha caneta e bebo de um só trago as palavras que ela contém. O que for saindo sairá, assim me permita a vontade e a emissão imaginativa!



P.S. - Em jeito de comemoração, deixo uma prenda musical, roubada neste Project...


Simulacro

Nem dei por ele. Escondi-me a trabalhar antes de ser e quando saí já não era. No entanto, espalho com orgulho a notícia de como ele podia ter sido… aqui!

Nem vale a pena fingir que não se quer ler…





CLUBE DE LEITURA – Hotel memória #3

Terceira, e última, parte deste livro de estreia do Clube de Leitura do Bilhete de Ida. Agora que Tordo, isto é Ismael, termina a sua busca, chega-nos a primeira certeza: que pena chegar ao fim! Independentemente de qualquer análise ou opinião, este é sem dúvida um livro que deixa saudade e um ligeiro travo a lamento por não haver mais história.

Física e psicologicamente debilitado, o herói persegue a sua obsessiva procura por algo que não precisava procurar mais, a não ser por ele próprio. Esta viagem externa ao seu interior, quase lhe custou a vida e deixou-o marcado para toda. A leitura dos cadernos de Samuel e o desenrolar da teia…

Esta será a altura ideal para opinar a parte (terceira) e o todo. Quanto de autor se sente nesta “Memória”? Afinal, quem matou Fran Sakovski? O cruzar de histórias: o narrador e o fadista. Terá o final (co)respondido ao que se procurava?

Não perca a resposta a estas e outras questões, num Bilhete Comentado perto de si!






O Nosso Jardim

Domingo de emoções fortes levou-me à Casa das Metáforas para efectivar pela data o que já era de há muito sentido. Este simbolismo de entrar num espaço para dizer ao mundo o que nos vai na alma, não me é entendido no seu todo, mas foi encarado com a honra e o respeito que me merecem.

Feita da meta esta vontade, dei por mim dentro de um embrulho cinzento a ter que explicar num equilíbrio não forçado o que queria que soubessem. No estômago um nó tremendo, na cabeça ideias misturadas, no coração um sentimento certo e no bolso um papel que desembrulhei do mais fundo embargar da minha voz, para que soasse metaforicamente assim:


O nosso jardim

O F. nasceu na minha vida, como fruto de um ventre semeado de amizade por mim e pelos seus pais. Quando ele começou a germinar a sua existência, e a honra do convite se plantou, percebi que na minha árvore de vida, crescera um novo ramo só para sustentar esse mesmo fruto.

Agora que vamos tendo o nosso próprio jardim de cumplicidade, é com muito orgulho que rego o crescimento do F., com todo o acompanhamento que posso, com muita responsabilidade, dedicação e, sobretudo, com todo o amor por um filho que é também um pouco meu. Assim, a sua árvore vai sempre crescer ao lado da minha.

Sorrimos os dois, à sombra das nossas árvores e sabemos que os nossos galhos estão cada vez mais entrelaçados. O F. tem, e terá sempre na sua vida, a certeza de que as raízes do meu sentimento crescem todos os dias mais um bocadinho.

É por isso, que hoje, 23 de Novembro de 2008, lanço de novo à terra do nosso jardim, e perante todos e a convicção de cada um, as sementes dos meus votos de apadrinhar o F. neste crescimento que é a vida.


Ass: O Padinho





O resto da cerimónia foi num senta levanta habitual, enquanto as minhas pernas bamboleavam do nervoso já passado, e as velas se misturavam com as toalhas e as fotos.

Ainda confuso da mistura de sensações, fica a certeza de que tudo o que se faz dentro da nossa convicção merece ser gritado do mais alto sentimento. Bem ou mal, ficou o que me pareceu mais meu!

The Sound of Words – IV

(conversa de Índios)

- Grande Chefe da Lua… minha seta não espetar!
- Cara de Boi Sentado, tu ter de esfregar com esta poção dos deuses.
- E resultar?!
- Resultar! Ser próprio para seta mole!



Epígrafes

Da semana:

6 meses sem democracia, até se meter tudo na ordem!
Manuela Ferreira Leite (Momentos antes de se suicidar politicamente)


Do mês:

Há que ver a positividade no negativo da situação!
Carlos Queiroz (Depois de entrar para a história nacional por encaixar 6 sambas no repertório da selecção)


Do ano:

Estou cada vez mais alto e espadalofo!
Brunorix (Todos os dias ao olhar para baixo)


Guatarida (*)

Durante um mês na albergaria da Albergaria, temos duas inquilinas novas. Enquanto a saudade está do outro lado do mundo (literalmente e no sentido mais antípoda da questão), por aqui dá-se tecto e afecto.

