Desmemorial do Invento

Uma memória, sorridente, descia despreocupada a rua da consternação em direcção ao largo do destino, sem olhar paredes. Tinha o olhar fixo no fim da rua e era para lá que se dirigia. A certeza de quem era e de onde vinha, notava-se nas suas passadas convictas e na força dos seus pensamentos.

Lá em baixo, no largo, as suas irmãs esperavam ansiosas e com o peito a queimar saudade. A colecção de vida estava incompleta com a falta desta memória e o andar para a frente estava suspenso pelo abraço da sua chegada.

Vagabundeara muito por outras ruas, como a da amargura e a da saudade, mas sentia que tinha chegado a altura de conquistar o seu lugar na razão do sentido único. O depois pedia-lhe que assim fosse e o agora puxava-a para longe do que já não era. Deixara para trás roupas mal dormidas e muitas noites de frio e solidão. Sentia correr nas veias a temperatura da certeza.

Quando chegou ao fim da rua e as uniões se deram, sentiu um ligeiro arrepio de passado. Fechou os olhos e deixou que fosse levado pela brisa morna que por ali passava. Sorriu de presente e abriu os olhos para o futuro. O caminho iluminava-se à sua frente, deixando ver apenas a felicidade. A combinação de sentimentos que influíam de um modo inelutável na direcção do destino, brilhavam no chão da passagem.

Novamente parte do todo, seguiu. Nunca mais olhou para trás e quando precisava de o fazer, limitava-se a caminhar de costas mas mantendo sempre a direcção.




Viver, é coleccionar memórias em sonhos acordados.

1 Bilhetes Comentados:

Anónimo disse...

Viver é, também, coleccionar momentos presentes, a que se juntam as memórias em segredos só deles, para poderem fazer caminho. Sempre em frente.
Belo texto...