CLUBE DE LEITURA – Colectânea ou como pedalar em conjunto

Felizes as coincidências que afinal existem e transformam as votações mais inocentes em montras de escrita. A maioria decidiu, está decidido! Sem qualquer pressão, os livres votantes votaram.

As vicissitudes implícitas à obra em causa, implicam uma gestão diferente e, por isso, como foi até sugerido, serão lidos todos os contos de per si, cada um com direito a comentários, criticas, sugestões, arrasos (poucos), teorias, opiniões, etc.

Cada um dos autores fica desde já convidado a participar e a opinar também. Bicicletem-se!




P.S. Como a altura é festiva e pouco bloguista, lanço o primeiro conto em Janeiro. Até lá, despeçam-se do que não interessa e abracem o novo ano como acharem melhor!

FRASEANDO #30

Sexo, esse minúsculo ponto feminino, em torno do qual gira a máquina do mundo.

Carlos Drummond de Andrade




Carlos Drummond de Andrade
(1902 — 1987)

Histórias da Ponte (Bridge Tales)

O suor escorria pelas têmporas da pouca experiência. A mão que segurava a mão ditada pela sorte, tremia de dúvida enquanto as honras gritavam: passa! Passa! Passados, estavam os restantes elementos da mesa que (des)esperavam pela licitação (não uma resposta lícita, mas uma oferta estudada) espremida na voz seguinte. Por conseguinte, o tempo não esperava naipes nem contas. Deixem-se de afrontas.

Por esta altura, a Dama de Copas aplicava uma chapada a um atrevido Valete de Espadas que espreitava sobre o decote da carta do lado. Malvado. O Rei de Ouros olhava impávido e sereno enquanto as contas se repetiam: três e dois cinco e um seis, balançado. As demoras davam para tudo, uns bufavam, outros fumavam (mentalmente), alguns dormiam.

- Dois sem trunfo!

Até a Dama irritada estancou a chapada. Com seis pontos?! Mas já se aplicam descontos? Enquanto os “cegos” vaguearem pelas mesas da aprendizagem, alguém que nos dê coragem! Fechada a contenda, sem emenda, que o mal, mal feito está, segue-se o carteio. Não há receio. Pior é difícil… ou então não.



O olhar atento do Mestre fazia cócegas de nervura na nuca do aprendiz, que é como quem diz: estamos claramente no reino da invenção! E porque não? Escorregar faz parte do cair e cair faz parte do caminhar. Já agora levante-se, pode ser?! É que tanto desenvolvimento, sobretudo mau, o que eu lamento, impressiona-me a compreensão. Mas onde é que aprendeu isso? Foi mais ou menos, ligeiramente muito mal jogado.

Satirizada a iniciação dos demais, fica a nota (que importa) para tudo o que há-de vir. Muitas horas, sempre sem batota, serão jogadas e escritas a seguir. Os mais atentos, experimentados ou de maior envergadura, poderão responder claramente: mas afinal qual foi a abertura?

Responda quem quiser.

CLUBE DE LEITURA – Colectâneas

Motivados sabe-se lá porque acontecimento, decidimos (sim todos) colocar para votação, e pela primeira vez, colectâneas de contos de vários autores (engraçado como as colectâneas podem ser de vários). Uns que se estreiam, outros que se estranham outros ainda que se entranham e muitos que se espalham (incluindo um tal de Aragonez). Por proximidade à causa e à presença nos respectivos lançamentos, decidimos (sim, já disse… todos) enunciá-los por ordem cronológica da sua publicação. Posto isto e mais os factos:


1 – Contos Policiais – : Dulce Maria Cardoso, Francisco José Viegas, Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, Mafalda Ivo Cruz, Mário Cláudio, Rui Zink, valter hugo mãe e Ricardo Miguel Gomes.



«É um crime, caro leitor. Um crime! A vítima somos nós, leitores portugueses, e não há dados que nos apontem para um possível assassino. É praticamente um dado unânime que a literatura portuguesa é vítima de um crime de ausência: a do policial entre a nossa ficção. (...) Talvez a melhor solução seja mesmo um livro de contos policiais, com uma mira atirada à própria cultura de um país. Daí este livro que tem em mãos...» Pedro Sena-Lino

Nove destemidos autores portugueses aceitaram o desafio de escrever um conto policial. O resultado desta perigosa experiência é um tiro certeiro: nove contos policiais de alto calibre!

Coordenada por
Pedro Sena-Lino, esta colectânea de Contos Policiais é a obra inesperada do ano (2008), com incalculável valor literário.



2 – Contos de Vampiros – Ana Paula Tavares, Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, João Tordo, Jorge Reis-Sá, José Eduardo Agualusa, Miguel Esteves Cardoso, Rui Zink e Susana Caldeira Cabaço.



«É essa a substância, a natureza do vampiro: fazer temer a invasão do outro no meu espaço corporal, no primeiro e mais claro reduto da minha identidade. E assim perder a própria existência, metamorfoseando-me no outro. Atenção, caros leitores: porque ao ler este livro é isso que está em jogo - perder a própria identidade!»
Pedro Sena-Lino (in Nota Introdutória)

Por favor não me leia o pescoço. Lembra-se do filme? Agora tem um livro: nove terríveis contos de vampiros, originais e assinados por autores portugueses contemporâneos, directamente para os seus maiores receios de leitor! A partir do momento que iniciar a leitura, a responsabilidade é inteiramente sua.

Coordenada por
Pedro Sena-Lino, a colectânea que satisfaz os desejos mais obscuros de qualquer leitor!



3 – Bicicletas para Memórias e Invenções 5 – Alberto Pereira, Ana Alves Oliveira, Ana Prado, Bárbara Guerreiro Nunes, Daniel Escobar, Madalena Braz Teixeira, Manuel Alonso, Manuela Fabião, Miguel Aragonez, Pedro Ladeira Barros e Rodrigo Miquelino.



Trazer para a luz: o trabalho que procuramos desenvolver nos cursos de escrita criativa da Companhia do Eu. Trazer para a luz ideias, talentos, histórias, dentro de cada aluno que escreve; e depois desse processo, trazer para a luz o próprio conto (…) Porque a luz só é luz se for partilhada.
Pedro Sena-Lino (in Nota Introdutória).


Sem qualquer pressão ou influência (como sempre) eu sei onde é que moram! Por isso muito cuidadinho com a votação sim?! Se tiverem dúvida votem na capa mais bonita, ou mais cor-de-laranja, ou que tenha uma bicicleta, por exemplo.



P.S. - Se clicarem nos títulos podem saber mais qualquer coisa sobre os respectivos lançamentos.

FOI JÁ ONTEM!!

Todos os inícios têm um começo e ontem começou um deles. Na casa de um coleccionador, 11 bravos sonhadores lançaram para a fogueira da opinião pública as achas da sua criatividade. Sem credo nem idade, todos se juntaram num só.

