Eles lançaram... e eu apanhei!

Romanov nasceu na Roménia e era o nono de nove irmãos, não se sabe bem de onde lhe veio o nome mas era Vampiro de formação. Vivia em Portugal há cinco anos, onde nunca exercera, e trabalhava nas obras. Sempre ganhava mais cá a ser explorado no mundo do betão armado, em parvo, que na Roménia a explorar pescoços cinzentos.

Soube por um colega trolha, também Romeno mas não Vampiro (parece que na Roménia tinha sido ministro das Obras Públicas), que ia haver o lançamento de uma colectânea de contos de Vampiros na Cantina Lx pelo entardecer da noite de quinta-feira passada. As saudades impeliram-no na direcção da curiosidade. Assim foi (e foi mesmo que eu vi-o lá).

Mal chegado, brindaram-no com uma magnífico cocktail de beterraba picante (que já não bebia desde os seus tempos de Vampiro caloiro na faculdade). Comprou logo um exemplar da colectânea que começou a devorar enquanto esperava. Começada a cerimónia, várias almas penadas se aprontaram a sentar. Uns atrás da mesa, outros à frente. Romanov depressa percebeu que os que se sentaram do lado de trás eram os autores, pálidos de tanto se terem esvaiado em sangue literário. Iniciada a contenda, o mestre de cerimónias (também branco mas por doença e que lhe fazia lembrar o seu antigo professor de Mordidelas de Escrita Sangrenta II) esgrimia apresentações e perguntas enquanto os autores se deliciavam com dentadas de argumentação em pescoços de leitores e fãs.

Quando finalmente se acendeu o final, teve ainda tempo de pedir autógrafos e trocar impressões de Vampiro experimentado. Orgulhosamente chegou à conclusão que a sua experiência vampírica e empírica, lhe davam o destaque silencioso de quem já provara verdadeiramente o sangue. No entanto, o alho da crítica literária aguçava a sua curiosidade e correu (voou?) para casa onde só parou de ler na manhã do dia seguinte, ou seja ontem.

Arrasado mas satisfeito, arrastou-se cheio de sono para o seu destino de cimento, já com um atraso de uma hora. À chegada foi brindado com um sonoro, mal cheiroso e estridente (até porque só se viam três dentes):

- Olha lá oh Romeno! Não te pago para chegares a esta hora!

Foi o último som que saiu daquela garganta. Mesmo sem licença para exercer em Portugal não resistiu à dentadinha da saudade.




P.S. – Parabéns para a Susana, que de entre todos deu a dentada mais apetecida... a de estreia!

QuadriBar – Exercício de Cão Traste

Traste 1

Já só conseguia ter um olho aberto e mesmo esse só dava imagens desfocadas. Entre a neblina da indecisão parecia-me ver tudo castanho-brilhante. Algumas indagações mentais mais tarde, percebi que tinha a cabeça sobre o balcão. Estava de volta ao bar. Decidido a combater a inércia abri o outro olho.

Agora via tudo em amarelo-torrado com oscilações. Estava a ver através do copo de uísque. Numa tristeza sorridente pensei que não deveria ser possível descer mais baixo na escala da humilhação (ainda bem que estava encostado ao balcão!) e chamei a mim todos os sentidos necessários à operação levantar de cabeça: equilíbrio, orientação, força e força de vontade. Cinco minutos depois a operação revestia-se de sucesso. Embora um bocadinho oscilante, a cabeça encontrava-se na verticalidade possível.

Sobre o balcão estavam sete copos cuidadosamente alinhados. Em comum tinham o facto de estarem vazios. O oitavo, o que ainda tinha líquido, estava mais próximo de mim por dois motivos: primeiro era o único que estava ao alcance da mão sem ter que esticar o braço, segundo eu já tinha olhado através dele e por isso conhecia o seu interior como ninguém.

Entretido com os meus pensamentos tão pouco sóbrios nem reparei nos acontecimentos seguintes.


Traste 2

Desapertei o botão. A porcaria da gravata que não servira para nada, já me começava a apertar os nervos. Decidi soltá-los. Que bons estes amendoins. – Dê-me outra tacinha, por favor.

