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Mãos pelos pés

Uma mão e três pés
..........Davam andamento ao caminho.
Uma mão e três pés
..........Deixavam escrever o livro sozinho.
Uma mão e três pés
..........Apertavam abraços de revolta.
Uma mão e três pés
..........Faziam da escrita a ida e a volta.


Um pé e três mãos
..........Vestiam laços sem aperto.
Um pé e três mãos
..........Calçavam sapatos sem conserto.
Um pé e três mãos
..........Desciam ruas de humor inclinado.
Um pé e três mãos
..........Davam os dedos lado a lado.


Um pé, uma mão, três mãos e três pés
Escreveram um poema de seis braços que não tinha pernas…


Escatologias e outras tias

Antes:

Esforço de vontade, desconta a idade, defende a verdade e ajuda a saudade.

Mudança de rumo, abraços de desuno, viagens com sumo e piadas de aprumo.

Balde que se atina, limpa a latrina, vontade que se fina e mais uma dose de urina.

Vida de cão, de gato também não, quintal de ilusão e pêlo na mão.

Passa depressa, aspira a conversa, esfrega a travessa e limpa o que não interessa.

Come mais um, o outro dá pum, rosna algum e cheira a bedum.



Depois:

Pisa mais ao lado, humor está fechado, o prazo estragado e está tudo cagado.

Perde o sapato, foge o imediato, sacode o teu fato e já mija mais um gato.

Ladra uma mão, puxa que não, vive na prisão e nasce um cag*lhão.

Mijo que se entrega, amarelo de refrega, chão que escorrega, e só mais uma esfrega.

Pêlos que abalroam, olhares que até soam, cheiros que se entoam e merdas que voam.

Cão lambe ameixa, gato que é gueixa, silêncio que não deixa e da vida… quem se queixa?!


Contos deste ano #8

O Valor sentou-se na Dúvida e pensou quanto valeria tudo o que vale qualquer coisa. Qual não foi o seu espanto, quando a pensamento tanto, se apercebeu que no valor tudo poisa. Levantou-se da Dúvida (que entretanto já se queixava do peso) e sentou-se na Convicção onde um pensamento mais teso já lhe fazia comichão.

Deixou-se comichar valorizando o Sentimento, até que a dado momento, sentiu prazer. Não daquele de sentir, mas daquele de se ver. Igualmente bom de cheirar, sorriu no que estava para vir e no que acabava de chegar. Seria o valor do sentimento?

Dois assentamentos mais abaixo, valorizou o Dinheiro. Que cheiro! Empestado de manipulação, não dizia que sim, mas também não dizia que não. Sentiu o ódio e a felicidade unidos na mesma puberdade. Que valor seria aquele, na verdade?

Sentado agora no valor de cada Nota, sentiu-se primeiro idiota e depois, cuspiu na derrota. Seria musical? Talvez fosse classificação, embora essa nem sempre tenha razão. Deixou-se atribuir, em jeito de pauta e musicou o plural do seu sentir: 20 valores!

Cansado de tanto se sentar o Valor levantou-se no destino e concluiu, para acabar, que tudo o que vale não tem tino e que o nada vale o que quisermos dar. Será que isto vale alguma coisa?



Contos deste ano #7

Um Conto sem ponto e um Verso perverso encontraram-se na esquina de um livro.

Perguntava o Conto pela vida do Verso, mas como não tinha ponto, nem sequer entoava questão. O outro que era torto e ainda por cima perverso, nem tentava perceber nem ajudava de antemão.

Dobradas, a contenda e a esquina seguiram na cavaqueira da vida. Sempre com frases não terminadas, outras ideias maltratadas e uma estrada mais curta que comprida. Amigaram-se do conhecimento e abraçaram as palpitações da discórdia. Sempre na paródia.



Rábulas feitas entre ruas mais estreitas, saltaram capítulos de concordância, com notas de menor importância. Assuntos lá de baixo, assim do pé da página que o importante está mais à mão e no resto nem me encaixo. Mas também não digo que não.

Chegaram depois à partida desenhando argumento perverso, sem verso e encheram de pontos todos os contos que encontraram no bem dito regresso. Sentados na mesma esquina primeira, combinaram que aquele livro à maneira seria para todos o inverso.

O mesmo será dizer, que o conto que se está a ler, leva ponto e leva verso mas não é de todo perverso.

