Foi ele que disse, não fui eu! - parte 2

(…) “- Não se arme em pudico, que estamos entre cavalheiros e toda a gente sabe que os homens são o elo perdido entre o pirata e o porco. Gosta dela ou não?” (…)


Carlos Ruiz Zafón, in O Jogo do Anjo



Bicha do Demónio

Perdoem-me os mais sensíveis e literatos seguidores, se também gosto de incautos momentos brejeiros. Mas que dá para rir, dá. Esta saga é sobejamente conhecida e merece ser seguida. Nada de preconceitos, nem pudores. Afinal é sexta-feira e rir é a melhor maneira!



Este é o primeiro episódio de 11 e daqui para a frente é sempre a descer de nível, mas a subir de interesse! O resto da série fica aqui no local original, onde se podem encontrar mais sagas. Sempre com bolinha no canto… mas afinal, não é essa a motivação?!

Jardim Jaleco

É repetido, bem sei. Mas não posso deixar de reforçar a alegria do que é bom, do que nos toca, (e se foi tocado!) e do que se descobre e redescobre! A magia é a mesma, a beleza e a nostalgia também, a diferença, aliás, a grande diferença é que agora se pode ouvir!




Aqui fica, com a devida vénia aos autores do blogamus. Nunca me cansarei de divulgar este disco, de divulgar o que é bom e que é português, de divulgar o que tem a marca de uma época marcante (em que ainda nem havia telemóveis! Estou mesmo a ficar dinossauro) e de divulgar o prazer perdido em tardes de nostalgia e crescimento. O meu ser musical cresceu ao som deste jardim.

Em sexta-feira de recordações, a minha homenagem sentida, e reforçada, a um disco eternamente maravilhoso!


P.S. - É pena serem só 4...

Clube de Leitura – Update semanal

Se dúvidas houvesse, certezas seriam. A não ser que um bando de Saramagó-fanáticos ou um grupo de seres Revertianos, invada este blog violentamente nos 3 dias que faltam, vamos mesmo ler o Hotel Memória do João Tordo. Por isso, penso ser seguro dizer que os interessados em participar podem diligenciar a obtenção da obra em questão, não esquecendo de respeitar os autores! Vejam lá a dignidade das aquisições, nada de cópias, empréstimos ou outros actos ilícitos… :)

Domingo será dado o tiro de partida, com a marcação das datas e a ordem de trabalhos. Até lá, e para quem quiser conhecer o autor, aqui fica a sugestão de uma sexta-feira diferente.



MACHONARIA

Exercício de aquecimento - de uma lista dada de palavras estranhas, inventadas ou não, escolher uma e trabalhá-la nos seguintes aspectos:

1 - Definir
2 - Provar a palavra
3 - Comparar (usando os sentidos)


Rezou assim:

1 - MACHONARIA, é uma sociedade secreta de Macho Latinos que se revela, sobretudo, nos subúrbios da noite portuguesa. Teve o seu início no nascer do séc. XX, devido a um erro literário, pois a sua transcrição fonética foi feita por alguém que trocava o som “ÇO” por “CHO”. Presume-se, por isso, que estivesse a falar da Maçonaria. No entanto, a palavra ficou, a sociedade também e podem ser encontrados muitos dos seus membros por aí. Caracterizam-se pela famosa camisa aberta (com pelos do peito à mostra, ou não, conforme o grau de masculinidade com que foram divinamente abençoados), fio de ouro e unha grande no dedo mindinho, a não menos famosa unhaca! Alguns completam ainda com o belo do palito!




2 – A palavra MACHONARIA deve o seu sabor ao verdadeiro homem português. O legítimo, o original, o bem chunga! O seu travo apimentado de baixo nível, contrasta com o doce paladar de genuidade e ingenuidade, polvilhada com um pouco de piroseira. Depois de marinar nalguns anos de cultura suburbana, pode servir-se a gosto (mau sobretudo).

3 – Devido às suas características únicas, MACHONARIA é dificilmente comparável, sendo no entanto a tentativa mais aproximada algures entre o cheiro a rebuçado barato (o mais enjoativo possível) e o toque suave da napa que imita pele, passível de adquirir em qualquer feira do país. A sua palidez intelectual divide-se pela literacia do jornal desportivo (só títulos e fotos) e a primeira página da Nova Gente (a da mulher nua) aquando da espera no consultório ou barbeiro.



P.S. – Exercício de 5 minutos (original), mais 10 minutos na revisão (sobretudo ponto 2 e 3).

P.S.2 – Obrigado ao modelo pela ilustração fotográfica do espécimen (espécie men – é um tipo de homem Machon)


Foi ele que disse, não fui eu!