Mãe e filha fazem da brincadeira partilha, numa amálgama de confusão e divertimento. Mas tudo a consentimento! Que não se preocupem os depositantes, que estes tempos passarão que nem instantes e os carinhos serão constantes.

Para que se confirme a declaração, aqui fica a prova da verdade (com a qualidade possível) numa tranquilidade distante e para conforto do viajante!






Depois deste bailado atapetado em notas de jazz, fica a certeza que o acolhimento é sorridente, como é por demais evidente, e que a partilha de brincadeira é verdadeira. Que se façam boas as viagens e que se volte a estas paragens, com o descanso da procura assente no lugar. As inquilinas estão bem e recomendam-se!


(*) – Guarida especialmente dada a gatos!

The Sound of Words - III

- Sinto-me burro, por isso deixei crescer a barba.
- Pelo menos é macia… parece feno!
- Pois. Feno, barba e tal…



CLUBE DE LEITURA – Hotel Memória #2

Animada troca de comentários largou do porto de uma primeira parte, rumando em mar calmo de opinião. Navegamos em direcção à continuação, na senda de agitar um pouco as águas da discórdia!

Depois da tareia psicológica (e da outra) infligida no leitor e no narrador no final da primeira parte, atingimos um capítulo de maior carga deambulante. O estilo do autor está adquirido, mas a distinção bem demarcada entre as duas partes, também se reflecte no desenrolar da escrita. Uma grande subida emocional e romântica da primeira parte e agora o levantar depois da queda. Algumas curiosidades se destacam e a trama enche de densidade o enigma.

Além de ser consensual, que não sabemos o nome verdadeiro do herói (embora continuem as referências a Melville, agora de Ismael passou a Bartleby), torna-se curioso o facto de não se perceber também a sua nacionalidade… ou será que se percebe? Outra curiosidade é o facto de esta parte acabar noutra tareia (esta bem mais violenta e com sequelas). Haverá uma ligação entre a violência sentida e a procura interna? E a externa…? Que sensações vos transmitiu esta parte por oposição/sequência à primeira? Que…? De…? Se…? Façam correr o sangue fervente nessas veias opinativas!





P.S. -Não se esqueçam das sugestões para a próxima leitura...

Fim-de-semana de livros

Em Domingo de resumo, concluo que a distância da ocasião que me levou a sul, me causou desnorte pela ausência de escrita e emissão de Bilhetes. Bendita, no entanto, a ida, pela vitória na prova (a continuar assim, ou a escala muda ou rebenta!), pelo descanso numa cidade adorada e pelo privilégio de mais uma magnifica experiência literária.

Ilustres desconhecidos, escrevem a sul, editando como gente singular numa qualidade de escrita que nem consigo quantificar. A última garantia de que assim é, foi dada na noite de Sábado no Pátio de Letras, em Faro, com o lançamento do livro Histórias Para Boi Dormir de Valério Bexiga. A erudição do popular, cruzado com um nível literário ao alcance de muito poucos e flamejado por um humor mordazmente invejável, fazem desta jóia uma preciosidade que deveria constar na biblioteca de qualquer leitor valioso. Ou não fosse de brilhantismo o exemplo:

“A Rosa Tronga, (sublinhou) é uma mulher de virtude (uma santa de Altar, é o que ela é!) que, com apropriadas benzeduras e um chá de cabelos, até de pedras é capaz de fazer “barrascos”. Não tem mais voltas a dar: o compadre e a comadre Bia dão as respectivas partes baixas destapadas a benzer, bebem o chá de cabelos que a Rosa Tronga temperilha e, quando dão por vossemecês, estão enrolados um com o outro, qual de baixo, qual de cima.”




Pena que os monopólios literários, privem a custo de 60% que todos tenham a possibilidade de ler estas maravilhas. Afortunados os que do acaso, fazem sorte na oportunidade de ler e conhecer TAMANHA beleza na conjugação da nossa língua.

Trezentos quilómetros depois e 24h mais acima, novo encontro literário com um menos desconhecido, mas também ilustre Paul Auster, que depois de uma ligeira e simpática conversa, teve a paciência de assinar 6 livros de rajada perante o olhar austero (bem ao estilo austeriano) do “controlador” que ia repetindo: 2 livros por pessoa! Só 2 livros por pessoa!




Fins-de-semana de cultura pesam muito nos euros, mas acrescentam em leveza o sorriso literário das paixões perseguidas. Assim, já conhecemos pessoalmente mais caras por trás das letras, mais heróis dos nossos sonhos! E isso, não tem preço...