É apenas fraquinho, tadinho…

Obstáculos de 5 palavras

Saía pela janela da Mãe
Entrava pela porta do Pai

Saltava da algibeira do Pai
Escondia-se na mala da Mãe

Deixava a obrigação da Mãe
Escolhia a imposição do Pai

Despia o verde do Pai
Vestia o azul da Mãe

Estudava a facilidade na Mãe
Decorava uma fraqueza no Pai

Fugia da vida do Pai
Fugia da vida da Mãe

Era um Pim-Pais-Pum



Procurava o aconchego da Mãe
Chorava no ombro do Pai

Abraçava a distância do Pai
Escrevia a imagem da Mãe

Absorvia as entrelinhas da Mãe
Decorava os cabeçalhos do Pai

Os pais fugiam-lhe da vida
A vida fugia-lhe dos pais

Era um Pim-Pais-Pum



Para F e M, os miúdos do momento.

Tempos (difíceis)


Já não há Verão. Este tempo que nem tem tempo para ser tempo, revolta em mim o Julho da memória quente. Onde é que ele foi?

Está frio de madrugada e o sol não presta. Mas que mer** é esta?!

As praias da vontade estão cheias de ansiedade. Compra-se sol (de)posto ANTES DE AGOSTO, vende-se este cinzento friorento.

Está frio de manhã e o sol não presta. Mas que mer** é esta?!

Os casacos do nojo cobrem-nos a pele do motim; enfim, corre um tempo em que o tempo nem chega a tempo e o atraso veste-se assim: com mangas.

Está frio de tarde e o sol não presta. Mas que mer** é esta?!

A sombra da vaidade irrita-nos o bronze da questão. - É verdade, tem razão, não teime. Passe cá amanhã pode ser que já queime. – Escondem-se as vergonhas do tempo, sem tempo nem tempo algum.

Está frio de noite e o sol não presta. Mas que mer** é esta?!




- Hoje o sol até queima a razão!
- … ok… desculpem a questão.

Dois dias de poesia

Dois dias de poesia, quem diria, despertaram dragões de leitura racharam do peito armadura. Acendeu-se na alma o fogo da vontade escrita.

Dois dias de poesia, quem diria, fizeram calar preconceitos deixaram gritar outros feitos. Fugiram as vozes escondidas em envelopes de boca fechada.

Dois dias de poesia, quem diria, cantaram sons de outros tempos mostraram novos intentos. A música da arte em letras soou em pautas de descoberta.

Dois dias de poesia, quem diria, acordaram lides sabidas ouviram versões mais lambidas. Escreveu-se no destino dos sons a vontade dos deuses poetas.

Dois dias de poesia, quem diria, soltaram amarras de literatura suavizaram a escrita mais dura. Nos barcos do amanhã navegaram as frases de força sentida.

Dois dias de poesia, quem diria, ergueram torres no alto do sonho pintaram de azul o céu tristonho. Subiram-se escadas de palavras em passos de gigante leitor.

Dois dias de poesia?! Quem diria! 




Um deles era eu

Dois trambolhos, um era zarolho
Deram as mãos. De uma só criança

Fizeram a esperança que queriam alcançar
Pularam barreiras
....................saltaram fronteiras
Dois trambolhos, um era zarolho


Dois paspalhos, um era espantalho
Gritaram vozes de revolta

Abraçaram causas sem retorno
Abriram fossas
....................causaram mossas
Dois paspalhos, um era espantalho


Dois parolos, um era mais tolo
Desceram à cidade da vida

Apanharam autocarro de cultura
Ergueram decisões
....................criaram confusões
Dois parolos, um era mais tolo


Dois totós, um nem tinha voz
Votaram partidos. Cruzaram errado

Feriram de morte o amanhã
Fecharam torneiras
....................baixaram viseiras
Dois totós, um nem tinha voz


Dois camafeus, um deles era eu
Rasgaram espelhos de confiança

Arrombaram cofres de palavras
Escreveram tontice
.....................riscaram parvoíce
Dois camafeus, um deles era eu


Poesia de "loja de trabalho"

Eu, calções de crescimento

Acordo longe do mar, perto da
morte.
Sinto uma procura de letras soltas
paradas no tempo da vida.

Sonhos nervosos em lençóis acordados
Fazem dos proibidos momentos, a
abertura das portas da convicção.
Estendo a mão da esperança
e apanho flocos de realidade.
      e de verdade.

A noite dorme e eu não.
O tarde acabou de se misturar
com o cedo.