(…) “Não sei onde foi a miúda buscar aquele temperamento. Acho que é de tanto ler. E olhe que as freiras bem nos avisaram. Já o meu pai, que Deus tenha, dizia: no dia em que for permitido às mulheres ler e escrever, o mundo será ingovernável.” (…)


Carlos Ruiz Zafón, in O Jogo do Anjo





P.S. – O livro é bom que se farta, até chateia! Emitirei bilhete mais tarde…

Futebolês e outros que tais

Para que póssamos perceber a mensagem
Temos que nos imbuir do espírito do coiso e tal
Se para uns é derivado ao facto da imagem
Para outros é resposta a verdade e agem
Como se tênhamos de grunhir e falar mal

Dão-se pontapés em bolas e gramática
Apagam-se fogos e acentos do bardo
A Autoridade nisso também tem prática
Em prevaricar uma língua apátrida
Em nome do que deve de ser falado

E se tanto erro até me arrepia
Que dizer de um qualquer percebestes
Pois aquele que aldraba não cria
Diz palavrão que ninguém entendia
Fala desviado em erros como estes

Maldita língua mal dita e falada
Que de escrita também sofre tanto
Mal sabida e manteram mal dada
Porque não é por todos amada
Mas é por ela este meu pranto





Gervásio W. em 4 Partes

1ª Parte

Descrição de Gervásio W. segundo estes pontos :
• Idade avançada
• Tique/hábito frequente
• Peça vestuário/ adereço que o caracteriza
• Objecto em casa


Já entradote na vida, Gervásio Wellington III, tinha o estranho hábito de só caminhar pelo lado esquerdo das ruas. Segundo consta, já o seu pai, Gervásio Wellington II, o fazia.

Filho de finas castas, Gervásio Wellington III, parecia não se incomodar com os comentários que no bairro faziam a seu respeito. Uns pelo facto de só caminhar pelo lado esquerdo, outros pelo seu ar costumeiro sempre com o mesmo fraque cinzento, de tão preto que já não era, outros ainda, pelos sons estranhos que se diziam vir da sua casa.

Mas, a verdade verdadinha, é que Gervásio Wellington III do pouco alto dos seus talvez 70 anos, não parecia ter mais de metro e meio, nunca perdia a sua pose e orgulho em cada passada, sempre pelo lado esquerdo, claro!

Quando me mudei para o andar por baixo do seu, passei a ser o rei da escola. Todos me queriam visitar, só para poderem saber mais qualquer coisa sobre Gervásio Wellington III e os estranhos sons que se ouviam todas as tardes.

Com o passar dos anos fui-me habituando aos costumes e poses do meu vizinho. E, foi no verão de 1965 que me aproximei da verdade ao ponto de ficar a saber a origem do mistério sonoro. Não passava de uma grafonola que tocava um disco gasto e já sem qualquer música, mas aos porquês já lá vamos. Primeiro o como.






2ª Parte

Descrição feita pela irmã W. segundo os mesmos pontos:

Estou cansada! Estou farta! Estou desgastada… uma vida inteira na sombra dos Wellington masculinos! Primeiro, segundo, terceiro…

Felizmente que o meu irmão não teve filhos e também não vai ser a minha filha a continuar esta palhaçada! Quando o Gervásio morrer, acabaram-se os estúpidos fraques e a ideia absurda de que um Wellington só caminha pelo lado esquerdo! Felizmente que eu nasci para caminhar livremente pelas ruas.

Só me custa que o Gervásio tenha enlouquecido daquela maneira… até parece mais velho do que é, sempre a tocar a maldita grafonola todas as tardes, com o mesmo disco que de tão gasto já nem se ouve há mais de 20 anos! Tudo porque no dia em que a mulher dele saiu de casa, era aquele disco que tocava.

No meio do meu ódio, não deixo de ter pena do meu irmão que acabou por ser uma vítima desta loucura de “linhagem Wellington”, como lhe chamava o meu pai, mas também não posso deixar de compreender a Adelaide… quem é que aguenta viver com um Wellington, ainda por cima III?

Eu sei que somos todo o resultado das somas e subtracções da vida, mas há contas muito desiguais e restos que não batem certo… só porque não nasci homem! Que culpa tenho eu?!

É estranho… não me lembro de alguma vez ouvir o meu pai a dizer o meu nome todo. Era só Gertrudes para aqui, Gertrudes para ali, nunca o Wellington se juntou! Parecia que eu não tinha direito ao ferro quente em forma de W, assim como uma vaca tresmalhada no meio daqueles touros todos.





3ª Parte

Descrição de outra pessoa que o conheça bem, segundo os mesmos pontos:

Comecei a investigar este estranho caso na noite de passagem de ano. Findava o 72.

Estudo as passadas deste homem há mais de 6 meses. Sei tudo sobre ele. Estudei a sua vida intensivamente. Exaustivamente. De uma maneira que já me farta e enjoa!

O que interessa por agora são os factos! Gervásio Wellington III, era um homem de 61 anos que descendia de uma família ilustre, mas de estranhos hábitos. Segundo a sua irmã, não ficava bem a um Wellington caminhar na rua sem ser pelo lado esquerdo. O fraque era vestuário de consumo único e obrigatório! As rotinas faziam destes homens os ilustres portadores do estandarte familiar: os mesmos horários, a mesma roupa, o café sempre no mesmo café sempre à mesma hora, o jornal comprado no mesmo sítio… um imenso círculo fechado e rotineiro.

Mas o facto mais importante de todos, é que Gervásio Wellington III, apareceu morto na noite de passagem ano a ainda não fazemos ideia quem o matou, nem como, nem porquê.

Não havendo mais ninguém na sua vida, e com todo aquele ódio exacerbado, penso logo na irmã, mas…





4ª Parte

Continuação da 1ª parte, descrevendo a casa de Gervásio W.:


Tudo aconteceu por um simples acaso, como muitas das notas que pautam a nossa vida.

Num abafado dia de Julho, entrei ofegante no prédio depois de uma quentíssima caminhada vindo da escola. Sentado no primeiro lance de escadas estava o senhor Gervásio com a pele da cor gasta e cinzenta do seu fraque e encharcado em suor.

