Clube de Leitura – O Jogo do Anjo

Mais um atraso neste Carnaval, mas como mais vale tarde que nunca é chegada a hora de comentar um dos livros mais votados aqui do Clube. Já surgiram comentários no post de escolha do livro, tal era a vontade de opinar.




Amado por uns odiados por outros, como é próprio das grandes obras, a indiferença aqui não tem lugar e os números não mentem. Que dizer desta quase sequela do brilhante (A Sombra do Vento) que continua em torno de cemitério de livros, escritores, romances, publicações e intrigas literárias?

Agucem as canetas da opinião e escrevam de vossa (in)justiça. Abram as comportas do sentimento lido e comentem a partilha interiorizada. Afinal, tudo não passa de um jogo, quer tenha anjos ou não!



P.S. - Não se esqueçam de ir sugerindo livros para serem votados para a próxima leitura.

Obituemo-nos #5

Primeiro foram as mãos e depois foi a frase, numa clara e sentida evidência perante o destino. No entanto, mesmo o que se espera custa, e custa muito. Todas as palavras são poucas para uma vida como esta. Se tiver que escolher uma, só pode ser: obrigado!


António Augusto Lagoa Henriques
(1923-2009)

P.S. – Às vezes o tempo é um amigo cruel e junta acontecimentos igualmente antagónicos no mesmo dia. Enquanto este Mestre mergulhava para sempre na terra celebrando o fim da sua presença física, eu deixava-me enterrar no mar a chorar o meu nascimento. A distância só me deixou escrever agora.

Cumpleaños Bajo el Agua

Não foram 4 dias de afastamento. Foram 6, porque a acumulação era tanta que após o regresso nem consegui bilhetar. Mas bilheto agora, muito cansado e ainda extasiado com tanta água. Foi assim a atirar para o frio, mas o prazer suplantou qualquer temperatura e a emoção aqueceu tudo.




Os agradecimentos não se medem mas sentem-se, e este é muito sentido por tudo. Ambientes aquáticos diferentes, partilhas molhadas e muita alegria, pese embora o contraste das notícias recebidas da terra mãe sobre um seu filho que desaparecera. A mescla de sentimentos palpitava no coração das profundezas e permitia sorrir dentro das máscaras deste carnaval aquático.

A marca dos 35 bebeu-se em ambiente diferente e com outras companhias, todos mascarados (com máscaras), a trocar ar por champanhe e a misturar bolhas de diferentes gases... e fomos capazes!





Foi bom saber que nem todas as políticas cerram barreiras e que algumas fronteiras (como a da cultura) não se erguem por mudar de país. Nuestros hermanos também o sentiram, e escreveram! (El País, 24/02/09)



Entre água (muita água!), tortilhas, armadilhas e calamares, 2000 km e outros ares, o balanço é para lá de positivo, é assim de uma aquaticidade de... Puta Madre!*


* - NT: aplicável em todas as situações, para dar enfâse e emoção sem falsos pudores e com a naturalidade da língua.

Carnaval Molhado

As saudades do ambiente já estão ressequidas de tanto esperar. Na azáfama da surpresa juntam-se materiais e outros enxovais, numa amálgama de vontades embaladas e recolhas já esquecidas.

A lista é enorme e espalhada ainda parece maior, mas o prazer de manusear cada peça antecipando a utilização específica e a contribuição que tem para o sabor final, torna a preparação numa deliciosa entrada do mais refinado gourmet de mergulho.



Partimos na direcção do sonho, na procura de outros fundos e imagens novas. A surpresa da oferta ainda ferve nas veias do espanto e o agradecimento da partilha aquática será merecido. Cabo de Gata espera por nosotros e maravilhas como El Vapor e Cuevas del Frances, aguardam a nossa ânsia.



Vão ser 4 dias sem Bilhete de Ida, compensados depois por escrita de volta. Não há bela sem senão e o afastamento a isso obriga. Custa estar longe, mas a compensação aquática é por demais satisfatória. Vão-se refrescando as palavras para posteriores mergulhos (de) escritos.

Até lá bom Carnaval, que eu vou andar mascarado de peixe o tempo todo e até volto mais velho!




The Sound of Words - XIV

(julgamento final: réu bom e réu mau)

Juiz: Aproximem-se os réus! Têm alguma coisa a declarar?
Réu Bom: Nada, Sua Excelência.
Réu Mau: Népias sôtor.
Juiz: Réu Mau morra! Réu Bom viva!


