Um abraço de 2 metros com bigode

Veio de longe com uma mala cheia de boas intenções na mão. Trazia no olhar a tranquilidade própria, misturada com a estranheza da vida polvilhada por um espanto quase inocente. As palavras saíam em acordes de melodia familiar embaladas por doses certas de preocupação.

Demorou trinta e cinco anos a chegar, mas não tardou a ocasião. Também não se fez ladrão, nem criou confusão. Apenas veio. Sincero, sem merdas. Franco de amizade, soube a pouco o tempo e a partilha.

A geografia da vida não permitiu outros tantos, mas criou linhas. Linhas de respeito e admiração. Linhas de orgulho e até algumas de inveja. O comboio do regresso levou a mala menos cheia de confusões, mas carregada de momentos. Foram intensos. Na estação ficou a saudade. No mínimo que se repita.

Obrigado por teres vindo… abraço!


O regresso dos Exercícios

Premissas: Alguém está a cortar algo com uma faca (carne, peixe, fruta ou legumes).
Exercício 1: Descrever a cena dando uma noção de irritação da pessoa.
Exercício 2: Descrever a mesma cena como se estivesse a fazer amor.
Tempo: 5 minutos cada.


Exercício 1

O primeiro golpe acertou no dedo, o segundo na cenoura e o terceiro no tomate. O quarto, que já foi com o cabo, esborrachou em vez de cortar. A vítima foi o alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo, mas não deu hipótese à cenoura e ao tomate. Quanto ao alho francês, esse já estava morto. Repetiu tudo incluindo o dedo. Imbuído de espírito cortante, cortou tudo: cenoura, tomate, dedo. Cenoura, tomate, cenoura. Tomate, dedo, tomate, cenoura, dedo, dedo.

A faca saltava descontroladamente de um vegetal para outro. O tom avermelhado dos vegetais sobre a mesa indicava que várias vezes voltara aos dedos.




Exercício 2

O primeiro golpe acertou no dedo. Foi o primeiro arrepio. O segundo acertou na cenoura, as pernas tremeram. O terceiro acertou no tomate com um lascivo poder de corte. O quarto que foi mais esfregado que cortado, esborrachou um erecto alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo mas penetrou a faca na cenoura e no tomate. E penetrou de novo. A cenoura e o tomate pediam mais. Agora com as duas mãos.

- Espeta-me outra! – Gritou a cenoura.
- Não te esqueças de mim… – Gemeu o tomate.

Mãos, cenoura, tomate e facas dançavam descontroladamente. Surgiu sangue sobre a mesa, um deles ficara mais experiente. Afinal não. Tinha-se cortado.

FRASEANDO #27

Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional.

Roger Crawford

(Roger Crawford)

Certezas


Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento o tempo. O tempo que foge às letras e que acumula vontades em página vazias de emoção. O tempo que fecha a torneira da inspiração deixando apenas um gotejar de esperança. O tempo que cobre as janelas da alma enquanto um raio de sol insiste em espreitar por trás da oportunidade. O tempo que não rega o jardim dos livros e que deixa secar as folhas da palavra.

Já é tempo de encontrar esse tempo.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a dúvida. A dúvida que me assola o lápis em cada linha. A dúvida que não me deixa mergulhar no futuro. Essa mesma dúvida que faz gritar o silêncio ausente em cada poema deixando surdos os entendidos. A dúvida que chora na apatia do momento.

Não há dúvida que a dúvida está desfeita.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a paixão. A paixão que faz nascer a palavra pensada, que a faz viver escrita e que a mata em suaves golpes de leitura. A paixão que entorna o copo cheio do amor por cada livro. A paixão da doce partilha caramelizada em cada sonho salgado.

A paixão pela paixão está viva.

Desviados os caminhos da escrita, procuro na base do pensamento a ideia. Finalmente arranjei tempo para que não houvesse dúvida que a paixão pela ideia estará sempre por aqui.

The Sound of Words – XIX

(Chinês no psiquiatra)

- Ando assim desde que tlabalho naquele lestaulante…
- Mas o que é que sente?
- Não sei doutol… sinto-me flágil!





P.S. – É um leglesso… culto, mas um leglesso!

CLUBE DE LEITURA – Ronda dupla em tudo (até no atraso)

O trabalhus horrendius (já em nível 3) tem boicotado esta duplicidade de leitura. Os membros (do Clube) batem à porta do Bilhete em exasperada ansiedade comental (de comentário) e fazem fila nas suas opiniões. Uma ínfima nesga abriu-se na janela da oportunidade e tendo conseguido roubar escassos minutos ao tal horrendius, aqui lanço a bóia de sugestão. Agarrem-se!


- O que diz Molero – Dinis Machado


“Mesmo que não tivesse escrito mais nada, um romance chegava para lhe garantir um lugar de destaque na Literatura do século XX. "O Que Diz Molero" é o título do livro, Dinis Machado o seu autor.

Publicado pela primeira vez vai para trinta anos, a história narrada por Austin e Mister Deluxe tornou-se num êxito sem precedentes e modificou a vida do homem que a criou: de um dia para o outro, viu-se projectado para a primeira linha do reconhecimento do público, da crítica e, mais difícil ainda, dos seus pares. Tudo com uma história simples feita de muitas histórias.”




