Infância cheirosa e curta

Cheirava-me sempre a dores nas costas. O meu Avô pagava-nos a 25 escudos o balde e uma semana de cheiro dobrado rendia aí uns 4 ou 5 baldes com brincadeira à mistura. Coisa pouca para tanta dor e tanto cheiro, que por sinal ficava nas mãos e no resto das férias. O calor Ribatejano no Verão da memória, não ajudava a que desaparecesse.

Algumas notas perfumadas de cansaço, no dia de receber ajudavam a esquecer o cheiro pegajoso e frutado que se entranhava nos lombos vergados. Como a vontade era pouca, um Verão de cheiro intenso e dorido, rendia 150 a 200 escudos. Enjoei o rendimento.

Pelo sim, pelo não hoje em dia não como figos… é que ainda me doem os cheiros das costas.


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Vera disse...

Onde fazias estes trabalhos de Verão? O cheiro dos figos também faz parte das minhas recordações de infância, e tenho saudades. De os pôr em tabuleiros de madeira ao sol, durante o dia. De os ir resguardar da humidade da noite quando o Sol se punha. Numa aldeia pequenina, para os lados de Torres Novas. Que saudades! Que distância temporal :S