Folha Branca

Pede palavras de consolo e eu não tenho para escrever. Pede imaginação para as frases e eu não tenho para ditar. Pede memórias escritas e só me lembro do futuro. Pede risos de vida quando me apetece é chorar. Pede pensamentos tristes e desato-me a rir (talvez esteja atado de pensamentos). Pede assuntos sérios e digo parvoíces. Pede ternura e mancho-a de azedo. Pede agressividade e pinto-lhe flores.

Perante a candura dos pedidos, rogo pragas à parcimónia criativa da minha alma e corro pelas escadas do tempo em busca de letras. Abro e fecho portas com diversos temas, escondo problemas e destapo alegrias. A seguir construo janelas, abertas. Deixo respirar a vontade, e a verdade… mas a folha continua branca.



Dou-lhe três voltas no sentido da fantasia e sento-me no devaneio da procura. Que loucura. A necessidade da escrita torna angustiante o bater do tempo. O metrónomo da monção alvitra questões de paz podre em igreja de serventia. Quem diria.

A inocência de ser apenas branca, embora folha, faz-me rir de malvadez criativa, mas aterroriza-me a caneta da acção e nada me apetece. Acontece. Sinto passar as convicções em bandejas de apatia. Provo uma.

Seca-se-me a tinta da criação perante imaculada folha. Olho para ela mais uma vez, e sem saber o que fazer… faço apenas isso mesmo. Preencho-a.

E a mim também.

5 Bilhetes Comentados:

Anónimo disse...

O bom de uma folha branca é que pode ser preenchida com tudo o que quisermos! Tudo!

Si disse...

Falta uma palavra nesta folha: genial!

Vera disse...

Escreves TÃO BEM!!!!
Linda esta tua Folha Branca :)

Patti disse...

Oh Bruno, mas se quiseres mais folhas em branco é só pedires! Tomara as minhas ficarem preenchidas desta forma.

(Já vi que a Si gostou da minha recomendação, parece que ficou fã da tua escrita).

João disse...

Há muitas folhas, quais papéis, que podemos "escreventar". Escolheste esta aqui. Fizeste bem porque foi brilhante.

Mas sabias que também o branco tem vários tons e brilhos!?

Um forte abraço com desejo que as tuas folhas sejam perenes e sempre alvas de escrita, deste teu irmão também de papel.

"Zé piqueno"