Fim-de-Semana de filmes

A Arte de Roubar surge na onda febril nacional, que acompanha as minhas ultimas escolhas cinematográficas. Para um fã incondicional de Tarantino, exalto da loucura a constatação desta descoberta. Adorei!

Todos os pormenores cheiram a sátira de sátira. Até o facto de ver os nossos actores a "americanarem" na sua fala assenta na perfeição (e que leque surpreendente aqui se pode encontrar!). Acção, intriga, romance e gozo... muito gozo! Quase tanto, como o que me deu a mim a ver!

Pena que não se saiba, que não se ouça falar, que não esteja em mais salas...




Já antes aqui fora dito, que um livro é um livro e um filme é um filme! Quando um filme de um livro for tão bom como o livro que o filmou, algo vai mal no mundo da escrita. No entanto, este filme é muito bom pelo filme, mas a verdade é que a matéria prima era tão boa que era muito difícil fazer um mau filme. Que não se veja este filme, como um livro em filme, mas como um filme em filme baseado num livro fenomenal! Eu, gostei muito.

CLUBE DE LEITURA – Epítome e Informações

Resplandecendo de contentamento, verifico com gáudio que os andamentos vão num compasso agradável. Muitos comentários e vontade de comentar. Não se inibam de comentar comentários, de refazer outros tantos e de gladiar argumentos.

Relembro, que falamos da segunda parte no próximo dia 17 de Novembro (segunda-feira) e que seria interessante que fizessem comentários também ao funcionamento. Se acham que este modelo de discussão funciona, se o prazo de leitura é muito alargado, se era melhor ler o livro todo e comentar no fim, etc. Façam sugestões e críticas e tudo o que se lembrarem.

Temos que começar a votar no próximo livro. Por isso, vou lançar as minhas sugestões e espero que o façam também para poder abrir, o mais depressa possível, a votação ali na coluna da direita. Vou tentar escolher para votação os mais sugeridos nos comentários, se não houver nenhuma sugestão que se repita, terei que fazer uma selecção da selecção. Até lá, vamos falando sobre tudo o que for pertinente para um funcionamento muito próximo do ideal. Isto é só o arranque e pode melhorar! Saudações literárias!


As minhas sugestões (com repetições):

1- A Trilogia de Nova Iorque – Paul Auster




2 – Ensaio Sobre a Cegueira – José Saramago






3 – O Apocalipse dos Trabalhadores – valter hugo mãe


A minha Quinta

Na minha quinta, que não é feira – embora hoje seja –, reina a paz e a harmonia entre os sobreviventes do holocausto urbano, que empurrou os habitantezinhos das barracas para a congregação de cimento no topo da quinta. Agora, já podemos brincar todos juntos: os ciganinhos, os pretinhos, os branquinhos de segunda, os branquinhos de primeira… todos! Como o prato nº31 do restaurante chinês, Família Feliz!




Como eu adoro correr por aqueles campos fora e vibrar com a natureza, com a comunhão de estar vivo entre os habitantes da minha quinta. Umas vezes partimos vidros de lojas e paragens de autocarro, outras vezes graffitamos as paredes, outras vezes assaltamos as garagens para roubar bicicletas, outras vezes morremos afogados no lago, também gostamos muito das pizzas que tiramos aos meninos de vermelho que passam naquelas motas muito engraçadas… só não andamos aos tiros uns com os outros, como nas outras quintas, mas também ainda estamos a aprender.

Na minha quinta, os animais cantam. E cantam bem! Andava eu muito contente a brincar às drogas e à prostituição, quando encontrei um baú de recordações ao lado do campo de futebol (imaginem só o tamanho da quinta!). Primeiro, pensei em parti-lo todo ao pontapé, como fazem os meus amigos, mas depois decidi espreitar para ver o que podia aproveitar para vender. Lá dentro, encontrei este lindo disco…




Deve ser do tempo em que os animais falavam, ou melhor cantavam, porque esta porcaria tem mau som e é só barulho. Tou pa ver como é que passo isto para o meu mp3 novo, que achei (tenho a certeza que foi achado porque vi um miúdo à procura dele) à porta de um colégio que fica mesmo ao lado da quinta. A minha mãe, diz que na capa é o meu tio Artur (antes de ser preso) encostado à barraca da minha avó, momentos antes de partir a fuça à pu** da minha tia (como ele dizia), que é a que vai ao fundo com o outro gajo. Vou deixar aqui para todos ouvirem, as melodias da minha quinta!