Um onze avos do meu sonho foi disparado na direcção de um qualquer alcançar distante, cheio de esperança no amanhã da escrita. Os momentos que nos marcam são preenchidos pelas presenças e pelo apoio dos que se demonstram. Obrigado a todos por tudo.




Algum interessado na leitura poderá adquirir um exemplar (bem como da agenda) aqui pelo mail do blog (envio à cobrança) ou directamente na Companhia do Eu, a verdadeira responsável pela concretização de todos estes sonhos.

Deste que s`assina,

Miguel Aragonez
(o “homem” da página 135)



P.S. - O livro irá constar da próxima votação do Clube.


É JÁ AMANHÃ!!


Escatologias e outras tias

Antes:

Esforço de vontade, desconta a idade, defende a verdade e ajuda a saudade.

Mudança de rumo, abraços de desuno, viagens com sumo e piadas de aprumo.

Balde que se atina, limpa a latrina, vontade que se fina e mais uma dose de urina.

Vida de cão, de gato também não, quintal de ilusão e pêlo na mão.

Passa depressa, aspira a conversa, esfrega a travessa e limpa o que não interessa.

Come mais um, o outro dá pum, rosna algum e cheira a bedum.



Depois:

Pisa mais ao lado, humor está fechado, o prazo estragado e está tudo cagado.

Perde o sapato, foge o imediato, sacode o teu fato e já mija mais um gato.

Ladra uma mão, puxa que não, vive na prisão e nasce um cag*lhão.

Mijo que se entrega, amarelo de refrega, chão que escorrega, e só mais uma esfrega.

Pêlos que abalroam, olhares que até soam, cheiros que se entoam e merdas que voam.

Cão lambe ameixa, gato que é gueixa, silêncio que não deixa e da vida… quem se queixa?!


FRASEANDO #29

O talento não basta para fazer o escritor. Atrás do livro deve haver o homem.

Ralph Waldo Emerson



Ralph Waldo Emerson
(1803-1882)

EU VOU LÁ ESTAR!



P.S. - ... e o Miguel Aragonez também!


Bairro da vida

O sonho acordou a meio do fim pouco depois de ter iniciado. Espreguiçou o espanto e olhou para o relógio: faltavam poucos minutos para depois. Decidiu dormir mais um pouco. Lá fora, a chuva despedia-se da noite e abraçava os primeiros raios da manhã.

Algumas portas ao lado a doença tinha começado a acabar. Fazia as malas dos últimos dias e preparava-se para mudar de corpo. Tinha cumprido a sua missão ali, fazendo o possível por deixar bem vincada a tosse, a febre e as dores de tudo e mais alguma coisa.

No andar de baixo, a partilha dava as mãos ao destino e reforçava os laços de vida com um sincero amo-te. Tinham passado a noite enroscados no sofá a beber chá de alegria e a ver filmes de futuro com um sorriso nos lábios. Para aquecer o momento tinham-se tapado com a manta da tranquilidade enquanto se divertiam a baralhar pernas.

A satisfação pessoal, que morava na rua de trás, vestia os mais pequenos projectos de vida (a esperança, o amor e a certeza) e preparava as lancheiras da escola, revendo mentalmente todos os passos da rotina diária. Era fácil esquecer alguma coisa, afinal sempre eram 3 filhos e havia muito para preparar.

Na rua tudo começava a mexer: o tem que ser já colocava as frutas e legumes, tudo fresquinho, na direcção de quem passa; o outro dia alinhava as tesouras e os pentes esperando o primeiro cabelo que se viesse guilhotinar; o mais cedinho escrevia a ementa do dia enquanto arregaçava as mangas do pequeno-almoço que tinha que se tornar grande; a vida igual abria as persianas da montra depois de ter contado todos os botões, fechos, fios e sedas; o representante acordava o representado para que atendesse os fiéis que passassem as portas da necessidade em busca das primeiras respostas do dia; o frete dos outros varria os restos da noite alheia e baldeava a consternação mútua com água renovada de esperança.

Enquanto os mortos se conformavam os vivos não. Por todo o lado, tudo seguia o caminho de sempre enquanto todos se levantavam da profundeza do descanso para dar início a mais um dia de tanto.

Do alto, uma Estrelinha (a descansar do mar) observava com alegria a dádiva do dia que nascia lá em baixo. Satisfeita, afastou as nuvens para o lado e levantou-se para ir acordar o sol. Estava na hora.



CLUBE DE LEITURA – Comente o 3 e leia tudo de novo!

Uma semana, e mais qualquer coisinha, depois (este volume também é maior que os outros) encontramo-nos perante o triste, mas muito saboroso, final desta magnífica trilogia. Enquanto a intriga se adensa, e o nosso interesse também, novos personagens se cruzam no nosso imaginário de leitores.

Além de comentar este volume em particular, seria interessante enquadrar a perspectiva da trilogia como um todo. Quais serão as principais mensagens que Stieg Larsson quis passar com esta história? Será “apenas” uma teia ficcional ou estaremos perante um profunda análise sociológica e cultural? Estas e outras questões merecem que alvitreis as impetuosidades que este Millennium vos insurgiu. Por isso, alvitrai!


- Millennium 3: A Rainha no Palácio das Correntes de Ar – Stieg Larsson



P.S. – Já agora, poderiam alvitrar as próximas escolhas.
P.S.2 – Prometo que já não alvitro mais esta palavra.

Ventos Circulares

Peidos de chefia, são funções que eu não queria.
Sugestões de obrigação, deito fora com uma mão.
Peito de rola que manda, não incha na minha banda.
Posições de cagança, não alvitram a minha esperança.
Braços de força latente, fazem-me comichão na mente.

Peidos de chefia, são vozes que eu já sabia.
Sugestões de obrigação, empobrecem-me a razão.
Peito de rola que manda, corre muito mas não anda.
Posições de cagança, irritam-me a confiança.
Braços de força latente, seguram um trono aparente.

Peidos de chefia, ainda cheiram ao que se via.
Sugestões de obrigação, brilham a ouro mas são de latão.
Peito de rola que manda, é um opróbrio de cheiro a lavanda
Posições de cagança, são trespasses de fraca lança.
Braços de força latente, dissolvem idiotas em água mais quente.



Soltos os gases da revolta, sobram as pérolas do grito surdo. A ignomínia das mentes convulsas, liberta cheiros de abjecção. A afronta infamante do poder, amontoa tijolos de estupidez em paredes de ignorância morta. O melhor é fechar a porta.

Tudo na mesma. Como apenas mudaram as moscas, vou mas é de fim-de-semana e é já!