Um verdadeiro amor nunca se esquece

Março era o mês. O ano era o de 2003. Entrei e estavas encostado à parede. De todos, foste aquele. Foste o que me lançou anzóis aos olhos, e eu, que nem um peixe, deixei-me ir preso na linha da atracção. Não sei o que foi que mais me agradou em ti, mas foi um verdadeiro amor à primeira vista.

Estavas num esplendor imponente, mas não altivo. A luz incidia em ti realçando as tuas cores e dando um brilho mágico às tuas tonalidades. Com a ousadia própria de quem sabe que é bonito, chamavas por mim. E eu fui. Fui sem pensar no porquê. Fui fascinado pelo arrepio que me causava olhar para ti. Simplesmente fui.

Nesse dia tinhas 10 anos. Agora que tens 16, não sei onde estás e não há um dia em que não me arrependa de não ter sabido mais sobre ti. Onde moravas, para onde ias, de onde vinhas… Sei apenas o nome do teu pai: Hilário Teixeira Lopes.

Lamento que na altura o número que tinhas ao teu lado na parede, me tenha assustado tanto, mas a realidade é que me apaixonei por ti e até hoje nunca te consegui esquecer. Guardo a tua foto e olho-te muitas vezes. Por onde andarás? Quem terá o prazer e o privilégio de olhar para ti todos os dias?



A inveja é um sentimento feio, mas existe e eu tenho inveja de quem estiver contigo. Se algum dia quiseres dizer onde estás, como têm sido estes anos para ti… vou querer saber tudo! Beberei com sofreguidão o teu trajecto e tentarei rir de alegria. Até lá mantenho acesa a chama da saudade, com a certeza que jamais te esquecerei.

Um abraço de todas as tuas cores.


P.S. – Se alguém souber do teu paradeiro, gostava mesmo de saber…


Ventos de Carnaval


Hum… não sei não… aquela maneira de juntar as mãozinhas… Eu não ponho as minhas no fogo por ninguém… nunca se sabe que “anormal” nos calha no disfarce!

Momentos Aquáticos

Se a envolvência líquida é maravilhosa, bem acompanhada é extraordinária. A inteligência da comunicação sem palavras, pode ser arrepiante e bonita. A ver…




P.S. - Um aquário para um aquário...

Árvore, especialmente, Escrita

Os dias são todos iguais, excepto quando não são. Hoje é um dia igual aos outros, com o mesmo horário, com o mesmo trajecto, com o mesmo emprego, com a mesma crise, com a mesma alegria e com todos os mesmos dos outros dias. No entanto, é um dia completamente diferente dos outros todos. É diferente porque hoje não só penso em ti, como nos outros dias, mas porque escrevo só para ti para te dizer o que penso em todos os dias que não o faço.

És o meu ídolo! E aos verdadeiros ídolos devíamos dizer todos os dias a admiração que temos por eles, o quanto gostaríamos de os imitar, o quanto invejamos os seus pensamentos e ideias, o quanto os amamos e o quanto idolatramos as pegadas que deixam na vida. Mas não dizemos. Deixamos tudo guardado na gaveta de um móvel de lassidão e de certeza diária…

Mas hoje digo. Digo e repito em voz escrita nas asas do vento para que se sopre por toda o lado. Grito nas entrelinhas da alma, com a força do sentimento conquistado em batalhas de crescimento. Escrevo em tábuas de passado a mensagem do presente. Canto na alegria da celebração toda a tua existência e consistência. Danço na memória do amanhã ao homem que sempre foste.




Foram árduos os caminhos que nos trouxeram aqui e que nos fazem (agora) sorrir na tranquilidade do que sabemos. Apertamos as mãos de certeza, sem surpresa, e contentes da envolvência seguimos no mergulhar das vontades.

Para que todas as memórias naveguem na direcção do amanhã, deixo plantada esta árvore escrita para celebrar este dia tão especialmente igual a todos, mas em que fica a marca da comemoração de mais um dia especial.

Parabéns Rei Leão!

(Psic) Análise do Comportamento Carnal – I

Curiosa esta dicotomia pensante que me assoma quando olho para as pessoas. Como será este na actuação íntima? Que dirá esta durante o acto? Até onde irão estes dois? Não sei se haverá classificações profissionalmente estabelecidas onde enquadrar o estilo de cada um, mas há concerteza comportamentos classificáveis.

