Contagem de intenção crescente

Zero certo. Nunca antes pensado mas certo. Assim se fazia grande o que era pequeno em terras de diminuta certeza. Na verdade, as proeminências do desejo batiam asas de convicção causando ventos de mudança. Sem esperança.

Uma criança crescia no ambiente desconhecido da partilha, sem saber que da sua vivência se faria sapiência para o resto da matilha. Que maravilha. A inocência de acreditar, faz dos devotos incautos os mais descontraídos do futuro. Sem barulho.

Duas gotas de suor saíram de casa para ir trabalhar. Despediram-se na esquina do ombro e seguiram, cada uma, o seu caminho. A segurança do anoitecer certo, fazia sorrir a separação. Escorreram todo o dia em laboriosa vontade. Sem ansiedade.

Três folhas de um só tronco viviam na harmonia do mesmo sol. Banhavam o seu crescimento, ao esplendor aquecido da seiva irmã que lhes corria nas veias. Se uma murchava, as outras seguiam. O inverso era verdade também. Sem desdém.

Quatro atitudes jantavam na mesma cabeça: a dúvida, a verdade, a confiança e a partilha. Discutiam planos de futuro entre garfadas e gargalhadas. Brindavam inebriadas às memórias do que depois será, sem pensar sequer no que sempre seria. Sem apatia.

Cinco mangueiras regavam o mesmo quintal, numa fúria molhada pelo maior débito. Afogavam-se plantações, invejas, frutos e outras questões. Ninguém desligava torneiras e a inutilidade das acções repetia-se em litros de desperdício. Sem ofício.



Seis ideias de mãos dadas, caminhavam pela avenida das convicções armadas, em direcção ao fosso pequeno. Manifestavam intenções de esperança, em ilusão de adulta criança, e seguravam cartazes de indignação. Sem intenção.

Sete cores misturavam-se em palete de artista, sobre a tela da cidade, bem espalhadas e com vista. Perdiam identidade enquanto se misturavam pigmentos próprios, mas adquiriam luxúria libidinosa perante tal orgia pictórica. Sem retórica.

Oito raios, nenhum que os parta, eram cuspidos em cruzadas descargas por uma nuvem cinzenta de raciocínio. Apontavam intenções eléctricas aos inocentes funâmbulos que por baixo pensavam, em equilíbrio de corda falsa. Sem alça.

Nove, esfora nada, contas de um rosário ateu, rezavam em uníssona descrença para a salvação das suas almas. Acabaram afogadas em comédia, depois de dizimadas as verdadeiras razões da partilha de sua fé. Salvaram-se as desalmadas e as menos crentes Limpinho. Sem dentes.

Dez dedos de duas mãos, escreviam contagens insipientes, sorrindo entre dentes. Ao mesmo tempo, dez dedos de dez pares de pés, tamborilavam o chão frio, num total de cento e dez, esperando pacientemente a contagem que não mais se viu. Sem pariu.

Sobra o que sobrar…


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