M18 – Contos Lúbricos IV (mais uma sexta que se aquece)

Daquela camada pictórica, só conseguia apreciar os contornos dos corpos nus. A cor, a luz, o motivo, não lhe interessavam. Apenas os corpos. Quase como se de uma cena pornográfica se tratasse. A galeria estava quase a fechar e não conseguia desviar os olhos daqueles dois corpos femininos, que se entrelaçavam num bailado de erotismo artístico.

Sentiu um calor imenso a percorrer-lhe o corpo e uma dilatação incontrolada de todos os poros da vontade. Os seus seios rijos de prazer, pareciam querer furar a fina blusa de linho excitado, numa tentativa de romperem as barreiras da convenção. Do seu interior, escorria uma gota de prazer ansiosa de contacto. O tempo passava, a vontade não. Mais ninguém na galeria.

Sem aviso prévio, as luzes apagam-se ficando apenas um foco a incidir no quadro. A escuridão circundante aumentou o prazer do sonho e não conseguiu evitar que uma das suas mãos tocasse ao de leve o interior da blusa que cada vez mais se parecia querer desfazer. Num descontrole total do local, sentiu a outra mão desgovernada a descer pelo seu ventre em direcção a uma humidade chamativa. Aumentava o ritmo do toque e a pulsação da loucura. De pé, em frente a um quadro, entregava-se ao seu prazer despreocupado, sabendo que já não devia estar só. Esse pensamento parecia aumentar o nível de excitação.




Respondendo ao seu chamamento dançante, duas mãos fortes vindas de trás, agarraram com força os seus seios que gritavam por mais. Algumas palavras sussurradas ao ouvido, permitiram que toda a sua roupa abandonasse o seu corpo, como que por vontade própria. Não tirando os olhos do anestesiante quadro, sentiu nas costas um corpo nu que se esfregava em súplica lasciva. Segundos depois, era penetrada com volúpia numa violência pedida em gritos de prazer.

Trocados os papéis, eram agora os corpos do quadro que olhavam com inveja para aquela conjugação de casal. A fúria penetrante daquele viril membro, fazia da loucura interior o tempo esquecido. Ao compasso dos gritos roucos, sentiu os cabelos a serem puxados para trás numa cavalgada desenfreada. Estava quase, estava perto do auge e não queria que acabasse. No entanto, algumas investidas depois, explodia num orgasmo gritante pintado às cores que não via no quadro.

Ofegante do suor quente e do pensamento que ainda prazeria, sentiu aquele corpo a abandonar o seu sem uma palavra de despedida. Sorriu na satisfação do desconhecido e ajoelhou-se sobre a sua roupa que jazia inerte pelo chão.




Algumas pinceladas confusas depois, estava de novo a olhar para o quadro, já vestida e na mesma posição de admiração inicial. Ouviu uns passos atrás de si, e uma voz que não queria incomodar e que soava a muitos anos de vida, disse baixinho:

- A senhora desculpe, mas já fechámos há mais de 30 minutos. Como estava profundamente embevecida pelo quadro deixei-a ficar mais um pouco, mas agora tenho mesmo que fechar tudo.

Aquiescendo envergonhada, dirigiu-se para a saída dando uma última passagem na memória daquela imagem. Os seus olhos pararam pela primeira vez na legenda que estava na parede:

Visões nuas e inebriantes




2 Bilhetes Comentados:

Anónimo disse...

A cada conto acrescentas um ponto! Este foi o que gostei mais até agora. Estavas muitoooo inspirado.
Não foi um calorzinho, foi um calorão :)

Cláudia Paiva Silva disse...

Apoiadíssimo o comentário anterior...