A medo aproximei-me e mal consegui perceber as parcas palavras que me dirigiu, mas que pareciam suplicar que o ajudasse a entrar em casa. A muito custo, lá conseguimos chegar ao 2º andar. Uma vez entrados, pediu-me que o ajudasse a sentar numa poltrona de um cabedal muito gasto, nitidamente “mono-rabo”, que se encontrava numa sala pesadamente antiga, entre a janela e uma mesa onde estava uma grafonola.

Depois de se encaixar naquele assento, perfeitamente demarcado em redor do seu corpo, pediu-me que lhe trouxesse um copo de água.

A cozinha ficava no fundo de um enorme corredor, que tinha várias portas dos dois lados. Caminhei por aquela estreita passagem, sentindo um ranger castanho a cada passo que dava e fui observando as fotografias daqueles homens diferentes, mas que pareciam todos iguais… vestiam da mesma maneira e tinham todos a mesma pose de superioridade altiva, numa delas reconheci o senhor Gervásio.

Umas das portas estava aberta e não resisti a espreitar para uma sala enorme cujas paredes se encontravam cheias de livros. Uma secretária e uma cadeira no centro, compunham o ramalhete mobiliário daquela divisão. Senti um peso cultural imenso naquele ambiente e invejei a possibilidade de poder ler todos aqueles milhares de livros.

Apressei-me a ir buscar a água e voltei para junto do meu vizinho, que já devia estar seco de tanto esperar. Com o seu adormecer agradecido, decidi explorar melhor aquela casa tão misteriosa e fascinante.

Ao lado da sala havia uma porta que estava fechada à chave. Na porta seguinte ficava o quarto do Sr. Gervásio onde sobressaía um magnifico toucador cheio de objectos que nitidamente não lhe pertenciam e que se notava não serem mexidos há muito tempo, tal era o pó que os cobria. Transpirava dor naquele quarto, envergonhado saí…

Não tive coragem de abrir mais nenhuma porta, mas senti que a principal já estava aberta, pois a partir desse dia passei a frequentar amiúde a casa do meu vizinho Gervásio Wellington III.

A cada visita fiquei a perceber o que leva um homem a viver eternamente um amor acabado e a colocar com uma esperança mórbida o mesmo velho e desgastado disco, na mesma velha e desgastada grafonola. Os estranhos sons que se ouviam pelo bairro, não eram mais que o choro do coração daquele homem!




Exercício de utilização de diferentes narradores. 7 minutos cada parte (revisto).

Sábado de ternura

Mais 200 Km merecidos, para uma deslocação de extremos: visitar a mais nova e o mais velho, pela melhor razão e pela pior, pela saudade e pelo dever. Enquanto de um extremo se assustam receios e doenças, no outro celebra-se a dádiva da vida num esplendoroso crescimento.

Resplandecente o orgulho que envolve a certeza numa apadrinhada emoção. Plantam-se emoções, colhem-se saudades e desejos. Desdobra-se o tempo no acompanhamento possível, numa estratégia de vivência distante que sempre parece ufanar cada regresso sentido. Afilhada razão de viver, que me faz sentir saudoso na partida. Que lindo é o teu crescer!




Opostamente, e apesar da ternura de uma muita idade, o medo devolve à realidade a crueldade do destino de todos nós. São extremos de um ciclo: nascer e morrer! Tenta-se esquecer um, recorda-se facilmente o outro, numa questa que se quer longínqua. Nunca queremos acreditar que ela existe e que está já ali. Mas está. Por isso, e até lá, vamos vivendo e esperançando!



P.S. - Só mais um bocadinho. Egoisticamente, não estou preparado para que te vás já embora!

P.S.2 - Fiquei ainda a saber, que para aqueles lados há um porco que não concorda com o aeroporto em Alcochete. Senão, atente-se nesta canção reivindicada a plenos pulmões de 3 anos: O poquinho foi à ota e comeu uma buota!

Sexta-feira de cultura

Merecidos 150 km, os que me levaram à cerimónia de entrega do Prémio Nacional de Poesia Actor Mário Viegas. Poesia (muito bem) declamada, recordações de um grande senhor e orgulho na amizade, preencheram a espaços poéticos uma noite que se quis literária de viver e premiada de orgulhar.

A cerimónia teve lugar num alto lugar de memória, o Fórum Mário Viegas em Santarém, e contou com a presença (para além da minha) do Exmo. Sr. Presidente da câmara Dr. Francisco Moita Flores e outros ilustres convidados de igual craveira.




Da escrita do nosso amigo Fernando Cabrita (grande mergulhador!) já eu sabia da existência, agora da beleza de suas palavras e ditas com tal eloquência, é que me surpreendeu de tais lavras os dotes e a sapiência!

Muitos parabéns por este prémio, mais que merecido, e muito obrigado por uma noite inesquecivelmente poética!




P.S. – Uma nota ao senhor presidente da câmara: sair a meio de uma cerimónia para atender o telemóvel (que ainda berrou por algum tempo) é que não me parece bem… e eu que até gosto muito dos seus livros! Perdoei-o mais tarde, aquando das suas parcas mas muito sentidas palavras. Enfim… no melhor pano cai a nódoa.

M18 - Contos Lúbricos III (ainda light e porque é sexta-feira)

A música alta não permitia muitas conversas. A agradável tontura de algumas bebidas, tornava afoita a troca de olhares, permitindo alguns sorrisos atrevidos. Na verdade, eram as duas únicas pessoas da festa que não estavam acompanhadas. O jogo de sedução parecia criar uma redoma em torno dos dois, embora estivessem em cantos opostos da sala.

