Criticar

Criticar é o acto de exprobar.

Exprobar é o acto de vituperar.

Vituperar é o acto de aviltar.

Aviltar é o acto de envilecer.

Envilecer é o acto de vilipendiar.

Vilipendiar é o acto de desprezar.

Desprezar é o acto de postergar.

Postergar é o acto de pospor.

Pospor é o acto de protelar.

Protelar é o acto de procrastinar.

Procrastinar é o acto de protrair.

Protrair é o acto de adiar.

Adiar é o acto de transferir para outro dia.

Transferir para outro dia é o acto de não dizer hoje o que podia. E como isso eu não fazia…




Sabendo, agora, que criticar acarreta todos estes actos, faço das palavras desculpa por este peso todo que não percebia dos factos. Sinto amor no que digo, mas pena no que faço, se da opinião emitida produzo dores no umbigo e respectivo inchaço.

Não foi ventado por mim a razão do maldizer, foi procura de razão, no meio da confusão e na ponta do saber. Retrato da culpa formada, a imagem da partilha de vontades… e tu sabes! :)



Se há no mundo alguma coisa especialmente difícil e para a qual, apesar disso, nos sentimos preparados, é a arte de criticar.

J. L. Martín Descalzo

2 Bilhetes Comentados:

Anónimo disse...

"Criticism, like rain, should be gentle enough to nourish a man's growth without destroying his roots", Somerset Maugham

musicaquatica disse...

Dizia Eugénio de Andrade em "Poética" que:
"O acto poético é o empenho total para a sua revelação. Este fogo de conhecimento que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e se consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singulardade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferenças que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde os outros afirmam, desoculta o que os outros escondem, ousa amar o que os outros nem sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência.
Essa revelação do poeta, e dos outros com ele, essa descida ao coração da alma, de que Heraclito encontrou a fórmula, essa coragem de mostrar o que achou no caminho - e nunca é fácil, nem alegre, nem iresponsável revelar o que se encontou ou sonhou nas galerias da alma - é o que chamarei agora dignidade do poeta, e com ele a do homem. Porque é sempre de dignidade que se trata quando alguém dá a ver o que viu por mais fascinante ou INTOLERÁVEL QUE SEJA O ACHADO."