- O Último Cabalista de Lisboa – Richard Zimler


“Lisboa, Páscoa de 1506. Na cidade assolada pela seca e pela peste, cerca de 2 mil cristãos-novos são perseguidos, tendo seus corpos sido queimados nas fogueiras que ardem no Largo do Rossio, no centro da Capital Portuguesa. Assim, tem inicio um surpreendente e fascinante livro, cheio de suspense e de descrições precisas da cidade de Lisboa; misturando factos históricos com o mistério do assassinato do mestre cabalista Abraão Zarco.”


Opiniões aceitam-se, pedem-se, dão-se, recebem-se, suplicam-se e exigem-se! Não deixem calar o que vos vai na alma. Em época de direitos individuais façam valer o que vos opina. Vota Clube de Leitura!!

"Sacana"

Epá, oh Tarantino! Se eu já gostava dos teus filmes anteriores (sim, vi todos) este adorei. No dia dos 70 anos do começo da II Guerra Mundial, nada melhor que escrever sobre a ideia de acabar com o III Reich de maneira tão original (e cinéfila). A mim, pareceu-me brilhante. Para além disso, estão lá os teus ingredientes do costume: a sátira a certas categorias de filmes, o humor, o sangue (muito!), a narrativa por capítulos, os planos de câmara sempre diferentes, enfim, a delícia de qualquer fã.

Sacanas sem lei, um filme que cada um devia ser obrigatoriamente livre de ver se tiver amor à vida… de cinéfilo!






Os tempos que passaram, férias e não férias, trouxeram filmes em catadupa (obrigado cartão mágico) e a necessidade de actualizar o cartaz aqui do Bilhete. Estes foram vistos recentemente:


A Dúvida



O Wrestler



A Proposta



Duplo Amor



O Rapaz do Pijama às Riscas



Inimigos Públicos



Um Amor de Perdição

FRASEANDO #26

Um casamento feliz é uma longa conversa que nos parecerá sempre demasiado curta.

André Maurois

Emile Salomon Wilhelm Herzog
(1885 — 1967)

5 Regressos

Um escritor e a sua dor partilhavam meia dentada de um texto inteiro. Mordia o escritor, a questão, enquanto a dor mastigava no porquê. Porquê? Porque antes de engolir convém trincar.

Um sacristão e a sua religião penduravam-se em sinos de descoberta. Puxava o sacristão, soava a badalos dados a religião, e por toda a região. Levantavam-se os crentes e, entre dentes, acertavam horas de fé. Sempre de pé.

Um médico e o seu nariz ortopédico liam jornais de embaixada. Que maçada! Passavam páginas de surpresa em preta tinta de contraste branco. É verdade, esta noite estou de branco. E banco mais banco não há.

Um jornalista e a sua crista entrevistavam questões. Aldrabões. Telefonavam para gabinetes anónimos e deixavam correr a água das fontes. Compraram um acordo ortográfico e fizeram-se à estrada da notícia.

Um trabalhador e o seu fedor choravam-se em saudades de areia. Que tareia. Acabadas as ondas do descanso estenderam a toalha da responsabilidade. A bandeira verde da realidade permitia mergulhar nos problemas. Sem dilemas, é só trabalho!

Cada um faz o que pode. Bom regresso.


CLUBE DE LEITURA – Atrasos de Verão

Primeiro o teclado encheu-se de areia, depois a água salgada estragou as teclas, por fim caiu na piscina e nunca mais deu sinal de vida. Ainda peguei nele com as mãos cheias de cremes (bronzeador e das bolas de Berlim), mas não funcionava mesmo.

No entanto, espero que as leituras não tenham ficado suspensas pelo meu atraso. Confirmo aquilo que se votou e, por isso, até dia 06 de Setembro vamos ler, reler, começar ou continuar os seguintes vencedores:

- O Último Cabalista de Lisboa – Richard Zimler



- O que diz Molero – Dinis Machado


Sem qualquer ordem ou preferência o que interessa é ler. Os comentários também serão em dose dupla. Boa leitura(s).

Diário do Continente

Depois de um Porto, Santo pelo sentimento que deu à costa e de mais uns dias com água no horizonte circundante o regresso fez-se num novo estado, civil por definição.

As baterias carregam-se, a vontade confirma-se (sem assinaturas, viva o simplex!), a escrita aguça-se, os segredos contam-se. O tempo encurta a distância e bilhetar por aqui é difícil de concretizar. Fica a passagem para matar a saudade.

Trabalho, hoje, foi engano. Sigam as férias!


Diários da Madeira - II

A pontaria dos acontecimentos calendarizados, trouxeram-nos ao maior evento desportivo da ilha: o Rali Vinho da Madeira, este ano em comemoração da 50ª edição. Odiado por uns e amado por outros é pelo menos unânime em termos de proveito, já que o magnânime Alberto João concede tolerância de ponto em sexta-feira de ralie. Haja apoio!



O objectivo primeiro da travessia de parte do Atlântico foi cumprido e quase se rebentou a escala em esforço de luta contra as adversidades mas com sabor a vitória. O apoio foi o possível e dentro da possibilidade houve algum. O objectivo segundo virá segunda. 



Mudança de casa e de estilo trocando o rodopiar de um dos principais hotéis do rali, onde estavam pilotos, pilotas, gentes de televisão e demais equipas, pela tranquilidade de uma acolhedora residencial com quartos avivendados e um tanque apiscinado. Trocámos "ouro por pechebeque" na opinião do taxista, mas na verdade sentimos trocar ouro por diamante. Tudo tranquilo.