Homofonias

- Que bom estamos de novo na época do Bolo Guei!
- Bolo Gay?! Que horror que conceito mais preconceituoso!
- Mas estamos no Natal. É a época do Bolo Guei!
- Mas desde quando é que há épocas para Bolos Gay?! Aliás, o que é isso de Bolo Gay? Agora a pastelaria também tem orientação sexual?
- Sexual?? Mas quem é que falou em sexo? Eu só falei de bolos. E nesta época o que se come é Bolo Guei!
- Pois. Mas que descriminação é essa com os bolos? O que é que tem de diferente afinal?
- Difeguente? Não é difeguente. É guedondo, tem um bugaquinho ao meio, leva fgutos secos e fgutas cgistalizadas. Se não levag fgutas cgistalizadas até se chama Bolo Gainha!
- Ah…

Contos em Viagem – Brasil

E continuarei a divulgar até que o assento me doa. O que já nem acontece mais, pois o Meridional até tem assentos novos. Acabou-se a desculpa do: “Teatro?! Ah e tal faz-me doer as costas!” Não, agora essa já não pega. No entanto, a sala estava a meio esforço. Mas enquanto houver os que se esforçam, brilhantemente, do lado de lá, eu continuo a aplaudir (de pé!) do lado de cá.



Mais uma magnifica viagem no imaginário teatral. Depois de uma extraordinária ida a Cabo Verde, Natália Luíza e companhia atiram outra pedrada eficaz em charco simples. Uma excelente, e multi-facetada, interpretação de Gina Tocchetto acompanhada de outra excelente, e multi-musicada, banda sonora de António Pedro. Se uma interpreta muito com muito pouco, outro tira sons lindos de coisa nenhuma. Mais uma vez o Meridional aposta na simplicidade cénica em favor da riqueza da palavra e do som. Muito bom! Não sentimos falta de nada para perceber tudo (só de mais publico!).

Depois de ter começado em Faro, pode ser visto em Lisboa até dia 19 de Dezembro e de seguida vai percorrer várias salas do país. Por isso, ainda podem (e devem) ouver os sons e as palavras deste Brasil em viagem. A não perder!

AVISO – 2

Voltou no presente Sábado para sua casa, uma carteira pequena (tamanho cartão de crédito) que nunca tinha fugido, nem desaparecido. Vestia a mesma camisola castanha da Camel Active e aparentava uma tranquilidade irritante que nunca perdera. Estava apenas desidratada e dorida por ter passado uma semana caída atrás de não sei quê. Não se sabendo como, não sei quem a arrumar deve ter encontrado a pobre desgraçada (ah e tal gandas porcos! - Não, não... estava MESMO escondida) e colocou-a na mesa de cabeceira (oposta). Na madrugada de hoje a família deu, finalmente, por ela ao desligar a luz em pleno azamboamento (que é qualquer coisa que dá por volta das duas da manhã). Fazia-se acompanhar pelos mesmos, o que é normal dado que nada aconteceu. A Pessoalidade Judiciária agradece toda a ajuda prestada (que foi nenhuma) e louva as atitudes incompreendidas e impensáveis que provocam estas alterações ao normal funcionamento dos gestos rotineiros, mas que têm sempre um final feliz, estúpido mas feliz.

A família aproveita para agradecer, sobretudo o facto de não ter que exasperar em lojas do cidadão e afins. Os cartões do banco até estavam sujos na zona da banda magnética e por isso não vem grande mal ao mundo pelo facto de terem sido substituídos.



(Segundo fontes próximas, a família pondera a utilização de novas tecnologias que previnam futuros embaraços).

Sonhos

- Oh Chefe! Desculpe lá.
- ??
- Isso dá mesmo 200?
- Bem… até dá. Mas o que tem mais é força. Até porque pesa muito.
- Quanto?
- Uns 250 kg.
- Bem, mas é um ganda motão! Já viste meu?!
- Pois é… se eu tivesse uma dessas todas elas se sentavam!
- Podes crer! Ena pá… o meu sonho era ter um motão assim. Obrigadinho oh Chefe, boa viagem.
- Nada, até logo.




Sentei-me na minha pesudo-burguesia-envergonhada e arranquei consternado perante o quadro: o sonhador estava de muletas e mal se aguentava de pé, o conquistador não se aguentava definitivamente de pé porque já estava sentado no chão. Ambos rasgados e muito sujos, completamente desdentados pelo vício, o olhar vazio pela dose matinal já tomada, mas com um brilhozinho lá no fundo a admirar o meu sonho, que afinal também era o deles…

Tive vontade de desmontar, dar-lhes a chave e vir embora a pé. Mas isso não é a realidade e não havia como fazê-lo. Apenas a consciência de outras vidas me remoeu o pensamento. Egoistamente despejo o meu incómodo para aqui e sigo a viagem de mais um dia esquecendo vivências que afinal não esqueço. Uma neblina de pena abate-se na minha manhã… não gosto de o sentir mas senti.

Sonhador: não te conheço, mas vejo-te todos os dias. Se conseguires dobrar a perna levo-te a dar uma volta no nosso sonho.


P.S. - Foto by tirada no dia em que o meu sonho começou.

AVISO

Desapareceu no passado Domingo 15 de Novembro de sua casa, uma carteira pequena (tamanho cartão de crédito). Vestia uma camisola castanha da Camel Active e aparentava sinais de desorientação e transtorno (só assim se justifica que tenha fugido). Fazia-se acompanhar por um cartão do cidadão, por uma carta de condução, por um cartão multibanco e um visa (devidamente anulados nesta fase, pese embora os ridículos saldos à disposição - é nestas alturas que compensa ser um miserável), alguns cartões profissionais pessoais (dispensáveis) e 35€ em notas (que até se dão por mortos de bom grado). A Pessoalidade Judiciária agradece qualquer informação que ajude a encontrar o seu paradeiro.

Se a virem por aí, digam-lhe que volte para casa porque a família está muito preocupada e sem tempo para lojas do cidadão e afins.



(Na foto era mais nova e não tinha a mesma roupa. Também nunca se fez acompanhar por um American Express, mas dá para ver a carteironomia)

CLUBE DE LEITURA – Comente o 2, leia o 3.

Mais uma semana que passou neste milénio de leitura e vício que nos envolve nas malhas editoriais da Millennium e seus pares. Os mistérios adensam-se, as intrigas desenvolvem-se e afinal quem é Lisbeth Salander, essa personagem intensa a que ninguém consegue ficar alheio?

Numa mistura de violência e manipulação humana, este segundo volume é a continuação (melhorada) da genialidade de Stieg Larsson. Façam-se ouvir (e ler) os vossos incendeios opinativos sobre esta continuação. Ele há coisas bem queimadas, não há?!

- Millennium 2: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo – Stieg Larsson




Destapada a manta da curiosidade, inicia hoje a leitura descoberta do terceiro e último (ou não!) volume da trilogia. Daqui a uma semana encerramos o capítulo Larsson aqui no Clube. Até lá deliciem-se e aproveitem para pensar nas sugestões para a próxima escolha. Continuação de bom milénio para todos!