Um gole pequenino que isto tem que durar. Venho a este bar todos os dias, bebo um uísque com dois dedos de água e uma pedrinha de gelo todos os dias (com muitos amendoins!), sento-me no mesmo banco todos os dias, encosto-me ao balcão todos os dias. Todos os dias trago um fato diferente, todos os dias venho de uma entrevista diferente. Que merda de rotina. Continuo desempregado! – Outra tacinha, por favor. – São mesmo bons.

Cada carta da (in)segurança social aumenta-me as pulsações do desespero e a sede! Não fosse a minha escassa liquidez e o líquido aumentava. Aqui devem pensar que sou forreta. Se eles soubessem que não tenho mais… mas os amendoins são mesmo, mesmo bons.

- Outra tacinha, por favor.



Traste 3

Nem o decote me valeu, aposto que o editor é gay. Já revi o romance três vezes e mesmo assim ele diz que ainda não está bem. É sempre a mesma conversa de que eu tinha prometido tanto com o meu conto das Bicicletas 5 e que era uma romancista nata e blá, blá, blá…

- Um uísque com Água Castelo, por favor.

Que estúpido! O que é que ele percebe de romances?! Eu merecia publicar e ainda não consegui mais que um conto neste livro: Bicicletas para Memórias & Invenções 5 - Colectânea de contos dos alunos da Companhia do Eu. No entanto, anda sempre comigo. Não consigo é abri-lo mais. Fica pousado sobre o balcão.

- Um uísque com Água Castelo, por favor.

O gordo já está outra vez a deixar cair a cabeça e o desengravatado não deve ter conseguido arranjar emprego ainda. Que nojo! Já não posso ver as mesmas caras todos os dias. Na verdade, não sei o que venho aqui fazer todos os dias.

- Um…
- … uísque com Água Castelo?
- Obrigada.


Cão 4

Fechei a porta com o estrondo habitual de quem foge da chuva. Sacudi a gabardine, pendurei-a. Sacudi o chapéu, deixei-o no cesto. Lá dentro o tom castanho-fumo escondia os bêbados do costume: o meu outro Eu já deixava cair a cabeça no balcão. Tinha sido o primeiro a chegar e era pela linha temporal o mais bêbado.

O Personagem 1 que devia ter chegado pouco depois, mastigava os amendoins com a boca toda. Como era a única coisa que não se pagava, era o que repetia mais vezes. O uísque devia ser o primeiro, a julgar pela habitual característica forreta. Cada dia um fato diferente e a esta hora sempre com a gravata desapertada de frustração. Não se desse o caso de ser meu irmão e nem sequer me preocupava em dirigir-lhe o olhar. Cumprimentei-o com a indiferença que pautou toda a nossa vida.

Ao seu lado, a Personagem 2, terceira da ordem de chegada trazia o seu livro do costume: Bicicletas 5. Nunca o lia, mas adorava usá-lo como base para o copo. Já era a terceira vez que eu lhe recusava o romance, mas a verdade é que a gaja não escreve nada e não percebe que só a recebo por causa dos decotes. Não sei porque é que ela insiste em frequentar o mesmo bar que eu. Deve ser para me fulminar com aquele olhar de fundo de balcão, via uísque com água castelo.

Aproximei-me do meu outro Eu, o que me era mais familiar pelo narciso entendimento, e perguntei-lhe o que é que eu ia beber.

- Um uísque duplo sem gelo. – Respondeu ele virado para o barman em tom de pedido e antes de voltar a deixar cair a cabeça.

Brunorix McFerrin

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, put, put, pássaro preto voa! Humpf, brrrr, bum, put, pássaro preto voa! Pum, bum, na direcção da luz na noite escura! Humpf, humpf, humpf.

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, put, put, pássaro preto voa! Humpf, brrrr, bum, put, pássaro preto voa! Pum, bum, na direcção da luz na noite escura! Humpf, humpf, humpf.

Humpf, humpf, humpf, pássaro preto! Bum, tum, tum, tum, bum, tum, tum, pássaro preto voa! Humpf, humpf, humpf. Estavas só à espera deste momento para te elevares! Humpf, humpf, humpf.