Assim para entrada de conversa, diria que há logo dois grandes grupos: os que são o que são sempre e os que se transformam de todo. Exemplos: 1 - fulano muito extrovertido, brincalhão, que se mete com toda a gente lá no escritório – na hora de se despir é logo o primeiro, mantém a sua desinibição habitual e gosta até de liderar e propor “coisas”; 2 – fulana precisamente o oposto. Muito calada, com um ar inseguro, sempre a pedir desculpa por ter nascido - na intimidade rasga a roupa toda (de ambos), grita como um animal selvagem e pede mais e mais no mais refinado e vernáculo português de rua. Não há nenhuma relação entre as asneiras para ela e a desinibição para ele, era ilustrativo e pode ser exactamente o contrário.

Diria também, que temos o grupo dos clássicos e dos modernos. Exemplos: 1 – nada antes do casamento. Despir de luz apagada e enfiar rapidamente na cama. Sempre à missionário, adeus e até amanhã; 2 – acontece tudo logo no primeiro encontro. Já se vão a despir no elevador e muda de posição, agora eu de pé. Esta perna é minha ou é tua?




Claro que todos os grupos têm subgrupos e dentro dos clássicos ainda temos os que depois pagam por fora sabe-se lá onde e os eternamente monogâmicos de alma e coração e do resto; enquanto os modernos se subdividem em poligâmicos consentidos, isto é, vamos a 2+2 ou 3 ou 4 e a vizinha debaixo também pode vir (para cima) e os poligâmicos enganadores e diversificados que escondem a quantidade e a variedade, entrando no campo dos bi, tri, quadri e sei lá que mais.

É esta a primeira análise (ou tentativa de) de um mundo maravilhoso de classes e subclasses, espécies e subespécies e todas as divisões e classificações que se conseguirem arranjar. Os estilos variam, os gostos e as vontades também, mas uma coisa nunca muda: a curiosidade de sabermos estas coisas uns dos outros.

Prometo continuar... ou não...

FRASEANDO #14

O grande problema do nosso tempo é conciliar a técnica com a ética, a estética e a poética.

Lagoa Henriques



As mãos de sempre

Este está a ser, para mim, um ano mórbido. O tema continua presente de uma maneira vincada e persistente. É uma daquelas realidades da vida que todos sabemos que existe, que está lá e que faz parte. Aprendemos a viver com a sua proximidade e com o seu bafo constante sempre a rondar o pescoço do nosso dia-a-dia.

Mas uma coisa é saber que está lá, outra coisa é chocar com essa realidade amiúde e em espaços de tempo muito próximos. Desta vez dei com a morte ainda viva. Um Mestre de vida, cuja obra estou a perpetuar numa tese que emergiu agora de novo das catacumbas da lassidão, tem a morte no olhar e no corpo.

Estive uns meses sem o ver e ontem por causa do trabalho, visitei-o. Sabia que estava doente, mas não sabia que estava morto, embora ainda vivo. Nunca tinha tido nenhum contacto com esta realidade, desta maneira e fiquei profundamente chocado. Ele que sempre teve uma postura bem engraçada perante este caminhar da vida e que se dizia há muito tempo na nona idade a acenar para todos nós…




Não o reconheci. Não lhe vi o olhar de sempre. Quase não o ouvi e partilhei por momentos a angústia do que é estar sentado, simplesmente à espera que tudo se desligue. Se o visse noutro contexto, nem saberia dizer que era ele. Curiosamente, só as mãos, que toda a vida usou na sua obra, estão iguais. Tudo o resto são sombras de um homem que já não está ali. Senti uma profunda incapacidade sobre o destino e uma forte mágoa pela realidade que nos ultrapassa com a frieza calculista de que não há nada a fazer.

Agora, mais do que nunca, sinto que tenho que fazer a homenagem devida, a uma vida que merece ser eternizada. Gostava que ele tivesse tido tempo de a consciencializar e só peço que ele me perdoe por não o ter feito antes. No entanto, o sentimento de honra é o mesmo.




Atirei uma vontade só de ida
Para quem a quisesse apanhar.
Gritei nos altos da vida,
Que a memória veio pra ficar,
Na certeza de que cada instante,
Permanecerá para sempre brilhante!