Várias bebidas, olhares e sorrisos mais tarde a distância encurtou para a proximidade de um cheiro. As palavras não eram necessárias naquela partilha. Todos os outros sentidos estavam em alerta máximo e a temperatura aumentava a cada minuto de sedução.

O calor das vontades tornava rosadas as faces da vergonha, que era cada vez menos, e um aquiescer de olhar foi suficiente para aceitar o convite de uma mão estendida. O desejo e a luxúria caminharam de mãos dadas na busca de um quarto vazio. Do lado de lá da primeira porta, dois corpos já nus numa dança de suor indicavam uma já ocupação.

Alguns sorrisos de cumplicidade mais à frente, encontraram uma porta entreaberta para o desejo. Na escuridão adivinhava-se uma divisão espartana, mas perfeita para os intentos lascivos que se adivinhavam. Porta trancada e duas bocas que se encontram no escuro, sem conseguir aguentar mais a distância.

O bailado de duas línguas ávidas, foi aumentando a tensão e desapertando incómodos e barreiras. Encostada à porta, sentiu de repente um ajoelhar que lhe tirava as cuecas com os dentes e lhe levantava o vestido, desnudando a pele que era beijada ao ritmo do desejo que se tornava cada vez mais incontrolável. Uma língua percorria todos os seus contornos, dando voltas de falso pudor antes de se concentrar no seu interior húmido e ardente. Ao primeiro contacto, sentiu um arrepio orgásmico que deixou a sua cabeça ainda mais à roda. Sentia vontade na retribuição.




Trocados os joelhos que estavam no chão, desapertou-lhe os botões das calças um a um deixando antever todo aquele prazer inchado. Uns boxers mais tarde e engolia com volúpia uma erecção descomunal de ansiedade há muito esperada. Abocanhar, lamber e chupar fizeram parte da dança que se seguiu em ritmos molhados.

Ansiosamente retiradas as poucas roupas que ainda sobravam, encontraram-se sobre um chão frio de tanto calor que suportava, numa ávida luta carnal de incontrolável desejo descoberto, com um tom de familiaridade sempre presente. Uma cavalgada incessante marcou o tempo seguinte, dominado pelas rédeas ardentes da paixão. Uma penetração de intensa profundidade fundia suores, sabores e cheiros. Agora de cócoras, agora de gatas, mas sempre numa oferta submissa, penetrada por doce partilha de intimidade. Aqueles corpos amavam-se no momento, confundindo sentimento e desejo com expectativa e certeza.

Vários orgasmos mais tarde, entregaram-se ao descanso merecido depois da intensa batalha de tesão sentido e abusado. A verdade escondida pela loucura lasciva, fazia sorrir de nudez dois corpos que contemplavam o tecto ainda ofegantes:

- Foi uma óptima ideia termos vindo a esta festa!
- Pois foi... anda, veste-te depressa que ainda temos que ir buscar os miúdos a casa da minha irmã!

VAPORES DE UM CASAMENTO (exercício de sensorialização)

O cheiro a destino pairava no ar. O vermelho vivo de felicidade de Lupe, contrastava com o verde pálido de aceitação de Pepe. O fiel da balança tombava para o lado da inevitabilidade e o contraste das emoções ardia a olhos sentidos.

Tomei o meu lugar na longa fila de suor, esperando a minha vez para desejar felicidades aos noivos. A temperatura num México sempre escaldante, rebentava com todas as escalas de aceitação para um Europeu como eu, naquela tarde de actos consumados. Chegada a minha vez, felicitei os nubentes e entre abraços e beijos congratulei-me por ter reparado qual era o que usava vestido, pois a julgar pelos dois bigodes, que igualmente me picaram, podia ter ficado baralhado.




O aliviar de um casaco agradavelmente colocado nas costas da cadeira, permitiu que a minha camisa finalmente descolasse das costas. Emocionado pelos 40 graus mais suaves daquele dia, apresentei-me aos restantes convivas da minha mesa, explicando que estava ali para fazer uma reportagem sobre o concurso mundial de noivas de Santo António, na tentativa de justificar o que fazia alguém como eu no meio de alguém como eles. Acho que não perceberam mas aceitaram-me à mesma, permitindo que saboreasse todas aquelas iguarias maravilhosas que em nada se pareciam com os sabores que conhecia da Cantina Mariachi do Colombo. E das Amoreiras. E… do Gaiashopping. E doutros shoppings que tais.

Na terceira rodada de tequila, lembro-me vagamente de ter esborrachado alguns feijões com a testa aquando da queda da minha cabeça para cima da mesa. Duas tentativas mais tarde, para a levantar, sorri parvamente para os restantes dizendo que sardinhas e vinho tinto é que era difícil de aguentar e que aquilo não era nada! Não contente com a maravilhosa actuação até então, decidi bater ruidosamente no copo com o garfo para ver se os noivos se beijavam. Alguns tiros depois (do pai da noiva), percebi que não era boa ideia.

Altamente bebida ia a noite, quando achei que era chegada a minha hora. Procurei os noivos entre cadeiras que teimavam em atravessar-se à minha frente e chegado ao destino quase impossível, renovei votos de felicidade entre promessas de uma magnífica crónica sobre o casamento deles, alvitrando as grandes hipóteses que tinham de ganhar o almejado prémio. Santo António já tinha abençoado aquele casamento de certeza… pelo menos da parte que me lembro!