BD – Amadora

Ansiava eu este acontecimento na espera de o saber iniciado, quando dei por mim a deixar que quase fugisse por entre os dedos. Pânico! Último dia e lá fui a correr, que nem bom português mas desta vez sem querer, para as 2 últimas horas de um festival que durou 17 dias!!

É verdade que tenho andado embrenhado noutros projectos que me têm afastado de alguns meios de divulgação, mas confiava no Expresso (que leio semanalmente) para me avisar. Mas ele não me avisou! ): Pelo menos que eu desse por isso. Estarei a ver mal? Apareceu num cantinho e nem vi? Ou não apareceu de todo? Não sei, mas embora pese o meu pseudo-afastamento pareceu-me que não teve a divulgação que merecia. Não fosse um aviso do Rei Leão e perdia a carruagem da BD.

Foi pena (sobretudo para mim), que só apanhei “restos”, bancas a fechar e nada de autores a autografar. Enfim, espero estar mais atento para o ano. No entanto, congratulo-me com o facto do António Jorge Gonçalves (com quem tive o privilégio de trabalhar e que me ofereceu um exemplar) ter ganho o prémio de Melhor Desenho para Álbum Português, com o álbum Rei que tem argumento do Rui Zink. Parabéns!



Palhaço!!!

Perdoem-me o tom revoltado da escrita, mas por vezes é difícil conter a indignação perante a estupidez e a presunção. Introdução volvida, passemos à acção.

Personagens: um português, um australiano e um americano.

Enquadramento: o português alugou um equipamento ao australiano (e foi com ele que assinou um contrato). Esse equipamento tem um software desenvolvido pelo americano. Para funcionar em Portugal tem que ser traduzido. Por isso, o português recebe do australiano a versão inglesa, traduz e devolve em português para o australiano enviar ao americano, que integra no software a versão portuguesa.

Busílis: A versão portuguesa chegou ao americano em Julho, para possibilitar que o equipamento estivesse a funcionar em Outubro, Tal não aconteceu, e o equipamento leve já 7 semanas de funcionamento (com público a pagar), apenas em inglês!

Resultado: O português foi enviando e-mails ao australiano (como parte contratada) a perguntar quando é que estaria pronto, a falar dos prazos, e que era para ontem e afinal nem amanhã, e outras lamentações do género. Até que, HOJE chega um e-mail do australiano (reencaminhado do americano) com o novo software.

Indignação/Revolta/Estupefacção/etc.: Como o e-mail recebido tinha sido reencaminhado, podia ler-se o que o australiano escrevera ao americano e a respectiva resposta...

Australiano: Dear… (se fosse eu a escrever aqui punha Filho da ****!) para quando o software? Os portugueses estão a ficar preocupados.

Resposta da besta: Dear… diz-lhes que não se preocupem, afinal temos um Presidente novo!!!

WHAT THE FUC*??!! Alguém me explica o que é que tem a ver o presidente com o atraso? Será que temos a honra de ter um software desenvolvido pelo próprio presidente dos EUA?? É que assim eu percebo que ele não tenha tido muito tempo, com a campanha e tal… Mas quem é que estes gajos pensam que são?! Pelo meio da explicação, a Besta ainda diz: eles (que somos nós os portuguesinhos) que arranjem alguém com competências para trabalhar em Windows! (Ca filho duma ganda… americana!!)




Claro que aqui o tuga, ferveu o seu sangue luso e devolveu a resposta ao australiano agradecendo o envio (apesar do atraso), mas com cópia para o americano onde se podia ler em nota de rodapé:

Besta: Será que podia pedir ao seu Presidente novo, o favor de passar aqui para explicar aos visitantes portugueses o porquê de termos um software (pago por nós) com 7 semanas de atraso?! (tudo verdade excepto o nome da Besta!)



P.S. – Obrigado… estou mais calmo!

CLUBE DE LEITURA – Hotel Memória #1

Sem grandes delongas opinativas, começam aqui e agora as primeiras conversas de partilha literária do Bilhete de Ida. Opto por não manifestar no post as minhas opiniões, para ter hipótese de o fazer também nos comentários (Bilhetes Comentados), tal como qualquer outro membro do Clube.

Este post vai ficar no "hall" do Clube 24 horas, mas sempre que quiserem explorar o "resto da casa", basta clicar nos links ali da barra lateral à direita. Podem comentar sempre que quiserem, tentando só falar da primeira parte esta semana.