Factos: Começado num workshop de poesia em plena luz do desconhecido, acabado na escuridão barulhenta de uma impressora às 5h e 32m da manhã.

Contos deste ano #6

O pio da pia

António da Silva Albano, de todos o mais bacano, era senhor de alta voz em porte de siglas ASA. Não pilotava de ganha-pão, mas cantava noite fora pela mão em recantos de auditório e casa. Soprava notas de timbre certo, sempre de peito aberto em fulgor de paixão cantante. Não há espectador que não se levante, e de palmas não seja exuberante sempre que o Albano, a seu jeito, cante.

Assim vivia por notas e harpejos de voz, sempre em constante cantoria. Quem o visse em franzino colo de avós, jamais lhe almejaria futuro, quem diria?! Cantava para emigrantes, senhores e outros doutores, especialistas e pedintes, alguns também pedantes, surdos e outros mudos, mas todos seus ouvintes. Festas e cerimónias, restaurantes, bares e outros lugares, alguns discos e radiofonia também constavam das suas parcimónias.

Tudo cantava sobre rodas até ao dia em que nem mais um pio. Albano abriu a consola, vergou olhos e rodopiou a mola, mas som ninguém ouviu. Excepção a uma pequena nota não musical, que do esforço saiu de mansinho e odorou mais para o lado do mal. Também mal, disse da vida má sorte, em desespero de som algum que parecia dentro de si como que fechado em caixa forte. Vieram médicos e especialistas, damas de santo e engenheiros, padres e outros curandeiros, mas ninguém o punha a cantar. Azar!



Chorava em silêncio mundano, Albano já menos bacano, pela desgraça da sina sua. Por companhia e inspiração de raça ofereceram-lhe então uma catatua. Bem se esforçava o pobre animal, por devolver a voz a seu dono, mas apagado que andava afinal, nem dormia nas horas de sono. António da Silva Albano, caía no mais fundo do desespero humano.

Esperava milagre sem força, sentado na espera do dia em cadeira tom de agonia. Até que desmaiou de desalento, caiu sem contentamento e bateu com a cabeça na pia. Pois se do piar tinha sido o mal, assim como foi também agora voltou. Albano a cantar acordou uma espécie de hino nacional.

Voltou a alegria a casa de música, voltaram as vozes e as palmas em explosão, voltou o esplendor e as cantigas de rua, voltaram os coros e os trinados de mão. Albano, de novo bacano, seguiu cantando a vida em notas de feliz canção. Até hoje não voltou a perder a pio e nunca se soube o porquê da razão.

Moral do desfecho musical: em caso de aflição afónica é cabecear qualquer pia atónita. Serve para outras questões, maleitas, frases feitas e males de índole mais geral.

Vernácula Primavera em Dia da Poesia

Abraços de cultura soam a poesia morta

Em dia que deviam ser todos.

Cantam-se primaveras, edificam-se palavras

Marcham-se poetas e soltam-se amarras

Aos molhos, aos montes e aos toldos.


Soam flores de pouca leitura

Em campos de obras esquecidas.

Colhem-se poetas de fachada

Plantam-se literários de gabinete

Lambem-se livros em falso minete.


... E então?!



Então...


Ergam ao sol a magia da letra

Façam da vida revolta de poeta.

Dancem abraços, gritem convulsões

Esqueçam agravos e cantem liberações.

Pois na volta do amanhã está a cultura rabeta.


E quando do imposto lerem despesa

Agarrem-se aos cornos de qualquer poesia

Militem palavras de forte presença

Apaguem esforços de frase vazia.

Se da merda já lida riscaram vinhetas

Façam da poesia a maior das punhetas.


... E depois?!



Depois...


Celebrem esta Primavera de poetas

Em país de grandes e dias esquecidos

Encham o peito de todas as letras

Abracem autores, fiquem embevecidos.

Que este dia cheire à força das minhas tretas

Em registo de flores e poesia de profetas.


Contos deste Ano #5

Limonada Final

Maria Elvira, também de nome Limão, era tida por ter tido ira, contra tudo, contra todos e contra o irmão. Do alto do seu sexagenário tempo, olhava o mundo desconfiada. Dobrava-se ao peso dos anos, sentindo no viver desalento e no acordar não via nada.

Confundia cores de passado com pinceladas de presente, tinha comportamento marcado, por vezes desafinado e andava sempre ausente. Louca de todo, diziam uns quantos, aquilo é da idade, respondiam outros que tais. Deixa-nos a todos perdidos em prantos, vejam lá que no outro dia andou a assaltar quintais!