P.S. - O Objectivo é descrever um casamento no méxico, recorrendo a todos os sentidos menos a visão. 10 minutos.

Acontecimentos (realmente) relevantes

Os recentes acontecimentos trouxeram a este humilde Bilhete de Ida, algum crescimento em termos de notoriedade. Por acréscimo, sinto a responsabilidade de não defraudar os eventuais passageiros desta viagem e começo a ter a preocupação de emitir bilhetes que possam também informar, para além de todas as outras coisas que espero que consigam transmitir.

Por isso, comecei a pensar o que seria interessante dizer hoje: a crise financeira actual… não, demasiado desesperante; as eleições americanas… não, sem interesse; a Manuela Ferreira Leite a dizer que não somos anões e a falar de Santana Lopes para a câmara de Lisboa… também não, muito repetitivo… Liedson a salvar o Sporting… não, what´s new?; gasolina baixou hoje na Repsol e BP… não, é de desconfiar… o que dizer então?!

Eis senão quando, surge na penumbra do meu acordar vagarosamente penoso, a notícia que interessa a todos! É que hoje, notem bem – precisamente hoje – comemoram-se os 50 anos da magnífica criação do belga Pierre "Peyo" Culliford. As simpáticas criaturas azuis que vivem em casas de cogumelos, os SCHTROUMPF! Também conhecidos em Portugal por Estrunfes, ou em Espanha por Pitufos (argh!), ou em Inglaterra por Smurfs, ou na Alemanha por Schlümpfe, ou na Polónia por Smerfach, ou na Noruega por Smuerfene ou em todo o mundo de outra maneira qualquer!



Existem Estrunfes para todas as emoções, sensações e situações. A condição humana é representada de diferentes formas em cada um destes gnomos. Qual será o Estrunfe que representa, por exemplo, as constantes candidaturas de Santana a tudo e mais alguma coisa?

Mas o que interessa é que fazem hoje 50 anos e por isso, PARABÉNS aos Estrunfes que fazem parte do imaginário de todos e de cada um e que continuam a cumprir o seu papel único no universo da BD. Há dias em que acontecem coisas importantes para o mundo, não há?!




P.S. – Este é o meu preferido!

Clube de Leitura – Votações até agora

Para que nós, leitores do Clube, nos possamos habituar à periodicidade das notícias sobre o mesmo (parece ser consensual a semanal), vou relembrando a sua existência e fazendo pontos de situação.

Assim, temos, até agora e em claro destaque, uma manifesta vontade de ler ou reler e comentar o Hotel Memória do João Tordo. Parece ser consensual a escolha desta obra para arranque das actividades do Clube. Talvez pela juventude do autor, pelo facto de não ser um livro muito grande e pelas vantagens que acarreta o facto de não se iniciar esta experiência literária-ó-virtual com uma obra muito “pesada”. Os livros não escolhidos podem sempre ser lidos depois, se assim for o desejo de todos nós. Não há barreiras, nem limites, nem regras rígidas. Aqui só impera a vontade!




Podem votar, ainda, até ao dia 1 de Novembro. Depois disso, marcarei o início da leitura, os prazos e as datas para os comentários, que se esperam muitos e bons!

Até lá, vamos lendo e votando!

Exercícios + antigos

- Três canetas, duas das quais estragadas
- Uma usada edição de poemas de Fernando Pessoa
- Uma velha fotografia de um homem em uniforme

Resultado:

Experimentei uma, depois outra e só a terceira escrevia. Sempre gostei de escrever a preto. Por isso, com a minha sorte habitual só a azul o fazia. Eram bics laranja de ponta fina, que contrastavam com a mais comum bic cristal de escrita normal! Sorri a lembrar-me do anúncio…

Apesar de não ter tampa, a bic laranja de escrita fina – azul -, continuava a fazer as minhas delícias quando deslizava sobre um qualquer papel imaculado.

Larguei os gatafunhos experimentais e peguei numa edição usada de poemas de Fernando Pessoa. De tão lido que foi, era quase impossível mantê-lo fechado. Algumas páginas tinham o canto dobrado. Desrespeito pelo autor, pensei. Por muito que se goste de um poema.

“Raia-lhe a farda o sangue…” as palavras surgiram na minha cabeça, quando vi entre duas páginas uma foto de um imponente militar. Uma casaca de fazenda cheia de bordados dourados mostrava uns ombros geometricamente direitos, num orgulho altivo. O monóculo no olho direito indicava pose de chefia poética. As muitas manchas da velha fotografia, não deixavam transparecer na totalidade a idade do fotografado, mas os galões indicavam uma idade condigna com a patente.

Voltei a colocar a foto dentro do livro e continuei a caminhada naquele labirinto de vida, remexendo gavetas de passado e perscrutando paredes de história. No entanto, conforme mudava de sala, constatava atónito que estavam todas vazias. Como seria possível sentir toda aquela carga de memória apenas com 3 canetas, um livro de poemas e uma foto?!

O pé-direito alto das divisões, o papel de parede antigo e o cheiro a século XIX, intrigavam-me do pensamento a conclusão. Sentia cultura à minha volta e amor pelas palavras. Ali tinha vivido de certeza um escritor! Preferia o preto para escrever, lia Fernando Pessoa… Um impulso literário continuava a empurrar-me na direcção dessa conclusão. Encostei o ouvido a uma parede e ouvi grandes nomes a recitar as suas obras. Estou numa casa de cultura, pensei.