Brrrrr, put, tum, bum… humpf!



Impressionantemente Bobby McFerrin

Pronto é assim, o ambiente anda musical. Talvez seja para compensar a falta de palavras ou então apenas um atraso nas descobertas. A verdade é que este senhor é brilhante e não posso deixar de o dizer… e mostrar!


Blackbird





Drive

M18 – Contos Lúbricos XVI (um regresso curto, mas com música!)

Preâmbulo: Embora não obrigatório, é fundamental envolver a escrita com esta música.



Sentiu a madeira fria nas pernas. Esticou o arco com o número de voltas certas. Pôs resina. O primeiro contacto do arco com as cordas produziu o mais melodioso dos arrepios. A vibração das cordas tornava o momento excitante. O corpo do violoncelo, encostado ao seu tornava-os num complemento. Ambos nus.

Nota após nota o seu calor aumentava num tom de prazer aveludado. As pernas abertas, encaixadas à volta do instrumento deixavam sentir uma suave brisa no seu interior cada vez mais húmido. Os olhos sempre fechados ouviam em uníssono o abraço daquela música desconcertante. O arco bailava para trás e para a frente numa dança de volúpia musical, ora devagar, ora depressa, Pianíssimo

Alguns compassos depois o violoncelo beijava-lhe o seio cada vez mais rijo de tanto tocar. O arco não parava e o instrumento também não. O corpo de madeira, agora não tanto, agarrava-se ao seu tronco impecavelmente erecto na mais clássica e correcta das posições. As pernas apertavam cada vez mais o violoncelo mulher enquanto a vibração das cordas se deixava embalar num beijo de línguas compassadas.

As folhas da pauta viravam com vida própria enquanto os dedos do violoncelo deslizavam pelo interior das suas coxas na direcção de um orgasmo que se adivinhava no virar da próxima página. O arco seguia já quase sem resina numa incansável massagem de erotismo barroco. Os seus seios pediam beijos ao mesmo tempo que os dedos seguiam ao ritmo do arco. Suores quentes e frios misturavam-se em colcheias de prazer. A página virou.

A partitura exaltava o momento e pedia o último compasso Prestíssimo. O arco exausto suava na luxúria do andamento que se atingia. Beijos dedos e outras notas corriam contra o inevitável. O tempo não esticava e os corpos atingiam o auge. Soou a última nota de uma corda agora vocal: o gemido foi tão intenso que o livro de pautas se fechou. Um orgasmo em apoteose deixava manchada a cadeira da verdade. A música terminara despedindo-se numa ofegante respiração quase silenciosa.

Uma batida agitada na porta acordou o momento:

- Maria! Estás a ensaiar há duas horas, não é melhor fazeres uma pausa filha?



O Solista (depois de ler já se pode ouver*).


Idos os tempos em que no Clube de Leitura se devoraram os acordes lidos desta impressionante história de vida. Verdadeira, para acicatar os espíritos mais incrédulos e os amantes da ficção. Aqui, tudo aconteceu e o filme, tal como o livro, quase podia ser um documentário de tão próximo que está dos acontecimentos originais. No entanto, se fosse um documentário passava despercebido da maioria. Se o livro já tinha os seus pozinhos de ficção, o filme acrescentou uns quantos mais não deixando de contar o mais importante, e sobretudo, talvez o verdadeiro âmago de toda a trama: a crítica social. Bang! Em cheio.

Em termos mais cinéfilos é de salientar a boa interpretação de Robert Downey Jr e a MUITO boa interpretação de Jamie Foxx. Além do substrato todo já falado, ainda saímos da sala com a mais transversal de todas as linguagens no ouvido: a música. Faça-se ouvir.






E para lembrar que as histórias reais não acabam no fim dos filmes ou no último capítulo dos livros, aqui ficam as caras verdadeiras, com as suas vidas verdadeiras e as suas histórias sobre a verdade.





* - Ouver é uma conjugação entre o cinema e a música. Neste filme tem que se ouvir o que se vê!

Solo de guitarra… sem guitarra.