Parece que galgou muro de outros tempos, como se apenas 10 anos tivesse, roubou fruta e outros tentos, partiu vidros e lamentos e ainda gritou uma ou outra prece. Quem não gostou nada do dito assalto, foi o dono o Tio Sebastião, que quando viu o estrago do salto, depressa lhe jogou a mão. No entanto, perdeu-se de espanto ao ver larápia tão avançada, na idade diga-se por enquanto, pois do juízo estava muito atrasada.

Lá foi seu irmão penoso, buscá-la de nova loucura. Estava cansado e pesaroso o pobre irmão cura. Vezes sem conta deu passos neste destino, para levar Elvira de volta, que ainda reagia com muito desatino e o acusava de medo e também revolta.




Nos ataques de ausência pura, percorria a cidade em transportes, e não pensem já não serem fortes as suas viagens sempre à pendura. Era vê-la junto aos miúdos, bem agarradinhos no frio do eléctrico, com o contraste dos seus brancos graúdos, causava arrepios de medo tétrico. E se caía por ali um dia?

Assim passavam os tempos, nesta mistura de idades ausentes. Vivia no fio dos contratempos, pesava loucura, mas ainda tinha dentes. E eram fortes para o vigor que tinha, e eram saudáveis para esta idade de acidentes. Ela sentia idades diferentes, só não estava era bem da pinha.

Até que um dia de alívio para todos, não abriu os olhos ao acordar, não mexeu nada no amanhecer. O que lhe deu ninguém sabe contar, o que se passou ainda se está para saber. Da Elvira passada, a marca a reter, é que o vento se pagou e acabara de morrer.

Contos deste Ano #4

Maria vai com os outros

Apenas Maria, menina agora de bem, nasceu no fundo de uma bacia depois do esforço de sua mãe. O berço, de outrora latão, foi esquecido a rezar o terço, bem apertado na mão e segundo doutrina de sua religião. Fez-se à vida da conquista, agarrada ao sonho de mais, sem nunca perder de vista, objectivos, desejos e outros que tais.

Cedo estudou pose e altivez de confiança, largou depressa criança e cresceu muito e sempre mais. Já nem era reconhecida pelos próprios pais. Esses mesmo que escondeu numa gaveta, que isto de conquistas endinheiradas é assunto de saias travadas e ai de quem no meio se meta.

Andou por festas e outras andanças, sempre em almofadas de ilusão. Deitou mão e enfeitou testas, deste, daquele e ainda do irmão. Ganhou fama de abertura fatal e engordou cofre de cagança, pois vida ganha na horizontal, nem sempre dá segurança, mas quem muito coisa sempre alcança. Juntou muitos nomes ao que tinha, pomposos o quanto baste, sempre segurando na pontinha da sua bandeira de traste.




De cama em cama viveu na sombra, de vidas ganhas por sangue. Perscrutou vida de abutre, com voos de escolha langue. Aprisionou conquistas de perna, guardou vitórias em rodilha e ainda deixou na camilha cartas de gente terna com toques de muita matilha.

Assim vivia com a luxúria do que ganhava no ano, até que apareceu tal figura, de corpo presente bacano. Perdeu-se de amores em revista, e pela primeira vez a conquista foi do outro, o tal de Elmano. Também ele se deitava a ganhar, vivendo em lençol de jeito quente. Se o queriam sentir e cheirar, pagavam bem e sempre à frente!

Trocada de voltas Maria, foi vitima do que sempre foi, quando viu que o cofre lhe fugia, chamou-lhe para cima de boi. Afinal deixou-se levar por encantos tantas vezes usados, que isto de saber muito trás sempre quem sabe, outros truques igualmente cantados.

E assim se fez volta à origem onde esteve sempre a pia, que esta de novo apenas Maria, sopra agora anos de fuligem e abre gavetas que já não queria. Em jeito de moral e conclusão, diz-se que quem alto voa sem estender a mão, sempre acaba a andar à toa seja de berço de ouro ou talvez não.

Contos deste Ano #3

Por mares nunca antes cheirados

Felisberto, primo do Amaral, tinha tudo para dar certo, o problema é que cheirava mal. Bonito como nenhum, bem-falante e aprumado. Mesmo na farda de comandante, nunca odorava a lavado. Sabia triste a sina de seu cheiro e esfregava o desespero sabido. Nunca era de filas primeiro, pois se vento vinha, o detrás estava caído.