Embora não perceba bem porquê, sinto que invejo quem ali habitou. Uma sintonia entre os meus gostos e vontades parecia enquadrar-se naquele ambiente. Sento-me no chão e tento, da já imparável curiosidade, tentar descortinar mais sobre o quem e o como, na expectativa de absorver inspiração.

Continuo a deixar transpirar nas minhas mãos a sensibilidade daqueles objectos. O uso intensivo da escrita ou do desenho, a cultura implícita e adorada naquele livro, a forte ligação à família na pele de uma velha foto com uma dedicatória a um filho comovido de a receber, a conjugação de todos e a sua importância isolada, faziam daquela feliz reunião a certeza de alguém muito especial. Pesei actos consumados e cheirei constatações. Deixei que falassem comigo, da mesma maneira que falaram com o seu antigo dono.

Levantei-me. Deixei aquela casa para nunca lá mais voltar, satisfeito com a vida que descobrira e que sentia agora ser minha também!

Tossir é bem bom!

05 da manhã uma tosse, sem brilho no olhar
06 da manhã mais tosse e agonia
Às duas por três quem sabe onde isto irá parar
Eu é que já tusso tanto e até dormia

05 da manhã ei, bem bom
Tosse e amanhã ei, bem bom
06 da manhã ei, bem bom
05 da manhã ei, bem bom
06 da manhã pra dois, bem bom
Tossir e o que virá depois?
Bisolvon, ei!


Tudo verdade... até o facto de estar acordado a esta hora e com esta música na cabeça! Terá sido numa noite destas que surgiu a inspiração ao António Pinho, ao Pedro Brito e ao Tozé Brito? É que este nível de criação não se atinge a qualquer hora!

E agora?! O que fazer com esta pérola do nacional cançonetismo? A quem vamos dar isto para cantar?... hum... deixa cá ver... hum... olha, pode ser a estas meninas:





P.S. – Já que não durmo, divirto-me. Ou então, estou a ficar xarope!

Dias a opinar, empinar e pinar!

Alvitradas manhãs de sapiência
Abundam no país dos que sabem tudo
Opinam
Conhecem dos mistérios a ciência
Julgam da fortuna o mais sortudo
Empinam

Sábias tardes cheiram a certeza
Opinadas ilusões mostram maresia
Empinam
Ensoberbecidas de razão tesa
Encavalitam desejos e fantasia
Oh… pinam?

Doutas noites escorrem vontade
Secam opiniões de doutores
Opinam
Lânguidos regos deleitam puberdade
Onde pinam esses senhores?
Em pinam!




Pontos de Vista - B*

Se calhar é um bocadinho de mais. Eu sei que eles são todos modernos, mas estes rolos na cabeça… não sei… na rapariga da Caras parecia ficar bem.
E o jantar?! Será que devia ter feito qualquer coisa? Mas estes ricaços… nunca sei o que é que eles comem! Além do mais, não quero que ela pense que sou saloia! Li na Maria esta coisa da emancipação… não sei se era bem isto… o Armandinho é que não achou piada nenhuma! Ter que ir buscar frangos… enfim, seja o que Deus quiser!

(trim, trim)

Ui, devem ser eles… força e coragem Alzira!

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

Olha, parece estar a resultar… se calhar usa-se mesmo!
“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem! O seu marido não está?”

Agora é que ela se rende a esta mulher moderna que eu sou!
“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”

Eu sabia. Eu sabia!
“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”
Esta agora é que eles não aguentam! E este também faz cara de parvo como o meu, quando lhe disse para ir comprar os frangos…
“Depois de tantos anos de opressão chegou a nossa vez! Não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”
Não me digas que esta não lê a Maria! O que é que ela fará no cabeleireiro?

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

Olha agora… queres ver?! Isto não são já modernices a mais?!
“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

“Pois sabe… eu pensei que...”

Alzira Maria! Tu não te deixes ficar! Havia de ser bonito!
“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

Ai, ai, ai. Onde é que isto já se viu?!
“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”
Ainda bem que vem aí o meu Armando… olha, olha, toda sorrisinhos para o meu marido…

“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

Ai Armando Manuel, que logo a gente conversa!

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”




* Exercício de ponto de vista. Curso Avançado de Escrita Criativa. Exercício A feito na aula nos 15 minutos disponíveis. Exercício B feito em casa como oposição ao primeiro. Mais ou menos no mesmo tempo.

Pontos de vista - A

Meu Deus! O que uma mãe não faz por um filho! Ainda agora só vamos no elevador e já me sinto em brasa! Mas porque é que a sociedade nos obriga a estes fretes?!

“Está tudo bem, Ana?! Estás com um ar tão pensativo…”

“Sim querido, tudo bem. Estou só nervosa com o jantar.”

“Então, vá lá. Sabes que fazemos isto pelo Pedro. Nada de cenas, sim?!”

“Claro! Por quem me julgas?! Vá, vá toca lá à porta e vamos despachar isto de uma vez!”

(trim, trim)

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

Meu Deus, o que é aquilo que ela tem na cabeça… rolos?!
“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem!”
Vá lá não ter aparecido de chinelos e roupão!
“O seu marido não está?”