Como se fosse essencial ter uma guitarra para tocar guitarra. O que é preciso é originalidade e muita, muita qualidade. Para manter a linguagem universal da música basta ter garganta, sobretudo uma que encanta!




P.S. – Powerd by

Olhá bela da t-xarte! – II


Ainda o sol não sabia que era dia e já a necessidade se levantava na direcção de uma feira que não era Terça por ser Sábado, na expectativa de uma Ladra que vendia o que era seu. O pensamento positivo de que o que tem que ser tem muita força, ajudou a abraçar a saída nocturna com a tralha pelas costas.

A confusão era geral e fazia-se acompanhar por um frio fininho que insistia em dormir do lado de dentro da única roupa que não era para vender: a do corpo. Por todo o lado se instalavam pertences em esperanças de 2 por 2 (metros) com licença! Passe, passe que eu também a paguei e não vejo cá o nome de ninguém. Por acaso hoje pode ficar aí que a senhora não vem. Ainda bem. Siga a venda!

As primeiras conquistas fizeram-se ainda sem luz e logo no desembrulhar da coisa. A mercadoria ainda nem assentara no expositor e já alguém as cobiçava, e levava. Sempre ao preço certo. Nem mais nem menos. É escolher.

JBJ Lda., fizeram da parceria a alegria da troca quase directa, como o sono, e não perderam o sorriso na disputa. Começar por cima, rir de baixo e chegar a acordo lá pelo meio. Visitas, fizeram-se sentir em doce recordação. Obrigadão!

Tire lá qualquer coisa que ainda tenho que fazer a bainha. Tadinha. Tome lá o desconto, por causa do ponto, mas não leva saco. Se levar cinco só paga quatro. Ai que é tudo tão pequenino, quem me dera caber aí. Não há problema que o tecido estica. Olhe que isto é verdadeiro. Epá calma que eu vi primeiro.

Um ano e meio volvido e com a mesma música 8 ali do lado, a inclinação da aventura relembra depois de 11 horas a satisfação das dores nas costas. Gostas?! A causa é boa e assim tudo se aproveita, tá a conta feita.




P.S. - É de salientar a avidez com os clientes escolhiam a mercadora...

Contos deste ano #8

O Valor sentou-se na Dúvida e pensou quanto valeria tudo o que vale qualquer coisa. Qual não foi o seu espanto, quando a pensamento tanto, se apercebeu que no valor tudo poisa. Levantou-se da Dúvida (que entretanto já se queixava do peso) e sentou-se na Convicção onde um pensamento mais teso já lhe fazia comichão.

Deixou-se comichar valorizando o Sentimento, até que a dado momento, sentiu prazer. Não daquele de sentir, mas daquele de se ver. Igualmente bom de cheirar, sorriu no que estava para vir e no que acabava de chegar. Seria o valor do sentimento?

Dois assentamentos mais abaixo, valorizou o Dinheiro. Que cheiro! Empestado de manipulação, não dizia que sim, mas também não dizia que não. Sentiu o ódio e a felicidade unidos na mesma puberdade. Que valor seria aquele, na verdade?

Sentado agora no valor de cada Nota, sentiu-se primeiro idiota e depois, cuspiu na derrota. Seria musical? Talvez fosse classificação, embora essa nem sempre tenha razão. Deixou-se atribuir, em jeito de pauta e musicou o plural do seu sentir: 20 valores!

Cansado de tanto se sentar o Valor levantou-se no destino e concluiu, para acabar, que tudo o que vale não tem tino e que o nada vale o que quisermos dar. Será que isto vale alguma coisa?



Millennium 1 - Män som Hatar Kvinnor


Filmes de livros, livros de filmes, livros filmados, filmes livrados. Livra, que é sempre a mesma questão… claro que é muito difícil “enfiar” 600 páginas de um romance em 120 minutos de imagem. No entanto, depois de adorar o livro adorei o filme.

Nada substitui o prazer da palavra e a ânsia de virar páginas para saber mais detalhes do mistério, mas também nada substitui a imagem e o estímulo visual que nos faz pular na cadeira. Por isso, não se comparam os campos da ficção… complementam-se!