- Millennium 3: A Rainha no Palácio das Correntes de Ar – Stieg Larsson




Lisbeth Salander sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com outro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no mesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas... Entretanto, mantêm-se as movimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurança sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho. Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também não está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, Anika Gianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger? Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser ameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?

Café da Partilha – 5

O tempo e a saudade, e alguma preguiça também na verdade, encaminharam-me para o meu café de bairro favorito. O café, não o bairro. Esperançado por mais uma “crónica” passei a porta do paraíso da sandes de queijo e galão, com a expectativa da saudade.

Aproximei a fome e a ansiedade do balcão e pedi o habitual. Ao meu lado, um pequeno ser (homem) de tez muita pálida, assim quase albino, mordia com avidez um pastel de nata semi-escondido por um farfalhudo bigode louro e branco. O pastel, não o ser. O barrete capilar também rondava os tons, embora mais branco que amarelo. A pele ostentava ainda, sardas e outras manchas. A Rosa (que continua Sandra e cada vez mais latina) e os demais, dirigiam-se-lhe por qualquer palavra acabada em “ívias”, que eu não percebia.

Agucei a minha curiosidade crónica e regulei a audição para ao máximo. Ao quarto interpelar da Rosa finalmente percebi: Lixívias! Aquele ser de metro e meio e sem cor tem a simpática e carismática alcunha de Lixívias. Coisa que ele parece encaixar com todo o desportivismo da aceitação.

Ainda engolia o riso da descoberta, quando uma dona Fátima também de metro e meio (mas de largo) me esparramou contra o balcão, enquanto pedia um cafezinho. Dizia a Rosa:

- D. Fátima, e para comer?
- Oh filha… nada que gorda já eu estou!

(30 segundos de pausa)
- Tens Bom Bocado?
- Tenho.
- Olha que se lixe, dá cá um!




(15 segundos e duas dentadas depois)
- Hum… é bom! Oh Rosa, tens corassans?
- Tenho, com creme.
- Olha filha, guarda-me 4 que venho buscar na hora de almoço.

Entre albinismos e muitas calorias, todos devidamente aceites, o meu Café continua na mesma partilha. São estas referências que dão segurança nas escolhas. Até porque um cliente satisfeito (nem que seja pelo riso) é um cliente que volta!



Subida a um exercício

Vazio. A folha em branco da subida aponta para o cume do que não alcanço. Dou mais um passo na palavra e a caneta vai. Continuo a subir.

O fim está do outro lado da intenção e alcança-lo só depende de mim. O suor que me escorre da imaginação não me deixa ver o caminho. Tropeço no desencanto e caio. O ar rarefeito do destino empurra-me na direcção do levantar. Continuo a subir.

A proximidade do sol derrete-me a esperança literária, mas não desisto. Insisto. Abraço a caminhada final com uma frase em frente da outra. Os pés enterram-se no gelo da ocasião e o cimo já não é ontem.

O silêncio reina a toda a volta. Apenas a minha respiração me lembra do caminho que tem que ser. Continuo a escrever… passadas de subida.




P.S. – Só porque o mandou publicar, chefe!

CLUBE DE LEITURA - Comente o 1, leia o 2.

Uma semana depois, conforme combinado entre todos (aqueles), começam os comentários do milénio sobre a Millennium. Não percam a oportunidade de justiçar as vossas opiniões acerca da primeira parte de uma trilogia (que segundo consta vai passar a quadrilogia):

- Millennium 1: Os Homens que odeiam as MulheresStieg Larsson




Inicia hoje a leitura do segundo volume, com comentários garantidos daqui a uma semana:

- Millennium 2: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um FósforoStieg Larsson



Neste segundo volume da trilogia Millennium, Lisbeth Salander é assumidamente a personagem central da história ao tornar-se a principal suspeita de dois homicídios. A saga desenvolve-se em dois planos que se complementam e só a solução do primeiro mistério trará luz ao segundo: Há que encontrar os responsáveis pelo tráfico de mulheres para exploração sexual para se descobrir por que razão Lisbeth Salander é perseguida não só pela polícia, mas por um gigante loiro de quem pouco se sabe.

«...de boa leitura, escrito com persistente e tranquila clareza, com um sentido do bem e do mal que por vezes faz pensar em literatura juvenil (para adultos) e com um elenco de personagens que conseguem ao mesmo tempo ser excêntricas e ter alguma profundidade.»
Revista Expresso

«...muito suspense ,muitas cenas de acção e um final extraordinariamente inverosímil. O golpe de génio de Larsson é assumir os estereótipos narrativos e dar-lhes a volta, criando com eles um labirinto de desafios intelectuais que o leitor percorre avidamente...»
Revista LER

«Lê-se sem esforço, muito pelo estilo de escrita de Larsson, pela espessura dos próprios personagens, pela riqueza do detalhe que leva o leitor até uma Suécia diferente daquela que imagina. Uma Suécia obscura, povoada por personagens não menos obscuros, vindos de um passado que não se sabe se distante ou próximo, fantasmas que ensombram o presente.»
Os Meus Livros

Melodias de Sempre

António Ébano e Maria Mármore estavam de costas voltadas para o entendimento. Faziam do equívoco o desafinar da melodia e por muito que se apertassem as cordas, nada soava a tranquilidade. O destino músico bem se esforçava por seguir a pauta da vida mas a razão não resistia ao compasso da discórdia.

As teclas brancas olhavam de soslaio para as teclas pretas. O clima de suspeição deixava cair uma névoa de tristeza e rancor que não permitia ver sorrisos por trás da cortina. Eles até existiam. No entanto, estavam pintados de orgulho. Os acordares eram avessos e os adormeceres angustiados. Ambos choravam por dentro mas no silêncio da dúvida.

Contra explanação, um milagre aproximou-se do piano exactamente um ano depois do seu último concerto. Mandou as pautas da discórdia para o chão e substituiu-as pelo andamento futuro. Sentou-se, aqueceu bem as mãos e começou a tocar.




Uma doce melodia de entendimento encheu o ar do momento enquanto António e Maria subiam e desciam comandados por uma vontade que não percebiam. Todas as teclas se uniam na razão de uma música de sentimento, pautando cada nota pelo aprimorar do mais puro dos sons. Os suaves compassos do fundamento preenchiam os espaços do silêncio com colcheias de tudo o que sempre foi.

Finda a música, o milagre (do Amor) levantou-se, recolheu as suas folhas e partiu para outros pianos. António e Maria abraçaram-se de emoção e perdoaram os anteriores silêncios cantando em uníssono. Na escada do futuro selaram a conquista com um beijo. E que beijo!

FRASEANDO #28

Para que serve esclarecer os equívocos se as causas persistem?