“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”
Eu nem acredito que esta pindérica não preparou o jantar…

“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”

Meu Deus… isto vai de mal a pior. Agora ainda tenho que dar conversa à lambisgóia! Ai meu filho… onde te vieste meter?!

“… não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”
Bolas, não posso dizer estas coisas. Prometi e mim mesma que me portava bem.

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

Bem, deixa-me cá pensar… viu-se meu, o da minha irmã… o da maioria das minhas amigas…
“Pois sabe… eu pensei que...”

“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”

Tirem-me deste filme, por favor! Ah! Aí vem o totó. Salva pelo homem dos frangos!
“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”



Mágico

É tudo o que este homem escreve, diz ou faz. Este génio da música e do romance. Este monstro da instrumentação e do ensino musical. Quem, se não este Deus, conseguiria dominar a Guitarra Portuguesa, a Guitarra, o Piano, o Órgão, a Bateria, a Flauta, o Acordeão, o Cavaquinho, a Viola Braguesa, o Bandolim e a Concertina. E ainda o Solfejo e a Teoria Musical? E ainda por cima tudo mágico!



E não contente, com esta vincada veia, ainda domina os pergaminhos da literatura. Os cânones da arte de escrever e transmitir ainda mais magia pelas palavras, também de si musicais, em obras consagradas como: "A santa assassina", "A prostituta virgem", "Incesto sem pecado", "Matavam as freiras grávidas", "Cruz de fogo", "Maldição cigana", "O violador das mortas", "Falo perdido" e o célebre "Casei com a minha irmã”.




Senhoras e senhores, a homenagem há muito devida a esse alicerce da cultura em Portugal, Eurico A. Cebolo!



No entanto, e honra seja feita, qual de nós grande músico não aprendeu umas cançõezitas nestas bíblias musicais? Só nunca cheguei a perceber como é se consegue do Piano Mágico 1 para o Piano Mágico 2 transformar a miúda em Pastor Alemão! Acho que foi por isso que não vinguei na música!

Clube de Leitura

Estou de volta e resoluto. Enquanto fermento no pensamento e no desejo, a minha paixão literária, - que neste momento se resume a ler e a tirar cursos de escrita criativa – vou fazer o possível por contribuir para o difundir desta paixão.

Não pretendo ser original e muito menos inovador, mas seguindo uma sugestão estrelar, vou iniciar aqui no Bilhete de Ida um clube de leitura. Coisa modesta, destinada aos poucos (mas bons!) que por aqui passam e que vai servir, sobretudo, para podermos partilhar o gosto pela leitura e o prazer pela discussão dos diferentes (ou iguais) pontos de vista.

Confesso que a ideia está um bocado verde, e nem sei se o funcionamento é viável, mas vamos por partes:

1 - Escolher uma obra de 3 que vou sugerir, ali na votação ao lado
2 - Marcar uma periodicidade para trocarmos as ideias (através dos comentários ao post) – talvez semanal
3 - Dividir o livro por partes em função dessa periodicidade
4 - Basta uma pessoa que queira ler (ou reler) o livro, para a ideia avançar
5 - Os posts relativos ao Clube ficarão com a etiqueta Clube de Leitura. Quem quiser saber o que está para trás, basta consultar a referida etiqueta
6 - Ninguém precisa de se identificar para comentar – basta ler o livro em causa
7 - Outras instruções/ideias, vamos discutindo ao longo do caminho


Como qualquer democracia (controlada!) alguém tem que tomar decisões e os pontapés de saída têm que ser dados pelos idiotas. Por isso, a minha escolha recai nos seguintes livros:


1- A Tábua de Flandres – Arturo Pérez-Reverte

Como admirador confesso deste escritor, e por ter lido todos os seus livros, escolho este por ser o meu preferido dele. A qualidade de escrita é inegável, mas este livro, em particular, aprisiona-nos numa vontade incontrolável de o ler de uma só vez.




2 – Hotel Memória – João Tordo

Pela surpresa da descoberta, já referida anteriormente, pela qualidade que reconheço na sua escrita, porque ainda não li este livro (mas já o comprei!) e porque acredito e incentivo os jovens escritores portugueses, aqui fica a escolha número dois. Não por ordem de preferência, mas porque no meio está a virtude!




3 – Ensaio Sobre a Cegueira – José Saramago

Palavras para quê?! Um prémio Nobel, um português… mais o filme e toda a polémica americanóide. Talvez o menos "fácil", mas também quem sabe o mais merecido. Tinha que estar na lista!




A votação vai ficar aberta durante duas semanas. Finda a mesma, farei a divisão do livro e a distribuição pela periodicidade escolhida. Depois… é só comentar, comentar, comentar! Aceitam-se criticas, ideias, sugestões, incentivos, palavrões e outros ões!


Declaro oficialmente aberto o Clube de Leitura do Bilhete de Ida!

As 3 (ou mais) vidas



Adorei! Da surpresa da descoberta, à estupefacção pela maturidade, passando pela consolidação de um prazer até à ansiedade pelo final. Uma escrita adulta, reveladora de muito que eu não sabia, mas que gostei de saber. Interessou-me, agarrou-me e deixou-me curioso pelo que está para trás...

Continuo de molho, qual bacalhau, mas pelo menos estou a combater a pilha de livros que nunca li por estar sempre a ler outros que vão aparecendo. Decidi fazer limpeza ao meu sótão literário e as centenas de páginas virgens da minha leitura serão agora fecundadas!

