M18 - Contos Lúbricos VII (temperaturas de escritor à sexta-feira)

Era o seu sétimo conto. Sempre pensara que devia lavrar por escrito, em terra imaginária, um conjunto de fantasias que aquecessem de vontade os eventuais leitores. Por isso, continuava a alinhar letras lascivamente, a desenhar palavras numa posição voluptuosa e a cimentar frases num libido ordenado. Sentia um prazer húmido no que escrevia e sorria na invenção do desejo.

As suas personagens ardiam sempre de vontade e faziam do contacto físico a razão de viver. No entanto, sentiam amiúde uma carência nas descrições que sobre elas eram feitas. Sentiam falta de palavras lúbricas, que as descrevessem em todo o seu esplendor físico.

O número sete traria de ordem, uma diferença marcada. Decidido a colmatar a injustiça descritiva, começou pelo corpo feminino (que era o seu preferido) e entregou-se a alinhavar letras, palavras e frases:

Uma pele de fino castanho dourado, envolvia uma delicada estrutura de sustentabilidade lasciva. Uns pés de elegante recorte poético tinham a perfeição dos deuses na sua base.

Mesmo por cima, umas aveludadas pernas de beleza atlética faziam da envolvência corporal a sua dança de amor, terminando num triângulo de misterioso sabor, decorado por um topo piloso eroticamente aparado. Os seus lábios de vermelho ardente chamavam desejo a quem os provasse.

Por trás deste biombo de prazer, umas nádegas desenhadas a carvão esculpido, baseavam umas costas de cintura fina e límpida de toque, que olhavam a direcção para uns delicados ombros, que desapareciam numa dança de longos cabelos pretos.

Do outro lado da serpenteada descrição, uns voluptuosos seios de rigidez absoluta, cheiravam a medida certa ao agarrar de mãos, tendo no centro uma auréola escura de apontados mamilos.

Um pescoço de estátua grega, sustentava uma mescla de sensações faciais, onde sobressaíam uns enormes olhos de um prazer castanho e chamativo. A expressão de inocência experiente, soava a penetração dançante. A sua boca de lasciva textura guardava uma língua de doce pecado.




Parou de escrever. Assim que pousou a caneta de tinta erótica, todas as letras se misturaram e começaram a ganhar forma. Um tornado de palavras ergueu-se do caderno de contos e os parágrafos descritivos rodopiaram até moldarem o corpo que acabara de (d)escrever.

Afastou-se assustado e boquiaberto olhou para a nudez da mulher que saíra da sua imaginação e que estava à sua frente materializada das suas palavras. Não percebeu se estava a sonhar, mas ela caminhava para ele com um sorriso de criação familiar. Com um olhar de desejo suplicante, sussurrou-lhe ao ouvido:

- Tenho estado à espera desta descrição. Vim para retribuir em prazer…

Sem mais palavras, igualou de um arranque só a condição de nudez em que se encontravam e encostou o seu corpo ardente ao do estupefacto criador. A primeira sensação foi de arrepio desconhecido, mas a contactos dados tudo se transformou em cumplicidade escrita.

A excitação dele era evidente entre os dois e sem mais preliminares, ela saltou para o seu colo fazendo com que desaparecesse dentro dela, engolindo-o de um só prazer.

Enquanto ele segurava em virilidade as nádegas por si descritas, entrava furiosamente na sua criação imaginativa e sorria de satisfação por não se lembrar de um prazer assim na sua realidade. Movimentos de entrada mais tarde, rebentava num êxtase explosivo final.

Ainda suspirava do acontecimento, quando aquela beleza corporal recolhia ao caderno desfazendo-se de novo em letras e palavras. Confuso por ter participado no seu próprio conto, acabou por sorrir na dúvida, lamentando não ter descrito mais cedo uma mulher, com todas as frases que ela merece.

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Gi disse...

Onde é que se encontram essas canetas de tinta erótica? :D