M18 – Contos Lúbricos XIV (O regresso das altas temperaturas)

Deserto de prazer

Já não havia nada a fazer. Chorava lágrimas secas de arrependimento por não ter escrito um conto mais cedo, mas a verdade é que não tinha dado de beber à sua criatividade erótica. Agora, a travessia era longa e o deserto da lassidão tinha que ser ultrapassado.

O andar tornava-se cada vez mais penoso. A pele parecia casca de carvalho e os últimos laivos de frescura abandonavam o seu corpo na procura da sombra que não havia. A boca estava seca do ambiente e os lábios estalavam de desespero. Tentava escrever mas não conseguia. O calor era demasiado.

A pouca roupa que lhe restava, rasgava-se da secura do momento deixando queimar de dor as partes que se iam desnudando. Sabia que não podia parar. Não parou. Seguia imaginando histórias dignas de registo, mas as ideias começavam a confundir-se e os joelhos trocavam insistentemente de posição. Os pés atropelavam-se e o equilíbrio desistiu.

Quando abriu os olhos tudo estava na mesma, mas muito pior. Arrastou-se penosamente e dirigiu-se para o que parecia ser uma piscina. Sem se perguntar o porquê, deixou-se cair na água fresca, enquanto a sua (pouca) roupa, de tão seca que estava, se desfazia na água do contentamento. Sorriu da sua nudez refrescante e nadou na liberdade encontrada.

O contentamento era tão distraidamente infantil, que nem deu por um corpo que se aproximava debaixo de água. Quando sentiu umas mãos fortes nas suas pernas, já menos queimadas, assustou-se por breves momentos. O corpo musculado que vinha atrás das mãos, merecia-lhe a luxúria de não querer perceber, mas apenas de sentir. A mistura entre realidade e ficção tornava o jogo mais excitante. As mãos subiam pelo seu corpo e já agarravam os seus seios com uma firmeza decidida, enquanto o abraço vindo detrás garantia que não havia fuga. Mas quem queria fugir?!




Voltou-se, enquanto aquele ser excitantemente apelativo procurava os seus lábios de prazer. A medo abriu a boca e deixou entrar uma língua ávida de procura. Dentro e fora de água tudo era igual. Respirar não era problema. Deixou que corpo se juntasse ao seu, numa proximidade cúmplice e volumosa. Pensou retribuir um pouco do que estava a sentir e decidiu tomar a iniciativa de lamber aquele sexo duro de vontade. Continuava a não querer perceber o que se passava e depressa abriu o seu interior para a penetração mais refrescante da sua vida. O ritmo era compassado e vigoroso criando ondas lascivas como nunca sentira. Sentiu o prazer dele dentro de si e o seu orgasmo estava eminente. Alguns ritmos molhados depois, atingia a plenitude das suas vibrações e rebentou debaixo de água num grito de loucura fresca.

As pulsações retomavam a cadência normal e os corpos separavam-se lentamente. Assim como se veio, foi-se. Nem uma palavra. Desapareceu o corpo, desapareceu a piscina, desapareceu a água, desapareceu o deserto, desapareceu o calor.

Quando acordou na praia, o sol já se tinha posto e uma brisa refrescante corria ligeira. Já não se via ninguém e apenas algumas gaivotas brincavam na areia. Aberto na sua mão, o caderno de contos marcava mais uma história. Começou a ler: Deserto de prazer

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Anónimo disse...

Ainda bem que no tempo que arrefeceu um bocadinho, volta o calor destes Contos Lúbricos. E (não) metem água :)