O Tigre e o Zarolho (Conto Chinês em qualquer país)

Numa floresta de cimento urbano, mas verde, vivia um Tigre que não era zarolho e um Zarolho que não era tigre. Eram amigos desde a infância e suavizavam o passar dos anos em animadas conversas de índole Marxista/Leninista numa perspectiva de implante político de silicone opressivo e obsessivo.

Juntos se consideravam e olhavam o mundo (um deles assim de esguelha) na ilusão jovem de quem consegue tudo e não tem muito com que se preocupar. Até que um dia, já depois de ter saído de casa dos pais, o Tigre foi despedido da fábrica de automóveis onde trabalhava ia já para uma mão cheia de anos, mas vazia de indemnização.



Caído nas malhas do subsídio de desemprego começou a perder o lustre nas riscas e a pose felina, enquanto se arrastava de formação em formação pelos centros de emprego à espera de uma proposta milagrosa. Enquanto isso, o Zarolho ia subindo degraus na sua gorda carreira de sócio/gerente de uma fábrica de óculos escuros, que aliás usava sempre - dia e noite.

Errado dia, cruzam-se no corredor da casa que partilhavam, e momentos antes de o Zarolho falhar a porta da casa de banho e dar uma marrada na ombreira, o Tigre cai de fome aos seus pés. Surpreendido, o Zarolho fecha um dos olhos e repara pela primeira vez como ele estava pálido e magro. Umas malgas de água com açúcar depois, o Zarolho deixa cair o queixo (que o Tigre comeu logo tal era a fome) ao inteirar-se de que o seu amigo de vida, e de casa, estava no desemprego, sem dinheiro e com fome, quase há 1 ano.

Sentido vergonha na já rubicunda face, acalmou o Tigre dizendo-lhe que não se preocupasse porque tinha muito dinheiro no BPN e ia ajudá-lo. Aliás, estava com ideia de investir num negócio de um Freeport e ia nomeá-lo gestor do projecto.

Alguns dinheiros depois o Tigre perdeu a palidez e a fome e ganhou prosperidade financeira, ao mesmo tempo que abraçou a carreira política. Fundou o PND (Partido do Novo Dadaísmo), uma nova força de extrema esquerda e direita com assento no meio. Perdeu as riscas de vez e ganhou pêlo na venta, sendo por isso, agora, um Leão.

Entretanto naquela floresta, rebentam alguns escândalos que afundaram o Zarolho (qualquer coisa a ver com o banco parece), mas mantiveram o Tigre, isto é Leão, bem à superfície da conjuntura político-social. O Zarolho tentou fugir para o Brasil, mas esqueceu-se de fechar um olho e comprou um bilhete para Braga. Acabou por se envolver numa empresa de parques, mas deu rolho também.





Moral da história: Em terra de zarolhos, quem foge às riscas é o rei!

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