Lanço algumas questões que podem ter interesse para explorar e para iniciar as hostilidades: a crítica parece ser unânime em referir que há autores que influenciam a forma e o estilo da escrita de João Tordo. Se notam isso, que autores vos sugere? Poderá ser considerado um autor romântico? Que choque provoca a crueza da morte de Kim acabando com um amor que mal começara? Que expectativas levanta esta primeira parte em direcção ao final do romance? Será esta parte sugestivamente fatalista? Sentem aguçada a veia do mistério? Que tipo de narrador podemos sentir? E as personagens, que caminho seguem?

Estes são apenas alguns exemplos do que podemos comentar. Escrevam das vossas sensações, pensamentos, ansiedades, expectativas e tudo o mais que aqui couber. A que vos sabe este romance? Façam-se ouvir e opinem. Opinem até à exaustão das ideias. Venham elas!



Call Girl

Expectantes momentos, de há muito devidos, aguardavam o visionamento deste filme, uma semana depois de termos conferenciado, noutro contexto, com a protagonista principal e um dos argumentistas.

Um filme a não perder, na linha do melhor que se fez na língua de Camões (que mesmo só com um olho também devia ter gostado, concerteza, de o ter visto), a cheirar a argumento made in hollywood, com acção, suspense e muito sexo. A revelação de uma sex-symbol que juntou ao já conhecido facto de ser uma actriz boa, o facto de ser uma boa actriz. A confirmação de grandes actores como Nicolau Breyner (que bom que ele é nestes papéis, em vez de querer insistir em fazer rir), Ivo Canelas (muito bem), Ana Padrão, Joaquim de Almeida (nunca o tinha visto juntar o habitual papel de mau, à homossexualidade) e outros mais e outros menos.




A história, sem ser um achado, tinha as condicionantes q.b. para nos prender ao desenrolar da trama, com bastante veracidade nos diálogos (afinal, é com calão vernáculo que se fala nestes meios), ausência de tempos mortos e ousadia nas cenas. Gira em torno da Lady e não surpreende no final, mas também é verdade que se chama Call Girl e não Call Bad Guy ou Call Mayor, por isso termina como devia.

A ver, sem o preconceito de que para filme português até não está mal. Não foi por acaso que foi o filme nacional mais visto de sempre. É bom e recomenda-se!

BILHETE vestido para matar

Este Sábado trouxe uma capa de mudança no visual aqui do Bilhete. É apenas para evitar os fortes ventos laterais e o frio de escrita que se avizinha, não vá a monotonia constipar-se. Foi só um liftingzinho de Inverno para manter a temperatura de ontem.

M18 – Contos Lúbricos IV (mais uma sexta que se aquece)

Daquela camada pictórica, só conseguia apreciar os contornos dos corpos nus. A cor, a luz, o motivo, não lhe interessavam. Apenas os corpos. Quase como se de uma cena pornográfica se tratasse. A galeria estava quase a fechar e não conseguia desviar os olhos daqueles dois corpos femininos, que se entrelaçavam num bailado de erotismo artístico.

Sentiu um calor imenso a percorrer-lhe o corpo e uma dilatação incontrolada de todos os poros da vontade. Os seus seios rijos de prazer, pareciam querer furar a fina blusa de linho excitado, numa tentativa de romperem as barreiras da convenção. Do seu interior, escorria uma gota de prazer ansiosa de contacto. O tempo passava, a vontade não. Mais ninguém na galeria.

Sem aviso prévio, as luzes apagam-se ficando apenas um foco a incidir no quadro. A escuridão circundante aumentou o prazer do sonho e não conseguiu evitar que uma das suas mãos tocasse ao de leve o interior da blusa que cada vez mais se parecia querer desfazer. Num descontrole total do local, sentiu a outra mão desgovernada a descer pelo seu ventre em direcção a uma humidade chamativa. Aumentava o ritmo do toque e a pulsação da loucura. De pé, em frente a um quadro, entregava-se ao seu prazer despreocupado, sabendo que já não devia estar só. Esse pensamento parecia aumentar o nível de excitação.




Respondendo ao seu chamamento dançante, duas mãos fortes vindas de trás, agarraram com força os seus seios que gritavam por mais. Algumas palavras sussurradas ao ouvido, permitiram que toda a sua roupa abandonasse o seu corpo, como que por vontade própria. Não tirando os olhos do anestesiante quadro, sentiu nas costas um corpo nu que se esfregava em súplica lasciva. Segundos depois, era penetrada com volúpia numa violência pedida em gritos de prazer.