Jean Paul


Johann Paul Friedrich Richter
(1763 – 1825)

CLUBE DE LEITURA – Millennium mania.

Tá dito, tá dito! As vontades terciárias de todos ditaram que A trilogia Millennium de Stieg Larsson arrebatasse a concorrência com 83% dos votos. Por sugestão de vários membros (me, myself and i) vamos ler um de cada vez porque cada um deles merece a honra de ser comentado. Não impede que agora, durante ou no fim se comente com enquadramento no todo.

Ao ritmo de um por semana (até porque quase todos já leram) iniciamos com o primeiro dos três (como se isso fosse normal numa trilogia):

- Millennium 1: Os Homens que odeiam as MulheresStieg Larsson



Mikael Blomkvist é um jornalista de meia-idade, divorciado, que tem passado a sua vida a denunciar a corrupção do mundo dos negócios de Estocolmo na sua revista Millennium. Quando Henrik Vanger, um poderoso empresário, o convida para um trabalho de investigação, Mikael tem nas mãos material irrecusável. Mas para sua surpresa descobre que, desta vez, esse material não tem nada a ver com escândalos financeiros, mas com o desaparecimento da sobrinha do empresário, Harriet, 36 anos antes, num encontro de família. Com a ajuda da sua nova e rebelde parceira, Lisbeth Salander, uma hacker de alto nível com problemas de comportamento social, irão desvendar muitos segredos da família de Henrik, até então escondidos na penumbra.

Grande cão… certo!

Certo é que o domínio de uma arte, de um objecto, de um instrumento é sempre algo de sublime. Então quando se exerce esse domínio com a mesma naturalidade com que se respira, tudo se torna eterno e único. As notas desfilaram nos nossos interiores com a suavidade transmitida por um ancião musical, um mestre de melodias mais ou menos conhecidas, mas todas com um toque de magia.

Mais que o intérprete, louvo o criador. O criador de sonoridades que acompanharam grande parte da nossa existência sem muito complemento visual, mas que simplesmente sempre estiveram lá. Juntar, desta vez, a imagem ao som e ainda por cima a solo, teve o condão de nos fazer voar pelos sons rendidos à arte. E que arte. António Pinho Vargas A Solo, encheu um palco inteiro sem precisar de mais ninguém. Imperdível. É nestes pequenos pormaiores da vida que agradeço as oportunidades que se desfilam nas nossas existências. Obrigado pela lembrança e pela surpresa!

Embora as vivências não se transmitam com a mesma emoção com que se recebem, aqui fica uma das minhas favoritas que me acompanha o imaginário, felizmente real, desde 1987. Sem mais palavras que o momento é mais de ouvir do que de ler…


Eles lançaram... e eu apanhei!

Romanov nasceu na Roménia e era o nono de nove irmãos, não se sabe bem de onde lhe veio o nome mas era Vampiro de formação. Vivia em Portugal há cinco anos, onde nunca exercera, e trabalhava nas obras. Sempre ganhava mais cá a ser explorado no mundo do betão armado, em parvo, que na Roménia a explorar pescoços cinzentos.

Soube por um colega trolha, também Romeno mas não Vampiro (parece que na Roménia tinha sido ministro das Obras Públicas), que ia haver o lançamento de uma colectânea de contos de Vampiros na Cantina Lx pelo entardecer da noite de quinta-feira passada. As saudades impeliram-no na direcção da curiosidade. Assim foi (e foi mesmo que eu vi-o lá).

Mal chegado, brindaram-no com uma magnífico cocktail de beterraba picante (que já não bebia desde os seus tempos de Vampiro caloiro na faculdade). Comprou logo um exemplar da colectânea que começou a devorar enquanto esperava. Começada a cerimónia, várias almas penadas se aprontaram a sentar. Uns atrás da mesa, outros à frente. Romanov depressa percebeu que os que se sentaram do lado de trás eram os autores, pálidos de tanto se terem esvaiado em sangue literário. Iniciada a contenda, o mestre de cerimónias (também branco mas por doença e que lhe fazia lembrar o seu antigo professor de Mordidelas de Escrita Sangrenta II) esgrimia apresentações e perguntas enquanto os autores se deliciavam com dentadas de argumentação em pescoços de leitores e fãs.

Quando finalmente se acendeu o final, teve ainda tempo de pedir autógrafos e trocar impressões de Vampiro experimentado. Orgulhosamente chegou à conclusão que a sua experiência vampírica e empírica, lhe davam o destaque silencioso de quem já provara verdadeiramente o sangue. No entanto, o alho da crítica literária aguçava a sua curiosidade e correu (voou?) para casa onde só parou de ler na manhã do dia seguinte, ou seja ontem.

Arrasado mas satisfeito, arrastou-se cheio de sono para o seu destino de cimento, já com um atraso de uma hora. À chegada foi brindado com um sonoro, mal cheiroso e estridente (até porque só se viam três dentes):

- Olha lá oh Romeno! Não te pago para chegares a esta hora!

Foi o último som que saiu daquela garganta. Mesmo sem licença para exercer em Portugal não resistiu à dentadinha da saudade.




P.S. – Parabéns para a Susana, que de entre todos deu a dentada mais apetecida... a de estreia!

QuadriBar – Exercício de Cão Traste

Traste 1

Já só conseguia ter um olho aberto e mesmo esse só dava imagens desfocadas. Entre a neblina da indecisão parecia-me ver tudo castanho-brilhante. Algumas indagações mentais mais tarde, percebi que tinha a cabeça sobre o balcão. Estava de volta ao bar. Decidido a combater a inércia abri o outro olho.

Agora via tudo em amarelo-torrado com oscilações. Estava a ver através do copo de uísque. Numa tristeza sorridente pensei que não deveria ser possível descer mais baixo na escala da humilhação (ainda bem que estava encostado ao balcão!) e chamei a mim todos os sentidos necessários à operação levantar de cabeça: equilíbrio, orientação, força e força de vontade. Cinco minutos depois a operação revestia-se de sucesso. Embora um bocadinho oscilante, a cabeça encontrava-se na verticalidade possível.

Sobre o balcão estavam sete copos cuidadosamente alinhados. Em comum tinham o facto de estarem vazios. O oitavo, o que ainda tinha líquido, estava mais próximo de mim por dois motivos: primeiro era o único que estava ao alcance da mão sem ter que esticar o braço, segundo eu já tinha olhado através dele e por isso conhecia o seu interior como ninguém.

Entretido com os meus pensamentos tão pouco sóbrios nem reparei nos acontecimentos seguintes.


Traste 2

Desapertei o botão. A porcaria da gravata que não servira para nada, já me começava a apertar os nervos. Decidi soltá-los. Que bons estes amendoins. – Dê-me outra tacinha, por favor.