As versões estão muito parecidas e no filme “apenas” alguns pormenores foram alterados. Se leram o livro vejam o filme, se viram o filme leiam o livro, se não fizeram nenhuma das coisas aproveitem e façam as duas.



CLUBE DE LEITURA – Próximo!

Livros da moda. Esse fenómeno que nos faz ler em massa. Às vezes uma maçada, outras nem por isso. Aderimos a alguns, recusamos outros, mal dizemos outros tantos, mas há sempre um ou outro a que não conseguimos resistir. Estilos muito diferentes, como é apanágio aqui do Clube, juntam do mais clássico ao mais recente.

A próxima votação será entre alguns desses fenómenos, todos sobre a forma de trilogia. Depois de uma dose dupla, nada melhor que uma dose tripla! O desafio será ler os três livros da colecção mais votada e comentar o todo, ou cada um, ou como entenderem. A vossa justiça dirá se a massificação é merecida ou não. A ver:


1 – O Senhor dos Anéis – J. R. R. Tolkien (John Ronald Reuel Tolkien)

1.1. - A Irmandade do Anel
1.2. - As Duas Torres
1.3. - O Retorno do Rei



2 - Millennium –Stieg Larsson

2.1. - Os Homens que odeiam as Mulheres
2.2. - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo
2.3. - A Rainha no Palácio das Correntes de Ar


3– Mundos Paralelos – Philip Pullman

3.1. - A Bússola Dourada
3.2. - A Torre dos Anjos
3.3. - O Telescópio de Âmbar


Um abraço de 2 metros com bigode

Veio de longe com uma mala cheia de boas intenções na mão. Trazia no olhar a tranquilidade própria, misturada com a estranheza da vida polvilhada por um espanto quase inocente. As palavras saíam em acordes de melodia familiar embaladas por doses certas de preocupação.

Demorou trinta e cinco anos a chegar, mas não tardou a ocasião. Também não se fez ladrão, nem criou confusão. Apenas veio. Sincero, sem merdas. Franco de amizade, soube a pouco o tempo e a partilha.

A geografia da vida não permitiu outros tantos, mas criou linhas. Linhas de respeito e admiração. Linhas de orgulho e até algumas de inveja. O comboio do regresso levou a mala menos cheia de confusões, mas carregada de momentos. Foram intensos. Na estação ficou a saudade. No mínimo que se repita.

Obrigado por teres vindo… abraço!


O regresso dos Exercícios

Premissas: Alguém está a cortar algo com uma faca (carne, peixe, fruta ou legumes).
Exercício 1: Descrever a cena dando uma noção de irritação da pessoa.
Exercício 2: Descrever a mesma cena como se estivesse a fazer amor.
Tempo: 5 minutos cada.


Exercício 1

O primeiro golpe acertou no dedo, o segundo na cenoura e o terceiro no tomate. O quarto, que já foi com o cabo, esborrachou em vez de cortar. A vítima foi o alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo, mas não deu hipótese à cenoura e ao tomate. Quanto ao alho francês, esse já estava morto. Repetiu tudo incluindo o dedo. Imbuído de espírito cortante, cortou tudo: cenoura, tomate, dedo. Cenoura, tomate, cenoura. Tomate, dedo, tomate, cenoura, dedo, dedo.

A faca saltava descontroladamente de um vegetal para outro. O tom avermelhado dos vegetais sobre a mesa indicava que várias vezes voltara aos dedos.




Exercício 2

O primeiro golpe acertou no dedo. Foi o primeiro arrepio. O segundo acertou na cenoura, as pernas tremeram. O terceiro acertou no tomate com um lascivo poder de corte. O quarto que foi mais esfregado que cortado, esborrachou um erecto alho francês.

Recomeçou. Desta vez não foi ao dedo mas penetrou a faca na cenoura e no tomate. E penetrou de novo. A cenoura e o tomate pediam mais. Agora com as duas mãos.

- Espeta-me outra! – Gritou a cenoura.
- Não te esqueças de mim… – Gemeu o tomate.

Mãos, cenoura, tomate e facas dançavam descontroladamente. Surgiu sangue sobre a mesa, um deles ficara mais experiente. Afinal não. Tinha-se cortado.