Trocados os papéis, eram agora os corpos do quadro que olhavam com inveja para aquela conjugação de casal. A fúria penetrante daquele viril membro, fazia da loucura interior o tempo esquecido. Ao compasso dos gritos roucos, sentiu os cabelos a serem puxados para trás numa cavalgada desenfreada. Estava quase, estava perto do auge e não queria que acabasse. No entanto, algumas investidas depois, explodia num orgasmo gritante pintado às cores que não via no quadro.

Ofegante do suor quente e do pensamento que ainda prazeria, sentiu aquele corpo a abandonar o seu sem uma palavra de despedida. Sorriu na satisfação do desconhecido e ajoelhou-se sobre a sua roupa que jazia inerte pelo chão.




Algumas pinceladas confusas depois, estava de novo a olhar para o quadro, já vestida e na mesma posição de admiração inicial. Ouviu uns passos atrás de si, e uma voz que não queria incomodar e que soava a muitos anos de vida, disse baixinho:

- A senhora desculpe, mas já fechámos há mais de 30 minutos. Como estava profundamente embevecida pelo quadro deixei-a ficar mais um pouco, mas agora tenho mesmo que fechar tudo.

Aquiescendo envergonhada, dirigiu-se para a saída dando uma última passagem na memória daquela imagem. Os seus olhos pararam pela primeira vez na legenda que estava na parede:

Visões nuas e inebriantes




Cartas de um invejoso

Caro amigo Zafón,

É com grande admiração que lhe escrevo estas linhas, alguns minutos depois de virar a página 568 do seu último romance “O Jogo do Anjo”. Arrepiado, ainda, da emoção mais recôndita da minha alma que me fez ler de manhã à noite (literalmente), passando pelas horas de almoço, não consigo deixar de lhe transmitir estes sentimentos.

A subtileza enraizada no cruzar de enredo com o outro, também magnífico, “A Sombra do Vento”, a pureza da imaginação comparada em cada descrição que me transportou a todos e a cada um dos locais da história, a imaginação desperta na criação das personagens, o forte sentimento que envolve cada um deles, a continuação de um livro que fala de livros e escritores e leitores, a genialidade continuada do cemitério já conhecido, e tudo o mais que me fez sentir dor na distância da leitura, perfazem deste um dos livros que almejaria um dia escrever.

Sinto no âmago da inveja, a pontinha de sorte pelo privilégio de ter lido TAMANHO romance. A minha biblioteca de experiências lidas, acabou de ganhar mais um brilhante volume que ficará na vitrina das edições especiais, aumentando esta colecção que ficará para Sempere na minha memória.

Do meu mais prosaico português vernáculo, só me resta dizer: Cum catano Carlos, ca ganda livro, pá!


Despeço-me com elevada estima, consideração e mais alguma inveja.
O seu estimado leitor,

B.






Yes, we can!

Estamos no acordar, ainda ressacado, do dia mais importante do ano. Um dia que se quis histórico para a humanidade em particular, para os portugueses em geral e para mim no sentido mais lato do termo lato. O dia 4 de Novembro de 2008, ficará marcado por 3 acontecimentos, a relatar por ordem de importância:

1 – Um pontapé que vale 10 milhões de euros, colocou o Sporting pela primeira vez na história mundial, nos oitavos de final da Champions League. Uma batata redondinha que fez soar um bruá de admiração, ecoou nos atónitos fans de futebol desde a Ucrânia até às Américas, passando aqui pelo local do disparo do Ninja. Olhando para o mapa mundo do acontecimento, pode compreender-se a repercussão global do efeito: gelou ainda mais o leste porque foram os abatatados (apesar de metade da equipa comer picanha e feijão preto), aqueceu os corações verdes de alguns tugas esperançados e ainda atravessou o Atlântico numa noite em que de lá se esperava com ansiedade este resultado. Consta que por aqueles lados, se desfraldaram estas mudanças, tal foi o impacto…




2 – Pela primeira vez na história da literatura portuguesa, é editada uma colectânea de contos policiais, da autoria de 9 bravos e destemidos detectives escritores. Esta forma de escrita, injustamente apelidada de parente pobre do romance, vê nascer assim ecos de esperança, numa noite que já era de impactos.

Ainda verde da euforia do ponto 1, congratulei-me pelo bom hábito português de começar tudo 45 minutos depois da hora prevista, e não perdi quase nada do lançamento. Felizmente que noves fora nada não se aplicou e dos 9 estavam 5 (os outros estavam de certeza a comemorar a vitória do Sporting), mais o coordenador da obra (Pedro Sena-Lino) e, por isso, ainda pude desfrutar dos apalavrados discursos de intenção policial do Rui Zink, da Dulce Maria Cardoso, da Mafalda Ivo Cruz, do Ricardo Miguel Gomes e do valter hugo mãe. Que bem falaram e autografaram o nosso exemplar!