Se a comandar era o mais esperto, sabiam seus homens de antemão, que ao pé do Comandante Felisberto só se chegava o Sargento Carlão. Este por ser duro de nariz e mal feito de olfacto, era o único no seu cariz que chegava perto, de facto.

Lágrimas de Comandante corriam, no ombro do primo Amaral, que a muito custo lhe dizia para não pensar no cheiro, e tal. Forjavam uma solução galante para este mal de odor marinheiro, pois se a questão não era valor para que seria então o dinheiro?! Vai de comprar cremes e sabões, loções e coisas médicas. O combate ao mal odorífero seria travado em batalhas épicas.

Mergulhado em banheira de perfumes, assim ficou o infeliz odorado. Dois dias inteiros mergulhou até estar bem fresco e lavado. Dormiu e tudo mais ali, naquela sopa de belas fragâncias. Deixou ir o mundo, que antes lhe estava parado, enquanto perfumava o mais recôndito das suas ânsias. Nascera o marinheiro perfumado.

O seu andar espalhava agora flores de Primavera, enquanto o seu falar exalava brisas e tons de aloé vera. Até o mar dos seus olhos cheirava a poesia conquistada, num perfume de outros molhos e ramos e tudo o mais que bem cheirava.

Nova página de conquista em cheiro de história de artista, pois era vê-lo a abrir sorrisos e a rodear-se de todos no navio. Já se fazia ao mar de peito aberto e do antigo ninguém mais viu, pois nascera para todos o recém cheirado Almirante Feliz Berto!


Contos deste Ano #2

A Revolta do Avental

Leopoldina, não do Continente, era filha de gente fina e mãe de boa gente. Vagueava pelas ruas da vida, com uma alma mais curta que comprida. Dona de uma casa de alguém, varria os despojos do dia sem obrigados e só com desdém. Três filhos de geração contente, eram a alegria dos seus olhos e a razão do caminho em frente.

Nascida de berço dourado, casara com a tristeza da vida e estava o destino estragado. Largara direito de profissão, para entortar pela lide doméstica. Um, dois, três e já não teve mão, filhos e atilhos apagaram a luz da última réstia. Fazia dos dias acinzentar e guardara pincéis de esperança, pintara uma cruz no olhar e fechara o estore do amanhã criança.


Nalgum dia de visão certeira, sentira na alma um sopro dos deuses que lhe abriu a porta da escandaleira. Agarrou malas de decisão e partiu convicta sem credo na mão. Deixou para trás todo aquele que andava, na alçada de um pasmado patriarca. Levou apenas o que ainda mamava para não lhe deixar uma tão grande marca.

Voltou muitos anos depois, dona de uma vida de aventura. O que mamava já só via mamas, ainda era pendura mas já guiava bacanas. Trazia outra luz no olhar e agarrara o cinzento de frente. Enquanto os ficados continuavam a ficar, ela trazia dança em corpo mais quente.

Fizera mundos e trouxera fundos em alargadas prosas financeiras. Plantara cores e enterrara dores, deixando florir abetos e outras rameiras.

Trouxe ventos de mudança, que foram acatados na ordem do dia. A que foi já não volta nem lança, a que está é porque já foi e agora nem ia. Assim se fez nova ordem, em casa de mulher de ideias que comeu onde os outros mordem, lambeu feridas e coseu meias. Percebidas contendas as de Leopoldina, moralizam nesta história de sucesso. Pois matriarca que nasce fina, jamais será concerto de pouco ingresso.

Vera incessu patuit dea*




* Manifestou-se verdadeira deusa pelo andar.

Contos deste Ano #1

História de um outro Inácio

Inácio, também por rima Pancrácio, dava ares de galináceo nas suas feições de esperança. Dono de altiva ingenuidade era na verdade, um adulto em recheio de criança. Nascera fino de grossura, mas fazia da sua postura, a crença da sua faiança, pese embora a pouca bonança. Ah! Ainda fazia da envergadura, a crise de uma verga dura numa apatia sem ponta, onde o que interessa é a altura e não o tamanho da conta.

Vivia então assim, na ilusão do rico pobre, que pensa sempre chegar ao fim, mas nem todos os meses sabe se cobre. Escrevia coluna social, que dava para os gostos e gastos. Não escrevia nem bem nem mal, mas fazia da opinião, afinal, a leitura de seguidores vastos.