Hoje ao homem, deixo a ideia,
Amanhã ao amigo, deixo o meu intento.
Professor: esta homenagem, deixei-a
A boiar nas águas do seu contentamento.
Mesmo sabendo como ambos sabemos,
Que nem tudo será como ambos queremos!



(foram estas as palavras com que fechei o trabalho que agora retomo)

Ken Lee

Já muito conhecido, mas sempre retemperador, este momento de cultura musical e linguística é o mote para o ânimo que se precisa numa sexta-feira 13…





P.S. – Não se admirem se derem por vocês a trautear o Ken Lee… isto prende-se aos ouvidos!

Contos deste Ano #5

Limonada Final

Maria Elvira, também de nome Limão, era tida por ter tido ira, contra tudo, contra todos e contra o irmão. Do alto do seu sexagenário tempo, olhava o mundo desconfiada. Dobrava-se ao peso dos anos, sentindo no viver desalento e no acordar não via nada.

Confundia cores de passado com pinceladas de presente, tinha comportamento marcado, por vezes desafinado e andava sempre ausente. Louca de todo, diziam uns quantos, aquilo é da idade, respondiam outros que tais. Deixa-nos a todos perdidos em prantos, vejam lá que no outro dia andou a assaltar quintais!

Parece que galgou muro de outros tempos, como se apenas 10 anos tivesse, roubou fruta e outros tentos, partiu vidros e lamentos e ainda gritou uma ou outra prece. Quem não gostou nada do dito assalto, foi o dono o Tio Sebastião, que quando viu o estrago do salto, depressa lhe jogou a mão. No entanto, perdeu-se de espanto ao ver larápia tão avançada, na idade diga-se por enquanto, pois do juízo estava muito atrasada.

Lá foi seu irmão penoso, buscá-la de nova loucura. Estava cansado e pesaroso o pobre irmão cura. Vezes sem conta deu passos neste destino, para levar Elvira de volta, que ainda reagia com muito desatino e o acusava de medo e também revolta.




Nos ataques de ausência pura, percorria a cidade em transportes, e não pensem já não serem fortes as suas viagens sempre à pendura. Era vê-la junto aos miúdos, bem agarradinhos no frio do eléctrico, com o contraste dos seus brancos graúdos, causava arrepios de medo tétrico. E se caía por ali um dia?

Assim passavam os tempos, nesta mistura de idades ausentes. Vivia no fio dos contratempos, pesava loucura, mas ainda tinha dentes. E eram fortes para o vigor que tinha, e eram saudáveis para esta idade de acidentes. Ela sentia idades diferentes, só não estava era bem da pinha.

Até que um dia de alívio para todos, não abriu os olhos ao acordar, não mexeu nada no amanhecer. O que lhe deu ninguém sabe contar, o que se passou ainda se está para saber. Da Elvira passada, a marca a reter, é que o vento se pagou e acabara de morrer.

Pensamentos Políticos

Ainda bem que o Angolagate, se passa lá. Porque se fosse cá, não chegavam as armas para eliminar tamanho cágate!



The Sound of Words - XIII

(Lamy passou por cá)

- Então Lamy, que tal?
- É um blogue fantástico!





Contos de Outrora (2ª parte)

MAÇÃS SALGADAS #2

Os meus dedos aterrorizados cravaram-se na maçã indiferente, com a força do sumo que já escorria. Vinda do fundo do medo, uma onda de energia fez-me correr como nunca na direcção do muro e do respectivo salto salvador.

O dono do berro, não se deu ao trabalho de correr atrás de mim, mas agarrou na famosa espingarda (sempre pensei que ela não existia) e apontou-a num gesto claramente repetido vezes sem conta, enquanto eu corria com a minha experiência cinematográfica, isto é, em ziguezague.

Ouvi uma primeira saraivada salgada, mas parecia estar tudo bem pois não senti nada. Ainda estava a correr e o muro estava próximo. Só falta o salto… saltei!

Do lado de lá da aterragem, a multidão de olhos curiosos, fazia perguntas sem sequer falar. Ainda bem que as maçãs cheiram, pois aquela massa disforme e esmagada que eu ainda apertava, parecia tudo menos uma maçã. Prova superada!