Um gole pequenino que isto tem que durar. Venho a este bar todos os dias, bebo um uísque com dois dedos de água e uma pedrinha de gelo todos os dias (com muitos amendoins!), sento-me no mesmo banco todos os dias, encosto-me ao balcão todos os dias. Todos os dias trago um fato diferente, todos os dias venho de uma entrevista diferente. Que merda de rotina. Continuo desempregado! – Outra tacinha, por favor. – São mesmo bons.

Cada carta da (in)segurança social aumenta-me as pulsações do desespero e a sede! Não fosse a minha escassa liquidez e o líquido aumentava. Aqui devem pensar que sou forreta. Se eles soubessem que não tenho mais… mas os amendoins são mesmo, mesmo bons.

- Outra tacinha, por favor.



Traste 3

Nem o decote me valeu, aposto que o editor é gay. Já revi o romance três vezes e mesmo assim ele diz que ainda não está bem. É sempre a mesma conversa de que eu tinha prometido tanto com o meu conto das Bicicletas 5 e que era uma romancista nata e blá, blá, blá…

- Um uísque com Água Castelo, por favor.

Que estúpido! O que é que ele percebe de romances?! Eu merecia publicar e ainda não consegui mais que um conto neste livro: Bicicletas para Memórias & Invenções 5 - Colectânea de contos dos alunos da Companhia do Eu. No entanto, anda sempre comigo. Não consigo é abri-lo mais. Fica pousado sobre o balcão.

- Um uísque com Água Castelo, por favor.

O gordo já está outra vez a deixar cair a cabeça e o desengravatado não deve ter conseguido arranjar emprego ainda. Que nojo! Já não posso ver as mesmas caras todos os dias. Na verdade, não sei o que venho aqui fazer todos os dias.

- Um…
- … uísque com Água Castelo?
- Obrigada.


Cão 4

Fechei a porta com o estrondo habitual de quem foge da chuva. Sacudi a gabardine, pendurei-a. Sacudi o chapéu, deixei-o no cesto. Lá dentro o tom castanho-fumo escondia os bêbados do costume: o meu outro Eu já deixava cair a cabeça no balcão. Tinha sido o primeiro a chegar e era pela linha temporal o mais bêbado.

O Personagem 1 que devia ter chegado pouco depois, mastigava os amendoins com a boca toda. Como era a única coisa que não se pagava, era o que repetia mais vezes. O uísque devia ser o primeiro, a julgar pela habitual característica forreta. Cada dia um fato diferente e a esta hora sempre com a gravata desapertada de frustração. Não se desse o caso de ser meu irmão e nem sequer me preocupava em dirigir-lhe o olhar. Cumprimentei-o com a indiferença que pautou toda a nossa vida.

Ao seu lado, a Personagem 2, terceira da ordem de chegada trazia o seu livro do costume: Bicicletas 5. Nunca o lia, mas adorava usá-lo como base para o copo. Já era a terceira vez que eu lhe recusava o romance, mas a verdade é que a gaja não escreve nada e não percebe que só a recebo por causa dos decotes. Não sei porque é que ela insiste em frequentar o mesmo bar que eu. Deve ser para me fulminar com aquele olhar de fundo de balcão, via uísque com água castelo.

Aproximei-me do meu outro Eu, o que me era mais familiar pelo narciso entendimento, e perguntei-lhe o que é que eu ia beber.

- Um uísque duplo sem gelo. – Respondeu ele virado para o barman em tom de pedido e antes de voltar a deixar cair a cabeça.

Brunorix McFerrin

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, put, put, pássaro preto voa! Humpf, brrrr, bum, put, pássaro preto voa! Pum, bum, na direcção da luz na noite escura! Humpf, humpf, humpf.

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, put, put, pássaro preto voa! Humpf, brrrr, bum, put, pássaro preto voa! Pum, bum, na direcção da luz na noite escura! Humpf, humpf, humpf.

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf. Estavas só à espera deste momento para te elevares! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, tum, bum… humpf!



Impressionantemente Bobby McFerrin

Pronto é assim, o ambiente anda musical. Talvez seja para compensar a falta de palavras ou então apenas um atraso nas descobertas. A verdade é que este senhor é brilhante e não posso deixar de o dizer… e mostrar!


Blackbird





Drive

M18 – Contos Lúbricos XVI (um regresso curto, mas com música!)

Preâmbulo: Embora não obrigatório, é fundamental envolver a escrita com esta música.



Sentiu a madeira fria nas pernas. Esticou o arco com o número de voltas certas. Pôs resina. O primeiro contacto do arco com as cordas produziu o mais melodioso dos arrepios. A vibração das cordas tornava o momento excitante. O corpo do violoncelo, encostado ao seu tornava-os num complemento. Ambos nus.

Nota após nota o seu calor aumentava num tom de prazer aveludado. As pernas abertas, encaixadas à volta do instrumento deixavam sentir uma suave brisa no seu interior cada vez mais húmido. Os olhos sempre fechados ouviam em uníssono o abraço daquela música desconcertante. O arco bailava para trás e para a frente numa dança de volúpia musical, ora devagar, ora depressa, Pianíssimo

Alguns compassos depois o violoncelo beijava-lhe o seio cada vez mais rijo de tanto tocar. O arco não parava e o instrumento também não. O corpo de madeira, agora não tanto, agarrava-se ao seu tronco impecavelmente erecto na mais clássica e correcta das posições. As pernas apertavam cada vez mais o violoncelo mulher enquanto a vibração das cordas se deixava embalar num beijo de línguas compassadas.

As folhas da pauta viravam com vida própria enquanto os dedos do violoncelo deslizavam pelo interior das suas coxas na direcção de um orgasmo que se adivinhava no virar da próxima página. O arco seguia já quase sem resina numa incansável massagem de erotismo barroco. Os seus seios pediam beijos ao mesmo tempo que os dedos seguiam ao ritmo do arco. Suores quentes e frios misturavam-se em colcheias de prazer. A página virou.

A partitura exaltava o momento e pedia o último compasso Prestíssimo. O arco exausto suava na luxúria do andamento que se atingia. Beijos dedos e outras notas corriam contra o inevitável. O tempo não esticava e os corpos atingiam o auge. Soou a última nota de uma corda agora vocal: o gemido foi tão intenso que o livro de pautas se fechou. Um orgasmo em apoteose deixava manchada a cadeira da verdade. A música terminara despedindo-se numa ofegante respiração quase silenciosa.

Uma batida agitada na porta acordou o momento:

- Maria! Estás a ensaiar há duas horas, não é melhor fazeres uma pausa filha?



O Solista (depois de ler já se pode ouver*).


