Sonhos

- Oh Chefe! Desculpe lá.
- ??
- Isso dá mesmo 200?
- Bem… até dá. Mas o que tem mais é força. Até porque pesa muito.
- Quanto?
- Uns 250 kg.
- Bem, mas é um ganda motão! Já viste meu?!
- Pois é… se eu tivesse uma dessas todas elas se sentavam!
- Podes crer! Ena pá… o meu sonho era ter um motão assim. Obrigadinho oh Chefe, boa viagem.
- Nada, até logo.




Sentei-me na minha pesudo-burguesia-envergonhada e arranquei consternado perante o quadro: o sonhador estava de muletas e mal se aguentava de pé, o conquistador não se aguentava definitivamente de pé porque já estava sentado no chão. Ambos rasgados e muito sujos, completamente desdentados pelo vício, o olhar vazio pela dose matinal já tomada, mas com um brilhozinho lá no fundo a admirar o meu sonho, que afinal também era o deles…

Tive vontade de desmontar, dar-lhes a chave e vir embora a pé. Mas isso não é a realidade e não havia como fazê-lo. Apenas a consciência de outras vidas me remoeu o pensamento. Egoistamente despejo o meu incómodo para aqui e sigo a viagem de mais um dia esquecendo vivências que afinal não esqueço. Uma neblina de pena abate-se na minha manhã… não gosto de o sentir mas senti.

Sonhador: não te conheço, mas vejo-te todos os dias. Se conseguires dobrar a perna levo-te a dar uma volta no nosso sonho.


P.S. - Foto by tirada no dia em que o meu sonho começou.

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