3- Finalmente, e nitidamente, o acontecimento de menor impacto mundial: o Quénia proclamou o 4 de Novembro como feriado nacional. Tudo porque, o filho de um filho da terra ganhou umas eleições no país dos racistas! Segundo consta, parece que até estão a pensar mudar a residência oficial para Casa Preta! Eu não sei, mas eu cá desconfio... parece que ainda lhe dá uns toques arábicos… hum, cheira-me a tiro! Ainda vai dar mais um conto policial. A ver vamos!



The sound of words – II

- Tou co reumático todo empanado!
- Epá, escreve um “N” num papel e dá-lhe muitas voltas!
- E isso tira as dores como?
- Não sei, mas ouvi dizer que o melhor pós ossos é voltar “N”!




Que vale?

Daniel caminhava pela estrada da vida, quando uma dúvida de rumo o submeteu ao pensamento. Sentou-se numa pedra e, perante a dureza do assento, olhou para trás duvidante. Pensou em voltar ao tiro de partida, mas sabia que uma bala disparada jamais volta à arma.

Ficou dois dias ali sentado, ao sol e à chuva. Levantou-se muitos pensamentos depois, e ainda receoso da direcção, decidiu continuar. Foi colocando um pé em frente do outro, alternadamente, mas sem a convicção da passada certa e partiu na busca do sonho.

Quando chegou ao lado de lá do que lhe parecia certo, espreitou o vale da tranquilidade e pensou que era ali que gostava de construir uma casa. Os alicerces do seu sonho teriam que ser enterrados naquela terra de esperança. Ergueria ali um abrigo megalómano para marcar bem a sua certeza e para que fosse visto de todo o vale.

Sentou-se numa rocha, e perante a dureza do assento, abanou ligeiramente a sua convicção e pensou que uma casinha mais modesta também serviria os seus intentos de procura de paz interior. Pensou, pensou, pensou… e levantou-se. Aquele vale já não lhe parecia assim tão perfeito. Atalhou pelo monte seguinte e virou na segunda certeza à esquerda, desembocando no vale da felicidade. Agora sim! Era aqui que ia ser a sua casa!

Sentou-se num penedo, e perante a dureza do assento, deu duas voltas ao pensamento, levantou-se e seguiu caminho. Andou, andou, andou e ainda andou mais um bocadinho. Depois de tanto andar chegou ao vale que não vale nada. Inóspito como só podia, não lhe urgia de vontade a construção. O único lugar agradável de todo o vale, era um pequeno monte de erva fresca e fofa. Sentou-se, e perante a moleza do assento, nunca mais se levantou. Nem construiu. Nem andou.




Muito anos depois, levantou-se e voltou a andar. Nunca construiu, mas decidiu escrever nos limiares da memória tudo aquilo que viu. Pegou na sua caneta de sonho permanente e escreveu nas asas do vento:

Daniel caminhava pela estrada da vida…

Ah!!! Então era isso…

Domingo de teatro, que gosto muito e devia ir mais vezes. A proximidade com o suor da representação, torna a viva a história que ouvimos e transmite o cheiro da realidade que ali se ficciona. Às vezes até os latidos são reais (como neste caso). Gostei dos actores, parabéns ao Bando. No entanto…



Confesso que ainda não li o Jerusalém do Gonçalo M. Tavares, embora esteja na pilha de desbaste que mora na minha mesa-de-cabeceira, mas chego lá para a semana. Apesar disso, e como bom português deixei para o último dia em que estava em cena, e fui para ver como era. E como foi?! Ganda cena!

Não sei… não percebi! Entendi a espaços a história, mesmo quem leu o livro não percebeu muito mais do que eu, não percebi o cenário (embora se confundisse palco e plateia de uma forma original), nem o cão (que me parecia de quando em vez aflito, o que me deixava ligeiramente incomodado), nem a iluminação (que entrava pela mesma porta que nós), nem a velhota (que saiu a meio e que só percebi não fazer parte do espectáculo quando vi uma funcionária atrapalhada atrás dela). Fico frustrado quando a cultura me é inatingível e quando me sinto burro na compreensão do que vejo (ainda por cima aquilo nem era palha era engaço!).

Felizmente, existem recursos à nossa disposição e algo mudou no meu entendimento depois desta crónica. Assim, sim! Já percebo mais qualquer coisinha… pelo menos teve o condão de aguçar o meu apetite pelo livro. Só por isso, nem tudo foi perdido e ganhei uma leitura mais atenta!