De volta à sala de aula não se falava de outra coisa, eu tinha finalmente marcado pontos e aquele dia era meu. Estava inchado de orgulho e não cabia no contentamento do meu casaco. Assim que me sentei levantei-me logo, um calor doloroso acabara de atacar uma zona do meu corpo que devia ser ali para os lados do fundo do rabo, ou do cimo da coxa, não sei bem. Pensei que me devia ter arranhado no salto e sentei-me mais devagar.

Os cinquenta minutos de aula seguintes foram dolorosos e, apenas refrescados, pelo meio, por alguns olhares de cumplicidade e admiração. No intervalo arrastei a minha dor à casa de banho e na intimidade do cubículo sanital, baixei as calças para uma inspecção mais minuciosa. O resultado da minha pesquisa tinha revelado, não só um buraco nas calças, mas outro na tal zona do meu corpo. Eu tinha levado um tiro de sal!

Anos passados, muros e maçãs também, e uma pequena marca ainda hoje me lembra o preço da aventura. Podia ter corrido mal, mas não correu e, sobretudo, ninguém soube da marca infligida. Para a história (a minha) fica a memória de uma fase da vida em que todos os dias nos púnhamos à prova e onde o perigo inconsciente espreitava… atrás das árvores do crescimento.

Ainda gosto de saltar muros, mas prefiro maçãs sem sal.



FRASEANDO #13

Os livros são os túmulos dos que não podem morrer.

George Crabbe


George Crabbe
(1754-1832)

Dose Dupla

Abençoados os conhecimentos deste mundo (e do outro), que nos fazem sair do caminho e nos permitem sorrir no orgulho alheio. Sonhos escritos, são realidades impressas em tardes de partilha.

Os eventos com livros, à volta dos livros e sobre livros, não param de surgir ao virar de cada página descrita (de escrita). No passado Sábado dirigi a minha expectativa de leitor na direcção da certeza escrita e entrei na sala da confirmação publicada. Desta vez, foi uma amiga (também daqui) que lançou, mais, duas preciosidades (eu agarrei uma de cada) para juntar ao espólio que a eternizará. Um livro sobre livros e um livro sobre a árvore que há em todos nós crianças. Respectivamente: Banquete de Textos e A Tia Árvore.







P.S. - Quem quiser saber mais sobre a autora e os livros e o blog e os livros e a autora, pode e deve passar pela sua (dela) casa...


7º na arte 8º na maravilha

Várias vezes pensei que não conseguia responder a perguntas como: qual é o filme da tua vida? Não consigo porque me custa escolher um entre tantos e gosto facilmente dos filmes que vejo. Não todos, mas bastantes. No entanto, de quando em vez deparo com maravilhas como este Slumdog Millionaire (Quem quer ser bilionário?) que guardarei com toda a facilidade na minha galeria de memórias a lembrar… sempre!




Quando um filme me consegue prender à cadeira com 120 minutos sempre em alta, eu guardarei para sempre no meu baú de tesouros, todas as emoções que senti. Do choque à emoção, passando pelo riso e chegando à ternura, tem de tudo. Em quantidade, em qualidade e com bom gosto. Podem vir todos os iluminados (frustrados) que dizem barbaridades como esta, ou esta, mas para mim (mero espectador ignorante que procura apenas prazer no cinema) este filme é, sobretudo, uma verdadeira história de amor, e não podia concordar mais com isto. Que GRANDE filme! Os indianos (revoltados) que não se preocupem porque o que fica retido nas pessoas não é a imagem de Bombaim, mas a emoção que levam por dentro quando saem a sorrir da sala.




E a música…? Perfeita! Agitou-me as chamuças da alma e não parei de abanar o pezinho! Ri, chorei, contorci-me na emoção do assento... adorei! Por mim, está entregue o Óscar!


CLUBE DE LEITURA – Jogos Angelicais

Foi clara a decisão da maioria. Enquanto as últimas notas do Solista ainda se fazem ler, 60 em cada 100 membros deste Clube tomaram a sua decisão, sob a forma de 9 dos 15 votos.

Já antes pensado em emitidos bilhetes neste blogue, O Jogo do Anjo de Carlos Ruiz Zafón vai ocupar as nossas mentes literárias nas próximas duas semanas. Aqui fica uma sinopse e um excerto:

SINOPSE:

Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.

Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.




EXCERTO:

Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço.


Relembro que todos os livros do Clube que já foram lidos, podem sempre ser comentados, bastando para isso escolher um dos links ali do lado direito. Bons comentários e ainda melhores leituras.

