Levantamo-nos todos os dias, porquê?!

Na linha da existência, seguimos um trajecto do nascer ao morrer, que nos leva por todas as estações e apeadeiros neste comboio que é estar vivo. Seguimos um percurso de objectivos intemporais que nos aproximam do fim da linha. Na chegada, a essência de todas as paragens e a certeza de que o existir teve significado.


Será que a mola de motivação que nos impulsiona todos os dias para o mundo, vai diminuindo a intensidade com o passar dos anos? O arrastar pesaroso do objectivo a cumprir acompanha o murchar da flor da vida, que dobra, decresce, encolhe e por vezes… desaparece?!

A dificuldade em aceitar que a vida é uma sinusóide e, sobretudo, que as fases descendentes são uma evidência do caminhar, impele a razão contra a vontade num retrato muito bem tirado numa doçura de filme caramelizado no meu pensamento. A ligeireza despretensiosa desta narrativa, tão objectiva no seu discurso de normalidades sentidas e vividas, realça uma perspectiva feminina de uma sociedade marcada pela indiferença dessa condição e do garantido inconformismo do envelhecer.

Passada a cinematografia da imaginação, surge num e-mail a curiosa teoria da Vida ao Contrário! Como seria se a direcção fosse no sentido oposto, se o fim trocasse de lugar com o princípio e se do fruto se chegasse à semente…


Vida ao contrário

Começar morto e livrar logo disso.
Depois acordar num lar para a terceira idade, sentindo melhorias a cada dia que passa.
A seguir, ser expulso por estar demasiadamente saudável.
Gozar a reforma e receber a pensão de velhice.
Gastar até começar a trabalhar. Receber um relógio de ouro como presente logo no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos, até ser demasiadamente novo para o fazer.
Ir para o liceu e beber álcool. Ir a festas e ser promíscuo.
Depois, passar para a escola primária, brincar e não ter responsabilidades.
Transformar então num bebé e passar os últimos 9 meses a flutuar pacifica e luxuosamente, em condições equivalentes a um spa, com ar condicionado e serviço de quartos entregue por cabo. E finalmente...
Acabar a existência num grande orgasmo!!


A crescente mobilidade de vontades e inconformismos manifesta-se no nosso interior com a sensação de que urge mudar o rumo. Reprogramar um rumo traçado vários anos antes, implica uma onda de mudança nem sempre fácil de apanhar ou de sentir. Se a vontade se torna num iceberg, a onda passa e nem damos por isso. O crescimento da nossa vivência acompanha o envelhecer físico, mas não tem que ser seguido pelo envelhecer mental. A idade do nosso espírito pode ser decidida por nós para que as curvas descendentes tenham traços de ascensão. Sentir que afinal faz sentido levantar todos os dias e simplesmente não nos deixarmos adormecer no leito do nosso desânimo.

Felizes os que encontraram a ode da sua poesia interna e cantam em alta voz a vontade de viver. Saborear a tranquilidade da certeza, alimenta o ritmo diário da passagem. A pincelada lânguida na tela do acordar, deve passar a traços firmes no desenhar convicto de um levantar com vontade!

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