CLUBE DE LEITURA – Início da aventura

Inequívoca que foi a vontade dos passageiros leitores, em escolher o Hotel Memória do João Tordo (66% dos votos) para iniciarmos a viagem do Clube, aqui ficam as questões de índole prática:

- Até manifestação de todos em contrário, vamos marcar encontros semanais (às segundas-feiras) para analisar, discutir, comentar, criticar, sugerir e tudo o mais que surgir.

- No caso deste livro, vamos usar a divisão que o autor fez do mesmo em três partes. Assim sendo, vamos começar esta semana por ler até à página 74 (“Os Primeiros Tempos”).

- Fica marcado para dia 10 de Novembro (segunda-feira) a emissão do primeiro bilhete post(al) sobre esta primeira parte. A partir daí podemos esgatanharmo-nos todos em gladiações opinativas através do Bilhetes Comentados.

- Até lá, sintam-se livres para opinar em todas as direcções e sentidos. Apesar destas linhas directivas, aqui não existem regras imperativas. As regras, serão feitas por todos nós ao longo do caminho.


Observações finais:

Como não sei os ritmos de leitura de cada um de nós, opto por escolher esta periodicidade, por agora, até sentirmos que é curta ou longa de mais, ou até mesmo que é a ideal.

Não se esqueçam de ir sugerindo obras para a próxima leitura. Podem ser das que já foram a votação, outras do vosso agrado, outras que pareçam fazer sentido ler em conjunto e partilhar ou até que não façam sentido nenhum, mas simplesmente porque nos apetece. Vou tentar ser o mais democrático possível na eleição das obras para votação.

Façam ouvir a força das vossas vontades, escrevendo sobre tudo o que vos pareça ter lugar aqui. O que está bem, o que está mal e o que nem por isso. Ler e calar é que não! Opinar é sinal de estar vivo. Vivam este Clube com emoção literária!

Termino deixando esta prenda de incentivo que o João Tordo nos ofereceu, fazendo votos reforçados, que também ele possa vir dar opinião sobre as nossas opiniões.


aTORDOado

ATordoado


“Cavalo à Solta” escolhido em acordo
Galopou em campo familiar
Fomos gomos de um fruto Tordo
Lemos claro no partilhar
Sentimos notas de vivência
Cantámos passos de experiência

Se d` “As 3 vidas” uma eu bordo
Em noite de um também Ary
Foi “Tourada” de um bicho Tordo
Que (en)cantou memória que ouvi
Começou o filho, seguiu-se o pai
Certos que o erguido já não cai

E quando direito escrevo Tordo à esquerda
Faço de Abril memória de poema
Para cantar num livro sem prantos
A eternidade desse grande dos Santos
Em qualquer noite e sem problema

E se dos poetas reza a história
Dos que cantam ficam visões
Somos filhos do “Hotel Memória”
Presos na escrita da vitória
Dos que lutam e ganham canções


(Re)Encontro (En)Cantado

Na perspectiva de um empolgante reencontro, desloquei a minha ansiedade até este convite marcado. Não dei por goradas as minhas expectativas e recordei sorridente uma voz que não ouvia já há 17 anos. Alguns centímetros a mais, muito poucos claro, nos separam dessa época, mas a essência está lá e as recordações também.

Uma hora e meia depois da conversa que passou sem se ver, mas que se ouviu com muita atenção e surpresa até nos intervenientes, selámos as circunstâncias num abraço de encontro ganho e sorriso de memória. No final, saí com vários presentes, mas destaco este como lembrança de escrita dada.




Ponte atravessada na pressa de chegar, e o consumar de uma noite que se planeara no mesmo aroma familiar, levaram à concretização de uma voz que se sabia de um tom já ganho, mas que se expectava pela poesia orquestrada de vida.

Com um abraço especial ao Nuno pela possibilidade do deleite, sentámos a ansiedade na cadeira da partilha e ouvimos com emoção a alegria de um trajecto. A maturidade de uma vida cumprida, vibrou na noite dos poetas que nunca se esquecem e encheu de musica os corações de Abril que ali se encantaram e cantaram.

Com notas de emoção escrita, acabou uma noite de memória eterna para a alma da minha emoção, pautada por mais uma prenda...




Adormecerei na volta dos sonhos, sabendo que esta noite jamais ficará na igualdade de mais nenhuma! Guardo no fundo da minha recordação, os nomes escritos pelas próprias mãos de cultura. Obrigado!