300º ANDAR

Terceira comemoração centesimal e a certeza de que este Bilhete veio para ficar. Já não me vejo sem ele e confirmo o exercício de aquecimento de uma aula de escrita criativa, em que se pedia em 30 segundos para justificar o porquê de escrever:

Escrevo, pelo fascínio de amontoar palavras de tijolo para construir edificios de leitura.

É essa construcção diária que me traz aqui todos os dias para colocar mais um tijolo. Agora que cheguei ao 300º andar ainda me surpreendo com a altura alcançada. Aqui em cima o ar já tem outro peso literário e por vezes é preciso respirar palavras e mais palavras para aguentar a pressão atmosférica da escrita.

Cada tijolo colocado, cada degrau subido, cada Bilhete emitido tiveram o condão de me fazer ler mais, de me ensinar a escrever, de me impulsionar na partilha de palavras e na descoberta de um mundo novo. Tenho vivido com livros, tenho rodeado os dias de acontecimentos literários, tenho respirado e absorvido influências escritas e trocas de leitura.




Sinto o vício das palavras a correr nas veias da escrita e espero chegar ao céu da criatividade, colocando cada vez mais e mais tijolos. O meu edifício de leitura irá continuar a emitir Bilhetes de Ida, assim me ajude a imaginação e a vontade.

Obrigado a todos os que foram subindo os degraus e que foram colocando massa crítica para segurar esta construção partilhada. É minha a vontade que a cria, é vossa a razão que a habita.

Pérolas da Sintaxe - 2

- Queria uma factura, por favor.
- Concerteza. Em que nome fica?
- É em nome da empresa. São só siglas: A... N... C...
- C de sapato?
- ...


Ainda pensei responder que não, que era com S de caixa, mas engasguei-me no riso contido e não consegui.

Funcionária Anónima
(Bilheteira da CP em Aveiro)

M18 - Contos Lúbricos XII (temperaturas pendulares*)

A 220 km por hora, os olhares cruzaram-se. Entenderam-se. Gostaram-se. As paragens seguintes foram em jogo de sedução. Olhar para cá, olhar para lá, esboços de sorrisos disfarçados, seguidos de sorrisos escandalosos.

Tudo parecia correr sobre carris. As vontades deslizavam no mesmo sentido e o jogo continuava. Ela abriu mais um botão da camisa e deixou antever uns voluptuosos seios, cercados por uma renda preta que insistia em espreitar. Ele agradeceu o vislumbre com um sorriso lascivo. O volume nas suas calças aumentou. Levantou-se para que ela o visse.




Uma passagem de revisor mais à frente, e ela vem na sua direcção com uma determinação sensual. O botão estava de novo apertado, mas o desejo dos seus seios não se conseguia disfarçar. Dois eróticos e excitados mamilos pareciam querer romper a camisa que os sufocava. O mundo olhava para eles, mas eles só olhavam um para o outro. Ao passar por ele, sussurrou:

- Daqui a 5 minutos no WC da esquerda. Duas pancadas, pausa, três pancadas.

Uma bola de fogo lúbrico percorreu o seu corpo em excitação antecipada. Esperou ansiosamente que passassem aqueles que foram, sem dúvida, os maiores e mais demorados 5 minutos da sua vida. Finalmente passados, dirigiu-se à porta indicada. Bateu duas vezes, esperou, bateu três vezes. A porta abriu e fechou num pasmar de olhos.

Lá dentro, os olhos reencontraram-se. Os risos reconheceram-se e os cheiros conheceram-se. As bocas juntaram-se sem palavras. As respectivas excitações ainda lá estavam. O espaço era lascivamente pequeno e o afastamento era felizmente impensável. Entre os corpos só cabia o calor da roupa a mais e as peles ansiosas de contacto, gritavam por liberdade. Concedida. Na medida do impossível, desapertou-se o que havia para desapertar.

Ela sentou-se no tampo da pequena sanita e entregou-se à descoberta do volume antes visto e imediatamente abocanhado. Um gemido contido dele, ecoou no pequeno cubículo. Sentiu a língua dela na sua intimidade oferecida e agradeceu mentalmente aquela viagem. Decidiu agradecer mais que isso e trocaram de posição.