Já comecei e abraço com avidez todas as vidas que estão por conhecer. Sinto-me a descomprimir de um longo mergulho e penso que o meu corpo se está a ressentir deste tempo todo a que esteve sujeito à pressão da profundidade. Como tal, e porque não se pode brincar com doenças descompressivas, vou fazer todos as safety stops recomendadas. Aproveito a horizontalidade e vou lendo...

Foi assim...








Dia D

Desembarcam hoje na minha praia as tropas cíclicas da concretização. Haverá mortos e feridos, mas no final os que não perecerem sentirão do alívio o cansaço da vitória. A estratégia do desembarque concertado culmina um longo período de guerra, engano e sofrimento.

No coração da batalha usurpam-se opiniões, declarações e intenções. Esgrimem-se argumentos e digladiam-se decisões. A luta corpo a corpo arranca ferozmente pedaços de paciência e força de vontade. Grande verdade!

No entanto e apesar de ferida, a alma humana sairá mais forte e caminhará na direcção da próxima batalha. Não é essa uma das características que acompanha qualquer ser batalhador?! Levantar na derrota, rumo ao confronto seguinte. Às armas!

No ribombar da vitória ficará para a história pessoal, o dia do desembarque. O dia D! * O dia em que as conjugações de vontades, vão poder finalmente respirar de alívio e adormecer… simplesmente adormecer!





* Dantesco, Deblaterado, Delegante e sobretudo… Desgastante!

Será do corpo ou da cabeça?!


Já não sei se é do corpo, da cabeça ou de qualquer outro mal que eu padeça. Mas estou cansado e enjoado das fases que não acabam e das injustiças que se amarram. Soltem-me! Deixem-me adoecer num canto e recuperar!

Já não sei se é do corpo, se da cabeça. Mas da desilusão primeiro que me esqueça… Revolvem-se-me as entranhas da apatia, num sinal que de todo não queria e numa esperança que aos poucos é fugidia.

Já não sei se é do corpo, se da cabeça. Mas este desconforto, que ninguém o mereça. A sensação de mal estar em todo o lado, ao mesmo tempo perdido e achado. Numa névoa de vontade, que me leva para longe a verdade e a certeza de que o que não espera é a idade!

Já não sei se é do corpo, se da cabeça. Mas estou doente, e isso é mesmo coisa que de dia me aborreça e à noite me deixe quente. Mas à moléstia digo presente e à modéstia sou descontente, num escárnio que me ofereça.

Já não sei se é do corpo, se da cabeça…

Injustiça

O sabor amargo que fica, não deixa esquecer a falta de equidade no momento. A insegurança na verdade provoca o disparo ocasional, mas de ferida certeira. E de que maneira! Abrem-se as comportas da raiva e liberta-se o caudal em todas as direcções. À passagem cega da enxurrada furiosa, arrancam-se plantas, flores e outros odores.

Se duns fica a dor, doutros fica a raiva. No caminho nota-se a gaiva. A incompreensão pelo tratamento contrário suscita a revolta da razão e a certeza da viragem. Ao não reconhecido direito de superioridade, contrapõem-se o grito surdo da angústia. A dificuldade em marchar ao ritmo da incompetência, sem pedir clemência, liberta da fome o prato fundo da sedição.

Soltam-se dúvidas, estremecem amarras. Procuro no escuro do sono a segurança de um aquecimento que me explique, que me dê a resposta que não entendo. A dificuldade no levantar do amanhã, adormece-me o desgosto de hoje. Não acho justo…





… hoje preciso de gritar! Gritar a uma só voz a razão que me acolhe, mas que não me acode. A justiça que quero ver feita e que não se enjeita. Preciso de soltar a raiva escrita do pensamento… a todo o momento…

(…)

Já está!

Apenas 2ª feira...

Na escuridão do lamento surge a força
Que ilumina o vazio do buraco negro
Que aumenta a vontade de lutar
Que chora de tanto gritar
Esperando da voz que se torça
Tentando empurrar da raiva o regro



Dia Mundial da Música!

Hoje, é apenas um dos 365/6 dias do ano em que a música tem dia mundial. A única diferença, é que hoje se fala disso e nos outros dias apenas o sabemos sem comentar. Como nos livros, também a música merece uma efeméride simbólica comemorativa.

A conjugação de sons numa determinada sequência, a que se decidiu chamar música, acompanha-nos desde sempre. Até antes de nascer já ouvimos música. É verdade que nem todos lemos (infelizmente), mas também é verdade que não há ninguém que não a ouça, que não a sinta, que não a veja, que não a queira… ninguém vive sem qualquer manifestação de musicalidade. Consciente ou inconsciente!

Quando é que uma combinação de sons passa a ser música? Quando nós quisermos! É essa a magia deste bem universal! A música está verdadeiramente em todo o lado. Tudo é música! Andar, viver, respirar, sentir, pensar, olhar… tudo é música! Haverá na vida, fenómeno mais abrangente?! Haverá algum outro fenómeno que abranja todas as classes, todas as condições, seres ou estados?!





Não é por acaso que é considerada das artes a primeira! Não é por acaso que é um bem patrimonial mundial, que nem precisa de divulgação nem preservação. Consegue ciclicamente renovar-se e difundir-se por si só. Para haver música, basta haver vida! E imaginação… e sentimento… e mais exemplos destes…





Mais que as palavras, ficam os sons, o sentimento e a devoção. Que todos os dias se mantenham mundiais de comemorar e ritmados de ouvir! Boas músicas!