Idos os tempos em que no Clube de Leitura se devoraram os acordes lidos desta impressionante história de vida. Verdadeira, para acicatar os espíritos mais incrédulos e os amantes da ficção. Aqui, tudo aconteceu e o filme, tal como o livro, quase podia ser um documentário de tão próximo que está dos acontecimentos originais. No entanto, se fosse um documentário passava despercebido da maioria. Se o livro já tinha os seus pozinhos de ficção, o filme acrescentou uns quantos mais não deixando de contar o mais importante, e sobretudo, talvez o verdadeiro âmago de toda a trama: a crítica social. Bang! Em cheio.

Em termos mais cinéfilos é de salientar a boa interpretação de Robert Downey Jr e a MUITO boa interpretação de Jamie Foxx. Além do substrato todo já falado, ainda saímos da sala com a mais transversal de todas as linguagens no ouvido: a música. Faça-se ouvir.






E para lembrar que as histórias reais não acabam no fim dos filmes ou no último capítulo dos livros, aqui ficam as caras verdadeiras, com as suas vidas verdadeiras e as suas histórias sobre a verdade.





* - Ouver é uma conjugação entre o cinema e a música. Neste filme tem que se ouvir o que se vê!

Solo de guitarra… sem guitarra.

Como se fosse essencial ter uma guitarra para tocar guitarra. O que é preciso é originalidade e muita, muita qualidade. Para manter a linguagem universal da música basta ter garganta, sobretudo uma que encanta!




P.S. – Powerd by

Olhá bela da t-xarte! – II


Ainda o sol não sabia que era dia e já a necessidade se levantava na direcção de uma feira que não era Terça por ser Sábado, na expectativa de uma Ladra que vendia o que era seu. O pensamento positivo de que o que tem que ser tem muita força, ajudou a abraçar a saída nocturna com a tralha pelas costas.

A confusão era geral e fazia-se acompanhar por um frio fininho que insistia em dormir do lado de dentro da única roupa que não era para vender: a do corpo. Por todo o lado se instalavam pertences em esperanças de 2 por 2 (metros) com licença! Passe, passe que eu também a paguei e não vejo cá o nome de ninguém. Por acaso hoje pode ficar aí que a senhora não vem. Ainda bem. Siga a venda!

As primeiras conquistas fizeram-se ainda sem luz e logo no desembrulhar da coisa. A mercadoria ainda nem assentara no expositor e já alguém as cobiçava, e levava. Sempre ao preço certo. Nem mais nem menos. É escolher.

JBJ Lda., fizeram da parceria a alegria da troca quase directa, como o sono, e não perderam o sorriso na disputa. Começar por cima, rir de baixo e chegar a acordo lá pelo meio. Visitas, fizeram-se sentir em doce recordação. Obrigadão!

Tire lá qualquer coisa que ainda tenho que fazer a bainha. Tadinha. Tome lá o desconto, por causa do ponto, mas não leva saco. Se levar cinco só paga quatro. Ai que é tudo tão pequenino, quem me dera caber aí. Não há problema que o tecido estica. Olhe que isto é verdadeiro. Epá calma que eu vi primeiro.

Um ano e meio volvido e com a mesma música 8 ali do lado, a inclinação da aventura relembra depois de 11 horas a satisfação das dores nas costas. Gostas?! A causa é boa e assim tudo se aproveita, tá a conta feita.




P.S. - É de salientar a avidez com os clientes escolhiam a mercadora...

Contos deste ano #8

O Valor sentou-se na Dúvida e pensou quanto valeria tudo o que vale qualquer coisa. Qual não foi o seu espanto, quando a pensamento tanto, se apercebeu que no valor tudo poisa. Levantou-se da Dúvida (que entretanto já se queixava do peso) e sentou-se na Convicção onde um pensamento mais teso já lhe fazia comichão.

Deixou-se comichar valorizando o Sentimento, até que a dado momento, sentiu prazer. Não daquele de sentir, mas daquele de se ver. Igualmente bom de cheirar, sorriu no que estava para vir e no que acabava de chegar. Seria o valor do sentimento?

Dois assentamentos mais abaixo, valorizou o Dinheiro. Que cheiro! Empestado de manipulação, não dizia que sim, mas também não dizia que não. Sentiu o ódio e a felicidade unidos na mesma puberdade. Que valor seria aquele, na verdade?

Sentado agora no valor de cada Nota, sentiu-se primeiro idiota e depois, cuspiu na derrota. Seria musical? Talvez fosse classificação, embora essa nem sempre tenha razão. Deixou-se atribuir, em jeito de pauta e musicou o plural do seu sentir: 20 valores!

Cansado de tanto se sentar o Valor levantou-se no destino e concluiu, para acabar, que tudo o que vale não tem tino e que o nada vale o que quisermos dar. Será que isto vale alguma coisa?



Millennium 1 - Män som Hatar Kvinnor


Filmes de livros, livros de filmes, livros filmados, filmes livrados. Livra, que é sempre a mesma questão… claro que é muito difícil “enfiar” 600 páginas de um romance em 120 minutos de imagem. No entanto, depois de adorar o livro adorei o filme.

Nada substitui o prazer da palavra e a ânsia de virar páginas para saber mais detalhes do mistério, mas também nada substitui a imagem e o estímulo visual que nos faz pular na cadeira. Por isso, não se comparam os campos da ficção… complementam-se!

As versões estão muito parecidas e no filme “apenas” alguns pormenores foram alterados. Se leram o livro vejam o filme, se viram o filme leiam o livro, se não fizeram nenhuma das coisas aproveitem e façam as duas.



CLUBE DE LEITURA – Próximo!

Livros da moda. Esse fenómeno que nos faz ler em massa. Às vezes uma maçada, outras nem por isso. Aderimos a alguns, recusamos outros, mal dizemos outros tantos, mas há sempre um ou outro a que não conseguimos resistir. Estilos muito diferentes, como é apanágio aqui do Clube, juntam do mais clássico ao mais recente.

A próxima votação será entre alguns desses fenómenos, todos sobre a forma de trilogia. Depois de uma dose dupla, nada melhor que uma dose tripla! O desafio será ler os três livros da colecção mais votada e comentar o todo, ou cada um, ou como entenderem. A vossa justiça dirá se a massificação é merecida ou não. A ver:


1 – O Senhor dos Anéis – J. R. R. Tolkien (John Ronald Reuel Tolkien)

1.1. - A Irmandade do Anel
1.2. - As Duas Torres
1.3. - O Retorno do Rei



2 - Millennium –Stieg Larsson

2.1. - Os Homens que odeiam as Mulheres
2.2. - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo
2.3. - A Rainha no Palácio das Correntes de Ar


3– Mundos Paralelos – Philip Pullman

3.1. - A Bússola Dourada
3.2. - A Torre dos Anjos
3.3. - O Telescópio de Âmbar


Um abraço de 2 metros com bigode

Veio de longe com uma mala cheia de boas intenções na mão. Trazia no olhar a tranquilidade própria, misturada com a estranheza da vida polvilhada por um espanto quase inocente. As palavras saíam em acordes de melodia familiar embaladas por doses certas de preocupação.