Agora ela de pé. Num gesto quase maternal afagou a cabeça cuja boca já lambia com volúpia os seios que se confirmavam fartos. Continuou a descida exploratória e por baixo de um ventre perfumado arrancaram-se cuecas à dentada. Ela sentiu-se a escorrer por dentro, enquanto outros lábios se juntavam aos outros seus lambendo todo o seu desejo húmido.

Sem aguentar mais, ela sentou-se na explosiva erecção que aguardava impaciente o seu interior. Desta vez o gemido foi duplo. O balançar da carruagem aumentou o prazer. Lá fora ouviu-se o anunciar indiferente da estação seguinte.

- É a minha. Gemeu ele.
- A minha também. Suspirou ela.




Aceleraram o êxtase na loucura do tempo final e rebentaram em conjunto, mordendo-se de prazer mútuo. Em vez de números de telefone, trocaram orgasmos. Sensações vividas à pressa e vestiram-se no sorriso do cansaço acabado de chegar ao destino.

Lá fora, na plataforma os respectivos compromissos esperavam, por coincidência muito próximos. Beijos e abraços depois, anuncia-se em voz alta o sucesso da viagem e a necessidade de a repetir na semana seguinte.

Negócios da vida pendular!


* - Alfa Pendular, 06 de Fevereiro de 2009 (Aveiro – Lisboa).

Contos deste Ano #4

Maria vai com os outros

Apenas Maria, menina agora de bem, nasceu no fundo de uma bacia depois do esforço de sua mãe. O berço, de outrora latão, foi esquecido a rezar o terço, bem apertado na mão e segundo doutrina de sua religião. Fez-se à vida da conquista, agarrada ao sonho de mais, sem nunca perder de vista, objectivos, desejos e outros que tais.

Cedo estudou pose e altivez de confiança, largou depressa criança e cresceu muito e sempre mais. Já nem era reconhecida pelos próprios pais. Esses mesmo que escondeu numa gaveta, que isto de conquistas endinheiradas é assunto de saias travadas e ai de quem no meio se meta.

Andou por festas e outras andanças, sempre em almofadas de ilusão. Deitou mão e enfeitou testas, deste, daquele e ainda do irmão. Ganhou fama de abertura fatal e engordou cofre de cagança, pois vida ganha na horizontal, nem sempre dá segurança, mas quem muito coisa sempre alcança. Juntou muitos nomes ao que tinha, pomposos o quanto baste, sempre segurando na pontinha da sua bandeira de traste.




De cama em cama viveu na sombra, de vidas ganhas por sangue. Perscrutou vida de abutre, com voos de escolha langue. Aprisionou conquistas de perna, guardou vitórias em rodilha e ainda deixou na camilha cartas de gente terna com toques de muita matilha.

Assim vivia com a luxúria do que ganhava no ano, até que apareceu tal figura, de corpo presente bacano. Perdeu-se de amores em revista, e pela primeira vez a conquista foi do outro, o tal de Elmano. Também ele se deitava a ganhar, vivendo em lençol de jeito quente. Se o queriam sentir e cheirar, pagavam bem e sempre à frente!

Trocada de voltas Maria, foi vitima do que sempre foi, quando viu que o cofre lhe fugia, chamou-lhe para cima de boi. Afinal deixou-se levar por encantos tantas vezes usados, que isto de saber muito trás sempre quem sabe, outros truques igualmente cantados.

E assim se fez volta à origem onde esteve sempre a pia, que esta de novo apenas Maria, sopra agora anos de fuligem e abre gavetas que já não queria. Em jeito de moral e conclusão, diz-se que quem alto voa sem estender a mão, sempre acaba a andar à toa seja de berço de ouro ou talvez não.

Pérolas da Sintaxe

Um com características completamente diferentes um do outro, e por isso jogam bem um com o outro.

Jorge Baptista
(Comentador SIC)

QUEM NÃO TEM CÃO… tem isto!

Não desesperem os pais das criancinhas lesadas, pois a solução já anda por aí. Neste país de atrasos e de atrasados (mentais) há sempre uma volta que esconde a derrota. Azul para os meninos, rosa (não se choquem) para as meninas…




The Sound of Words XII

(convenção mundial de dogmas)

- Oi, venho do Brasiu e me chamo dôgma… dogma circunflexo!
- Olá, venho de Portugal e sou o dogma… dogma desacentuado!
- Olã venhõ dã Tilãndia e sõu o dõgma… dogma til!





