A minha Quinta

Na minha quinta, que não é feira – embora hoje seja –, reina a paz e a harmonia entre os sobreviventes do holocausto urbano, que empurrou os habitantezinhos das barracas para a congregação de cimento no topo da quinta. Agora, já podemos brincar todos juntos: os ciganinhos, os pretinhos, os branquinhos de segunda, os branquinhos de primeira… todos! Como o prato nº31 do restaurante chinês, Família Feliz!




Como eu adoro correr por aqueles campos fora e vibrar com a natureza, com a comunhão de estar vivo entre os habitantes da minha quinta. Umas vezes partimos vidros de lojas e paragens de autocarro, outras vezes graffitamos as paredes, outras vezes assaltamos as garagens para roubar bicicletas, outras vezes morremos afogados no lago, também gostamos muito das pizzas que tiramos aos meninos de vermelho que passam naquelas motas muito engraçadas… só não andamos aos tiros uns com os outros, como nas outras quintas, mas também ainda estamos a aprender.

Na minha quinta, os animais cantam. E cantam bem! Andava eu muito contente a brincar às drogas e à prostituição, quando encontrei um baú de recordações ao lado do campo de futebol (imaginem só o tamanho da quinta!). Primeiro, pensei em parti-lo todo ao pontapé, como fazem os meus amigos, mas depois decidi espreitar para ver o que podia aproveitar para vender. Lá dentro, encontrei este lindo disco…




Deve ser do tempo em que os animais falavam, ou melhor cantavam, porque esta porcaria tem mau som e é só barulho. Tou pa ver como é que passo isto para o meu mp3 novo, que achei (tenho a certeza que foi achado porque vi um miúdo à procura dele) à porta de um colégio que fica mesmo ao lado da quinta. A minha mãe, diz que na capa é o meu tio Artur (antes de ser preso) encostado à barraca da minha avó, momentos antes de partir a fuça à pu** da minha tia (como ele dizia), que é a que vai ao fundo com o outro gajo. Vou deixar aqui para todos ouvirem, as melodias da minha quinta!



0 Bilhetes Comentados: