M18 – Contos Lúbricos XV (temperaturas de Verão)

Esplanada. Sol. Calor. Em cima da mesa, uma bebida com gelo deixava escorrer gotas de sedução pelo exterior do copo. Levou-o aos lábios e bebeu de olhos fechados aquele pequeno prazer refrescante. Os corpos pouco vestidos que iam passando, aumentavam ligeiramente a temperatura já quente.

Da mesa do lado uns óculos escuros pareciam seguir os seus movimentos. Atrás dos óculos, um cabelo liso de mel e avelã ladeava um pescoço fino em tom Verão torrado. Um curto vestido branco deixava adivinhar uma escultura divina moldada a mãos de experiência. Umas pernas torneadas a ouro indicavam sem pudor a direcção do desejo. Os óculos levantaram-se e o vestido foi logo atrás. Decidiu seguir os dois.

Dirigiam-se a passos convidativos para o lobby do hotel e entraram no elevador. Esperou ansiosamente que os dígitos avançassem. Sexto andar. Chamou de novo o elevador e entrou apressado. No canto do espelho, um 7 escrito a batom vermelho confirmava as intenções.

Quando bateu, com a suavidade possível, na suite 607 verificou que a porta não estava fechada. A penumbra do interior contrastava com a frescura do ar condicionado. As cortinas corridas deixavam passar apenas a luz suficiente para que se visse no chão o vestido branco. Em cima da mesa os óculos escuros. Mais à frente, uns sapatos perdidos e logo depois uma fina lingerie em tom pérola desejo, indicavam o caminho do quarto. Seguiu as indicações e entrou. A escuridão era a mesma, mas a nudez escultural daquele bronze excitante, contrastava com o branco do lençol.



Sem perguntas despiu-se também e exibiu com vergonha toda a excitação daquele jogo. Ardia em vontade e precisava do toque daquele corpo. Aproximou os seus lábios da boca contrária e viu pela primeira vez a luz daqueles olhos. Como se isso fosse possível, sentiu o desejo a aumentar ainda mais.

Quando as peles se tocaram o arrepio foi tão grande que gemeram em conjunto. Enrolaram-se em danças de descoberta e deixaram-se conhecer por todos os poros. Entrelaçados como um só fundiram as suas vontades numa doce penetração. Sentiram o tempo a parar. Só eles se mexiam. Trocavam lideranças, imprimiam vontades, expeliam desejos. O porquê de estarem vivos parecia ter todo o significado naquele momento.

Passearam por toda a suite, experimentando lugares e posições. Gemiam, gritavam, suavam e entregavam-se com a verdadeira vontade de quem não deve explicações. Quando a altura lhes pareceu indicada, deixaram fluir toda a energia num gesto final. O espasmo de cada orgasmo, provocou ondas de prazer até às pontas dos dedos. Com a calma da vitória, deixaram que os corpos se desligassem lentamente.

Com a naturalidade dos momentos intensos deram um abraço de despedida. Perceberam pelo toque que nunca mais se voltariam a ver e só não chegaram a perceber que nem sequer falavam o mesmo idioma. As palavras não tinham sido necessárias.


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