Frequentava altas patentes em festas e ocasiões destas, mas cerrava sempre os dentes pelo esforço dos gastos latentes, florido de apertos e economias funestas. Mas eram ossos do ofício e tinha de picar ponto em presença, cobria de esforço o sacrifício e lá golpeava os ilustres com estocadas da sua crença.




Certo dia, agora exposto, estava o autor na amargura de não ter sumo na fruta nem matéria-prima desde Agosto. No jornal a coluna parada, fazia da escrita de Inácio, sempre com muito opiáceo, a sequela da história inventada. Precisava da luz a visão e na falta de abanão social, fez-se afoito à aventura da estrada e ao destino deitou mão. Deu-se mal.

Meteu foice em seara importante e galgou saias de esposa fina, conseguiu história em semana gritante, mas acabou depois diletante de uma tal de Madame Lina. Ficou da lembrança o mais giro e acabou mal tinha começado, pois marido resolveu questão a tiro e se esta página mais não viro é porque se finou o autor trespassado.

Termina assim coluna social, de um Inácio à procura de seiva. Incompetente no coiso e tal, escrevia nem bem nem mal pois nascera em berço de eiva. Moral da história pedante: não se procura destino forçado, mas espera-se acontecimento traçado em desígnios de acaso ofertante.

Este ano... estarei a dormir!

Ano de escritas decisões
Fará do sentido esperança
Crescerá do amanhã criança
Será descarga de outros iões
Em palavras de mais bonança

E quando a manhã acordar, estarei a domir


Ano de ventos literários
Aponta no caminho certo
Faz do longe o mais perto
Mostra dos sonhos operários
O trabalho de fecho aberto

E quando a tarde se levantar, estarei a dormir


Ano de pensadas palavras
Ilumina falsas questões
Abraça causadas visões
Poetiza memórias livradas
Em sonetos e tais canções

E quando a noite se deitar, estarei a dormir

... para poder acordar!


Avoengos encontros

Segundas de poesia familiar, sabem a Domingos de descanso. Famílias de poetas, profetas, fazem do encontro um alcanço. Juntam vidas de literatura passada com crónica nascida, vivida. Comemoram anos de partilha em jeito de balanço.

Agarradas sensações em colos de afecto, brotam no seio da família do abeto, ramificações de vida que fazem da morte o único abjecto. Genealogias de criança, inspiram do futuro confiança, expiram laços de alternância e alcançam amor no concreto.

Idades profundas assustam esperança, mas riem do amanhã confiança num abraço de novo criança. Pálidas imagens da outrora postura, fazem do levantar compostura e acertam encontros de ternura, sem qualquer sede de matança.

Não sem qualquer importância, desloco almoço sem vacância num contemplo de arvoredo… familiar. Por isso vou com elegância, num sorriso sem levantar dedo, para junto dos que me viram criar!


aTORDOado

ATordoado


“Cavalo à Solta” escolhido em acordo
Galopou em campo familiar
Fomos gomos de um fruto Tordo
Lemos claro no partilhar
Sentimos notas de vivência
Cantámos passos de experiência

Se d` “As 3 vidas” uma eu bordo
Em noite de um também Ary
Foi “Tourada” de um bicho Tordo
Que (en)cantou memória que ouvi
Começou o filho, seguiu-se o pai
Certos que o erguido já não cai

E quando direito escrevo Tordo à esquerda
Faço de Abril memória de poema
Para cantar num livro sem prantos
A eternidade desse grande dos Santos
Em qualquer noite e sem problema

E se dos poetas reza a história
Dos que cantam ficam visões
Somos filhos do “Hotel Memória”
Presos na escrita da vitória
Dos que lutam e ganham canções


Futebolês e outros que tais

Para que póssamos perceber a mensagem
Temos que nos imbuir do espírito do coiso e tal
Se para uns é derivado ao facto da imagem
Para outros é resposta a verdade e agem
Como se tênhamos de grunhir e falar mal

Dão-se pontapés em bolas e gramática
Apagam-se fogos e acentos do bardo
A Autoridade nisso também tem prática
Em prevaricar uma língua apátrida
Em nome do que deve de ser falado

E se tanto erro até me arrepia
Que dizer de um qualquer percebestes
Pois aquele que aldraba não cria
Diz palavrão que ninguém entendia
Fala desviado em erros como estes

Maldita língua mal dita e falada
Que de escrita também sofre tanto
Mal sabida e manteram mal dada
Porque não é por todos amada
Mas é por ela este meu pranto