Demorou trinta e cinco anos a chegar, mas não tardou a ocasião. Também não se fez ladrão, nem criou confusão. Apenas veio. Sincero, sem merdas. Franco de amizade, soube a pouco o tempo e a partilha.

A geografia da vida não permitiu outros tantos, mas criou linhas. Linhas de respeito e admiração. Linhas de orgulho e até algumas de inveja. O comboio do regresso levou a mala menos cheia de confusões, mas carregada de momentos. Foram intensos. Na estação ficou a saudade. No mínimo que se repita.

Obrigado por teres vindo… abraço!


O regresso dos Exercícios

Premissas: Alguém está a cortar algo com uma faca (carne, peixe, fruta ou legumes).
Exercício 1: Descrever a cena dando uma noção de irritação da pessoa.
Exercício 2: Descrever a mesma cena como se estivesse a fazer amor.
Tempo: 5 minutos cada.


Exercício 1

O primeiro golpe acertou no dedo, o segundo na cenoura e o terceiro no tomate. O quarto, que já foi com o cabo, esborrachou em vez de cortar. A vítima foi o alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo, mas não deu hipótese à cenoura e ao tomate. Quanto ao alho francês, esse já estava morto. Repetiu tudo incluindo o dedo. Imbuído de espírito cortante, cortou tudo: cenoura, tomate, dedo. Cenoura, tomate, cenoura. Tomate, dedo, tomate, cenoura, dedo, dedo.

A faca saltava descontroladamente de um vegetal para outro. O tom avermelhado dos vegetais sobre a mesa indicava que várias vezes voltara aos dedos.




Exercício 2

O primeiro golpe acertou no dedo. Foi o primeiro arrepio. O segundo acertou na cenoura, as pernas tremeram. O terceiro acertou no tomate com um lascivo poder de corte. O quarto que foi mais esfregado que cortado, esborrachou um erecto alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo mas penetrou a faca na cenoura e no tomate. E penetrou de novo. A cenoura e o tomate pediam mais. Agora com as duas mãos.

- Espeta-me outra! – Gritou a cenoura.
- Não te esqueças de mim… – Gemeu o tomate.

Mãos, cenoura, tomate e facas dançavam descontroladamente. Surgiu sangue sobre a mesa, um deles ficara mais experiente. Afinal não. Tinha-se cortado.

FRASEANDO #27

Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.

Roger Crawford

(Roger Crawford)

Certezas


Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento o tempo. O tempo que foge às letras e que acumula vontades em página vazias de emoção. O tempo que fecha a torneira da inspiração deixando apenas um gotejar de esperança. O tempo que cobre as janelas da alma enquanto um raio de sol insiste em espreitar por trás da oportunidade. O tempo que não rega o jardim dos livros e que deixa secar as folhas da palavra.

Já é tempo de encontrar esse tempo.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a dúvida. A dúvida que me assola o lápis em cada linha. A dúvida que não me deixa mergulhar no futuro. Essa mesma dúvida que faz gritar o silêncio ausente em cada poema deixando surdos os entendidos. A dúvida que chora na apatia do momento.

Não há dúvida que a dúvida está desfeita.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a paixão. A paixão que faz nascer a palavra pensada, que a faz viver escrita e que a mata em suaves golpes de leitura. A paixão que entorna o copo cheio do amor por cada livro. A paixão da doce partilha caramelizada em cada sonho salgado.

A paixão pela paixão está viva.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a ideia. Finalmente arranjei tempo para que não houvesse dúvida que a paixão pela ideia estará sempre por aqui.

The Sound of Words – XIX

(Chinês no psiquiatra)

- Ando assim desde que tlabalho naquele lestaulante…
- Mas o que é que sente?
- Não sei doutol… sinto-me flágil!





P.S. – É um leglesso… culto, mas um leglesso!

CLUBE DE LEITURA – Ronda dupla em tudo (até no atraso)

O trabalhus horrendius (já em nível 3) tem boicotado esta duplicidade de leitura. Os membros (do Clube) batem à porta do Bilhete em exasperada ansiedade comental (de comentário) e fazem fila nas suas opiniões. Uma ínfima nesga abriu-se na janela da oportunidade e tendo conseguido roubar escassos minutos ao tal horrendius, aqui lanço a bóia de sugestão. Agarrem-se!


- O que diz Molero – Dinis Machado


“Mesmo que não tivesse escrito mais nada, um romance chegava para lhe garantir um lugar de destaque na Literatura do século XX. "O Que Diz Molero" é o título do livro, Dinis Machado o seu autor.

Publicado pela primeira vez vai para trinta anos, a história narrada por Austin e Mister Deluxe tornou-se num êxito sem precedentes e modificou a vida do homem que a criou: de um dia para o outro, viu-se projectado para a primeira linha do reconhecimento do público, da crítica e, mais difícil ainda, dos seus pares. Tudo com uma história simples feita de muitas histórias.”




- O Último Cabalista de Lisboa – Richard Zimler


“Lisboa, Páscoa de 1506. Na cidade assolada pela seca e pela peste, cerca de 2 mil cristãos-novos são perseguidos, tendo seus corpos sido queimados nas fogueiras que ardem no Largo do Rossio, no centro da Capital Portuguesa. Assim, tem inicio um surpreendente e fascinante livro, cheio de suspense e de descrições precisas da cidade de Lisboa; misturando factos históricos com o mistério do assassinato do mestre cabalista Abraão Zarco.”


Opiniões aceitam-se, pedem-se, dão-se, recebem-se, suplicam-se e exigem-se! Não deixem calar o que vos vai na alma. Em época de direitos individuais façam valer o que vos opina. Vota Clube de Leitura!!

"Sacana"

Epá, oh Tarantino! Se eu já gostava dos teus filmes anteriores (sim, vi todos) este adorei. No dia dos 70 anos do começo da II Guerra Mundial, nada melhor que escrever sobre a ideia de acabar com o III Reich de maneira tão original (e cinéfila). A mim, pareceu-me brilhante. Para além disso, estão lá os teus ingredientes do costume: a sátira a certas categorias de filmes, o humor, o sangue (muito!), a narrativa por capítulos, os planos de câmara sempre diferentes, enfim, a delícia de qualquer fã.

Sacanas sem lei, um filme que cada um devia ser obrigatoriamente livre de ver se tiver amor à vida… de cinéfilo!






Os tempos que passaram, férias e não férias, trouxeram filmes em catadupa (obrigado cartão mágico) e a necessidade de actualizar o cartaz aqui do Bilhete. Estes foram vistos recentemente:


A Dúvida



O Wrestler



A Proposta



Duplo Amor



O Rapaz do Pijama às Riscas



Inimigos Públicos



Um Amor de Perdição