Contos de Outrora

MAÇÃS SALGADAS #1

Cheirava a fruta e a medo. A separar, um muro de pedra e areia que se ia desfazendo com o passar dos anos para o lado de lá e dos corajosos em sentido inverso. Sempre foi o grande baptismo daquela escola: conseguir trazer uma maçã para provar a ida. O sabor? Esse podia ser deitado fora.

Quarta-feira de aventuras. Já andava naquela escola há 3 meses e ainda não tinha saltado o muro. Já não conseguia fugir ao ritual de aceitação. Tinha chegado o meu dia.

Regras: saltar o muro que ficava nas traseiras da escola e voltar com uma maçã.

Primeira condicionante: do lado de lá do medo havia uma quinta com muitas árvores.

Segunda condicionante: as de fruta eram as mais longe do muro e as mais perto da casa.

Terceira condicionante: conseguir voltar são e salvo porque, segundo constava, o maluco do velho que lá vivia disparava sobre os miúdos que lá entravam.

Quarta condicionante: disparava mesmo. Embora fossem tiros de sal, faziam uma ferida dolorosa e eram o símbolo da derrota.




O ritual exigia que as regras fossem ditas em voz alta momentos antes da partida. Nesse dia nem as consegui ouvir e deixei que fossem abafadas pelos nervos. Os sons iam para o estômago e na cabeça só ouvia o coração. Já tinha as mãos encostadas à inevitável escalada e ainda hesitava. Os olhares de todos convenceram-me.

Passar para o outro lado era a parte fácil pela execução, mas difícil pelo que se seguia. Quando aterrei no chão que me esperava, estava a suar. As pernas tremiam e o corpo colava-se ao muro. As árvores eram horrivelmente bonitas e assustadoramente convidativas. Caminhei na direcção do cheiro, mas parecia nunca mais lá chegar. A única árvore que tinha maçãs, ficava mesmo junto à janela da casa do velho.

Dois troncos antes do objectivo fruto, parei para respensar (que é uma espécie de respiração do pensamento), acalmei as pulsações e comecei a correr com a determinação mais assustada que tinha. Agarrei a maçã com a pressa da alegria e no regresso vitorioso deixei-a cair.

Voltei atrás para cumprir o destino honroso e no momento em que apanhei o frutado prémio, ouvi um berro que me aqueceu o pânico…


(continua)

FRASEANDO #12

A intuição é aquele estranho instinto que permite a uma mulher saber que está certa, esteja certa ou não.

Helen Rowland

Helen Rowland
(1875-1950)

Três dias, três filmes

Depois de um Sábado a valsar e de um Domingo a trocar, hoje ainda deu para usar o cartão mágico, mais uma vez. Como novidade, um post feito no espaço Medeia com internet grátis para quem tem cartão!

Sem muito tempo, deixo apenas a convicção de que a história é feita de muitas histórias. Esta, que também é verdadeira, impressiona pela força que é preciso para ter coragem e pela coragem que é preciso para continuar a ter força.


Bombating Card*

Estilos completamente diferentes e, por isso mesmo, complementares sem terem nada a ver. Animação sobre a realidade, realidade sobre a ficção e ficção realmente animada. Excelentes desempenhos: dos actores de carne e osso e dos de papel e tinta. Histórias bem pensadas, que pensam connosco e que nos deixam a pensar bem para lá do The End final (também não conheço nenhum que seja no início). Tramas bem tramadas, mas sem trauma: é apenas a realidade!

Tudo isto em dois filmes que se devem ver. Isto é, que não se devem perder. Quer dizer, é uma pena se não forem vistos. Ou seja: façam o favor de os ver, sim?!


A VALSA COM BASHIR





A TROCA




*- Que é como quem diz: dar uso ao cartãozinho mágico!

Playing For Change

Já conhecia de vários blogs e e-mails a versão “Stand by Me” deste movimento virtual, que pretende através da sua fundação (Playing For Change Foudation) ligar o mundo pela música, fornecendo recursos a músicos e às suas comunidades em todo o mundo.

Este movimento virtual, foi criado para inspirar, conectar e trazer paz ao mundo através da música. As versões são sobreposições de músicos de todo o mundo que vão gravando por cima do que está feito, até chegar a um produto final que corresponde à contribuição de todos. Deixo o meu contributo para a causa e a segunda música que filmaram.





P.S.: Podem sempre visitar o site e aderir ao movimento.