O pensar de cada um colide nas protecções frontais do pensar de cada outro. O choque de feitios provoca mortos na estrada e feridos nas quadras festivas. Na hora de contabilizar perdas, lambem-se feridas de orgulho.
Seguia o veículo A carregado de folares de bandeira branca e ovos de um chocolate amargo de tanto tentar, no sentido S-N (Sacrifício – Naupático). O veículo B, em sentido contrário, transportava embrulhos de natal passado com laços de frete vermelho. Cada um ostentava as suas cores e defendia a sua bandeira com o orgulho da casa que defendiam. Rolavam estrada fora em pose de duelo medieval, empunhando cada um a sua lança de convicção na certeza de derrubar qualquer cavaleiro de convicções opostas que se cruzasse no seu caminho.
Estavam preparados para tudo e para se cruzarem com qualquer um, excepto para se cruzarem um com o outro. Como em qualquer história em que se pretende provar algum ponto de vista a inevitabilidade do encontro adivinhava-se. Seguiam as duas embaixadas inchadas de razão e a passo de confiança, sem saber que na curva seguinte, esquerda para quem subia direita para os inversos, se daria o fatídico choque de titãs.
A e B tinham já contacto visual. Enquanto uma mão se crispa no volante e o pé carrega desenfreado no acelerador, a outra abraça com força redobrada a lança da convicção própria. Dá-se (a quem quiser) o choque. Estrondo ensurdecedor. Seguido de silêncio sepulcral. As populações de admiração local acercam-se dos acidentados, enquanto esperam as autoridades do ajuizamento. A sensação geral é de uma atónita loucura. O que será que queriam provar?
Nos escombros misturava-se o cheiro doce dos chocolates e folares, pintalgado de embrulhos e laços, com o agre da morte certa. As lanças partidas jaziam ao lado das respectivas quadras festivas, enquanto o sangue da estupidez humana escorria dos peitos abertos de orgulho em golfadas de arrependimento.
Para a história ficou o engrossar trágico das estatísticas de acidentes familiares, dos mal-entendidos e das relações mortas. Perderam-se, para sempre, as convicções pessoais e a certeza egoisticamente individual da posse da verdade e da razão. Como em qualquer morte, a certeza que ficou foi a de que aquele encontro não voltará a respirar nunca.
Seguia o veículo A carregado de folares de bandeira branca e ovos de um chocolate amargo de tanto tentar, no sentido S-N (Sacrifício – Naupático). O veículo B, em sentido contrário, transportava embrulhos de natal passado com laços de frete vermelho. Cada um ostentava as suas cores e defendia a sua bandeira com o orgulho da casa que defendiam. Rolavam estrada fora em pose de duelo medieval, empunhando cada um a sua lança de convicção na certeza de derrubar qualquer cavaleiro de convicções opostas que se cruzasse no seu caminho.
Estavam preparados para tudo e para se cruzarem com qualquer um, excepto para se cruzarem um com o outro. Como em qualquer história em que se pretende provar algum ponto de vista a inevitabilidade do encontro adivinhava-se. Seguiam as duas embaixadas inchadas de razão e a passo de confiança, sem saber que na curva seguinte, esquerda para quem subia direita para os inversos, se daria o fatídico choque de titãs.
A e B tinham já contacto visual. Enquanto uma mão se crispa no volante e o pé carrega desenfreado no acelerador, a outra abraça com força redobrada a lança da convicção própria. Dá-se (a quem quiser) o choque. Estrondo ensurdecedor. Seguido de silêncio sepulcral. As populações de admiração local acercam-se dos acidentados, enquanto esperam as autoridades do ajuizamento. A sensação geral é de uma atónita loucura. O que será que queriam provar?
Nos escombros misturava-se o cheiro doce dos chocolates e folares, pintalgado de embrulhos e laços, com o agre da morte certa. As lanças partidas jaziam ao lado das respectivas quadras festivas, enquanto o sangue da estupidez humana escorria dos peitos abertos de orgulho em golfadas de arrependimento.
Para a história ficou o engrossar trágico das estatísticas de acidentes familiares, dos mal-entendidos e das relações mortas. Perderam-se, para sempre, as convicções pessoais e a certeza egoisticamente individual da posse da verdade e da razão. Como em qualquer morte, a certeza que ficou foi a de que aquele encontro não voltará a respirar nunca.
2 Bilhetes Comentados:
Estou convicta de que saí deste blog com a impressão de ter lido um texto alucinantemente bem escrito....
Espectacular, brilhante, fantástico!
Que texto...
Estou a ficar ávida dos tuas escritas.
Parabéns.
Bjs e até breve
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